2 anos de equity crowdfunding

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8 min readJul 16, 2019

No dia 13 de julho a Instrução CVM nº588, marco regulatório do equity crowdfunding, completou 2 anos! Feliz aniversário! Aqui na SMU já organizamos uma festa, aproveitando que a data foi em um fim de semana. Nessa publicação, vamos dar um panorama da evolução e dos obstáculos do crowdfunding nesse período.

VIVA!

O que já alcançamos

Antes de qualquer regulamentação, é natural que não existam tantas empresas dispostas a participar do mercado. O espaço de manobra é mais flexível, mas também é mais difícil saber os limites que a empresa pode adentrar ou não, e há muita incerteza jurídica. Por isso, é natural que vejamos um aumento expressivo no número de plataformas no mercado.

Número de plataformas de equity crowdfunding no Brasil (07/19)

Um crescimento de 250% em apenas 3 anos. Ainda temos muito o que crescer, é verdade. Na Suíça, por exemplo, são mais de 40 plataformas de equity crowdfunding. O fato de que o mercado ainda está começando no Brasil também se reflete no montante levantado por região no mundo, em dólares.

Valor captado em equity crowdfunding (EUA, Latam, Europa, África, Ásia, Austrália)

Ou seja, ainda temos um longo caminho a percorrer. Mas isso não quer dizer que não estamos avançando muito bem. Os números abaixo são muito animadores, e mostram o grande potencial de crescimento do crowdfunding no Brasil.

O número de investidores cresceu 715% desde a ICVM nº 588, o que representa uma maior democratização do do investimento em startups. Antes do equity crowdfunding, era virtualmente impossível para uma pessoa física com renda média investir nesse tipo de negócio. A primeira vez que um “investidor comum” conseguiu entrar no Uber foi no IPO, em 2019. Quem investiu antes disso foram grandes fundos de venture capital, ou pessoas com altíssimo poder aquisitivo. Por isso é muito animador ver esses três gráficos:

Captações encerradas com sucesso
A queda do valor médio mostra uma maior democratização
Número de investidores por oferta

Aqui na SMU vemos esses números no dia a dia. Lady Driver passou dos 900 investidores, muitos dos quais são as motoristas e usuárias do aplicativo. O crowdfunding traz a empresa para perto dos seus usuários, criando um senso de comunidade maior. É muito satisfatório ver que, aos poucos, estamos conseguindo abrir um mercado tradicionalmente fechado como o de venture capital.

Parcerias Importantes

Temos visto uma aceitação cada vez maior do mercado de investimentos ao equity crowdfunding também. Aceleradoras, e fundos de investimento estão cada vez mais interessados em fazer parte dessa nova modalidade, por alguns motivos.

Primeiro, empresas de crowdfunding podem ser uma ótima opção para captação de empresas que já estão no portfolio. Temos uma parceria com a Bossa Nova e com a Superjobs, dois grandes fundos de investimento em startups. Investidores podem entrar nessas empresas sabendo que elas já tem o respaldo de grandes players do mercado.

Segundo, preparamos a empresa para estágios posteriores de investimento. Nossos fundadores e funcionários tem ampla experiência em mercado financeiro e de capitais, e podem aconselhar as empresas em termos de valuation, governança, estrutura societária, e muitos outros aspectos. Isso prepara as empresas para rodadas posteriores de investimento, na qual elas irão falar com grandes fundos, como Monashees e Redpoint.

Equity Crowdfunding e Investimento Anjo

Enquanto o equity crowdfunding se encontra em franca expansão, o investimento anjo no Brasil teve seu primeiro retrocesso em 10 anos. Uma pesquisa da Anjos do Brasil mostra que o volume foi de R$979 milhões em 2018, uma queda de 0,4% em relação ao ano passado.

Trata-se de uma tendência global, de maior democratização e distribuição dos serviços no mundo. O Uber é o maior aplicativo de transporte do mundo, competindo com os táxis. O Airbnb é a maior rede de hospedagem do mundo, superando os hotéis. Vários setores da economia estão se transformando para um modelo de plataforma, em que as pessoas interagem diretamente, sem intermediários. O equity crowdfunding é essa tendência no mundo de investimentos em empresas de alto potencial de crescimento, um “clube” antes muito restrito.

A SMU

A SMU possui um rigoroso processo de seleção de startups. O nosso CEO, Rodrigo Carneiro, escreveu um excelente artigo sobre como selecionamos as empresas para captação.

A principal ferramenta que a SMU pode oferecer para os empreendedores nesse caso é nossa expertise. Ajudamos a definir o valor da empresa e a % a ser ofertada com base em dezenas de captações que já fizemos, no setor de bebidas, transporte, alimentação…

Essa é apenas uma das competências da SMU. Como dissemos, fazemos o possível para preparar as empresas para as próximas rodadas de investimento. O equity crowdfunding está em uma posição única para isso. Com investimentos na casa dos R$1–4 milhões, são maiores que anjos e menores que um series A (rodada em que fundos maiores como Monashees e Redpoint entram). Fazemos sugestões no modelo de governança da empresa, bem como em aspectos jurídicos e financeiros. Aos poucos vamos nos consolidando como uma “ponte” entre esses dois estágios de financiamento.

E boas notícias! No primeiro semestre de 2019, a SMU captou mais do que em todo o resto da história da empresa, desde 2014. Queremos dividir algumas histórias de sucesso desse período com vocês.

Lady Driver

Imagine a oportunidade de investir no Uber quando ele valia alguns milhões. A valorização do seu investimento teria sido comparável com os retornos de qualquer criptomoeda. Na SMU, os usuários conseguiram investir na Lady Driver, aplicativo de transporte exclusivo para mulheres. Em fase de rápida expansão, as usuárias foram as que mais se engajaram — 75% dos investidores dessa empresa são mulheres. Levantaram quase R$2,5 milhões em uma questão de meses.

Apptite

A Apptite é mais um aplicativo de entrega de comida, mas focado em chefs e comida artesanal. Foi uma das captações de maior sucesso do Brasil, levantando R$3 milhões em poucas semanas. Os usuários do aplicativo também responderam de forma excelente à captação, e muito desse valor foi de pessoas que usam o aplicativo para pedir ou vender comida.

Os Desafios

Estigma das Empresas

Muitos empreendedores com quem falamos não gostam de levantar fundos por meio de equity crowdfunding. Eles dizem que recorrer a essa alternativa pode parecer “desespero”, e que investidores em rodadas futuras podem olhar para suas empresas de uma maneira diferente, como se eles não tivessem conseguido levantar capital com investidores “de verdade”.

A resposta que costumamos dar é que equity crowdfunding é uma forma excelente de engajar seus usuários, e fazer com que eles sejam seus primeiros investidores. O empreendedor que opta por essa modalidade não necessariamente está com falta de opções de investimento, ele sabe que transformar seus usuários em investidores pode ser um ótimo negócio. Como sócios, eles são mais incentivados a trazer outros usuários e a falar sobre o produto.

Além disso, o crowdfunding é uma ótima forma de complementar uma rodada já existente. Se o empreendedor já tem, digamos, R$2 milhões prometidos por investidores de venture capital, usar o crowdfunding para aumentar esse valor para R$3 milhões é uma possibilidade.

As captações recentes mostram isso. Lady Driver não possuía escassez de investidores. Na verdade, uma série de VCs estava fazendo fila para investir. Temos a mesma situação com Apptite. Quanto mais casos de sucesso tivermos, menor será o estigma sobre o equity crowdfunding.

Estigma dos investidores

Existe um “mito urbano” entre alguns venture capitalists que o investidor médio não estaria qualificado para investir em startups. Esse tipo de pensamento nos traz calafrios na SMU.

Um investidor profissional pode analisar startups profissionalmente, é verdade. Mas ele não é usuário dos aplicativos. Ele, ou mesmo ela, pode não saber quão incrível é a solução da Lady Driver para mulheres que se sentem inseguras andando de Uber durante a madrugada. Ele pode não saber como é ser um chef e de repente estar ganhando R$30 mil por mês, por que a Apptite permite. Não é possível que em uma ou duas horas de reunião o “investidor profissional” avalie isso. Somente os usuários vão entender, e por isso eles entram em peso na startup.

Os próximos passos

Aumento do limite de captação

Estamos nos aproximando cada vez mais do limite de R$5 milhões anuais para captação que a ICVM nº588 traz. A Lady Driver captou R$2,5 milhões na SMU. A Mutual captou R$4 milhões em algumas semanas, em outra plataforma. Nossa oferta da Apptite está caminhando para bater esse recorde. Em breve veremos captações de R$ 5 milhões ocorrendo naturalmente.

O crescimento do crowdfunding, se continuar no ritmo atual, em breve comportará captações bem maiores. Para isso, teremos que atualizar a ICVM nº588, e nos acostumarmos a ser uma alternativa para grandes rodadas de investimento. De todos os problemas que temos, é um daqueles que da melhor categoria possível.

Mercado secundário

Uma das principais objeções que vemos ao investimento em startups é o longo prazo necessário. São de 5–10 anos até que os investidores possam realizar seu aporte nas startups. Saídas em rodadas futuras são raras, e a possibilidade de vender suas cotas a outros interessados é muito restrita. Esse longo prazo não é um problema para a maior parte dos fundos, nem para investidores de grande porte, mas pode ser um elemento decisivo no investimento de uma pessoa física.

Por isso um mercado secundário, em que as participações de startups sejam negociadas de forma ordenada e com controles adequados, seria um dos passos mais importantes para o desenvolvimento do mercado. Seria uma segurança a mais para o investidor saber que, se ele precisar, pode receber seu investimento de volta, quem sabe até com um pequeno lucro.

Novos produtos

Conforme as plataformas de equity crowdfunding vão se consolidando, surge a natural questão das possibilidades de expansão. Felizmente são diversos caminhos possíveis: ativos de energia, precatórios, securitização de dívidas… Todos esses modelos são muito interessantes para complementar a carteira de plataformas como a SMU. Inclusive fizemos a captação da Radix, um caso curioso. Trata-se de um ativo florestal, que daqui a alguns anos trará retorno ao investidor.

Temos consciência de que ainda devemos explorar todo o potencial do financiamento coletivo em troca de participação acionária. Nosso foco é claro, mas sempre mantendo um olho nas possibilidades 👀

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