Será que dá pra investir e fazer o bem?

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7 min readNov 27, 2020

A tecnologia revolucionou nossa forma de consumir, nos relacionar e informar. Quando enumeramos suas virtudes, costumamos ressaltar sua capacidade para nos conectar, entreter e facilitar nossa vida. Porém, já parou para pensar no enorme potencial que ela oferece ao converter o mundo em um lugar mais justo, igualitário, sustentável e próspero para todos, resolvendo grandes problemas sociais e ambientais?

Nos últimos anos, houve uma mudança significativa na percepção sobre o papel das empresas na sociedade. A visão de que a única responsabilidade social era o aumento dos lucros, lançada em 1970 por Milton Friedman, um dos economistas mais influentes da segunda metade do século 20, já está ultrapassada. Hoje, cada vez mais CEOs e investidores estão adquirindo uma visão de longo prazo quanto ao sucesso e impacto social de suas empresas, além da criação de empresas do zero com um foco principal: o impacto.

Muitos dos estigmas vinculados a esse segmento é que empresas que buscam causar impacto social não tem intenção de gerar lucro, ou seja, também são organizações sem fins lucrativos. Porém, um novo setor chamado de 2.5 foi criado, sendo uma referência aos negócios de impacto e negócios sociais. Ou seja, empreendimentos que se colocam intermediários no espectro de “Non Profit” e “For Profit” tradicionais, buscando gerar lucro no processo (Wylinka e Flourish, 2018). Além disso, o crescimento do número de investimentos mundialmente nesse segmento está se provando que sim, é possível gerar caixa e ao mesmo tempo impactar positivamente a sociedade.

Definindo negócios sociais e startups de impacto

De acordo com a Artemísia, uma das principais aceleradoras do segmento no Brasil, negócios de impacto social são “empresas que oferecem, de forma intencional, soluções escaláveis para problemas sociais da população de baixa renda”.

A Carta de Princípios para Negócios de Impacto no Brasil — elaborada pela Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto — estabelece que “negócios de Impacto são empreendimentos que têm a missão explícita de gerar impacto socioambiental ao mesmo tempo em que produzem resultado financeiro positivo de forma sustentável.”

Além de negócios sociais, vemos um subsegmento dentro dele que são as startups de impacto social. Elas podem ser definidas como empresas (plataformas, softwares e/ou ferramentas online) com modelos escaláveis e repetíveis que buscam utilizar a tecnologia para implementar melhorias sociais, impactar comunidades, trabalhar a conscientização coletiva em vários aspectos e confrontar problemas ao redor do mundo, que podem ser pequenos ou gigantescos, dependendo da classe social da população e do país em questão.

Seus propósitos podem estar relacionados com a redução da pobreza; promoção de cidadania; acesso à saúde, educação, emprego, moradia; com uma produção econômica sustentável, respeitando o meio ambiente. Sua atuação empresarial visa acabar ou, ao menos, mitigar uma situação de vulnerabilidade social.

Investimentos de Impacto

O termo “investimento de impacto” foi usado pela primeira vez em 2007, conceitualizando a prática como “investimentos feitos com a intenção de gerar investimentos sociais positivos e mensuráveis e impactos ambientais, juntamente com retornos financeiros” (Inside Impacto, 2020).

Porém, até hoje há ainda grandes mitos ligados ao investimento em startups de impacto social. Há uma concepção errônea de que os retornos são menores quando comparados a outros investimentos semelhantes feitos. Porém, estudos demonstraram que os investimentos de impacto obtêm saídas por volta de cinco anos, o que é aproximadamente o mesmo tempo que outros investimentos em startups (Your Story, 2020).

O investimento de impacto também está ganhando terreno através de investimentos privados e públicos, e ultrapassou US$ 500 bilhões em 2019 (Your Story, 2020). Além disso, de acordo com um relatório da rede internacional 2030Vision, caso a tecnologia social (produto, método, processo ou técnica criados para solucionar algum tipo de problema social) consiga cumprir os 17 ODS da ONU, as soluções digitais gerariam US$ 2,1 bilhões anuais mundialmente.

O relatório “Impact Investing Trends” produzido pelo Global Impact Investing Network (GIIN), mostra que os ativos investidos em NI (Negócios de Impacto) cresceram de 25,4 para 35,5 bilhões de dólares de 2013 para 2015, em um universo de 61 respondentes. Já o relatório “Annual Impact Investor Survey” (2017), da mesma organização, levantou a cifra de cerca de 114 bilhões de dólares de ativos gerenciados por 208 organizações entrevistadas. Em 2018, foram 229 respondentes que somaram US$228 bilhões em ativos investidos.

Já o Panorama do Setor de Investimento de Impacto na América Latina (2014 -2015) produzido pela Aspen Network of Development Entrepreneurs (ANDE), mostrou o crescimento no número de investidores de impacto no Brasil: em 2009, eram sete investidores ativos; em 2016, o número saltou para 29.

Apesar do desenvolvimento econômico, o Brasil é um país com altas taxas de desenvolvimento social desigualdade, colocando-a em uma posição de destaque para investimentos de impacto. As oportunidades no país são enormes devido a sua extensão territorial, desenvolvimento econômico e diversidade de climas e biomas.

O investimento de impacto ainda é um mercado emergente no Brasil que, em 2018, tinha US$ 343 milhões em ativos sob gestão, de acordo com um estudo da Rede Aspen de Empreendedores de Desenvolvimento (ANDE) em parceria com a Associação para Investimento de capital privado na América Latina. (LAVCA)

São diversas instituições realizando trabalhos de aceleração e fomento de negócios no país, como é o caso da Artemísia, Yunus Negócios Sociais, além de Quintessa, BlackRocks, Impact Hub e muitos outros. Há também muitos fundos de investimento focados em investimento de impacto, como Vox Capital, Antera, Axxon Group, Kaete Investimentos, Mov Investimentos, Performa Investimentos, LGT Impact, Wright Capital, Vinci Partners e X8 Investimentos. Eles têm adquirido maior importância e volume, dentro de um ecossistema que conta com mais de 1000 negócios, segundo informações do 2º Mapa de Negócios de Impacto, realizado pela Pipe Social.

Conheça startups de Impacto Social

As empresas, já guiadas pelo mote da transformação digital, também estão começando aos poucos a olhar para a inovação social e enxergar valor estratégico nos novos negócios que estão surgindo, presença que naturalmente atrai para o segmento atores de diversas categorias.

Abaixo trouxemos 5 empresas que estão revolucionando os setores que estão inseridas, usando a tecnologia para causar um impacto social na educação, finanças, saúde e muito mais. Os exemplos que usaremos vêm de diferentes segmentos, porém, todos têm em comum o desejo de contribuir para o desenvolvimento social do nosso país. Para investidores interessados nesse setor, vale a pena ficar de olho no crescimento das startups mencionadas.

Kickante

A Kickante é uma plataforma de financiamento coletivo criada no Brasil em 2013. Ela é hoje uma das principais desse segmento no país com uma arrecadação acima de 57 milhões de reais para milhares de causas, artistas e empreendedores no Brasil, e também detentora do recorde da América Latina com R$ 1 milhão arrecadados em uma campanha. A empresa, até 2017, teria recebido R$4 milhões de aportes de investidores-anjo para seu crescimento.

SuperOpa

Com sede em Campinas, a SuperOpa é um marketplace que utiliza a tecnologia para mapear produtos que estão próximos do vencimento dentro do varejo ou da distribuição, direcionando para um público que necessita de um mix de compra mais barato (por exemplo classes B e C). Eles auxiliam varejistas e distribuidoras não só a vender esses produtos, mas também a trazer credibilidade da qualidade dos mesmos e entrega ao consumidor final através de logística expressa. A empresa busca contribuir com o bem estar e meio ambiente, pela redução do desperdício de alimentos e os recursos envolvidos em sua produção e otimizar a cadeia de suprimentos do setor, reduzindo suas perdas com logística reversa.

Abrace Uma Causa

Com sede em São Paulo, a startup criou uma plataforma que permite pessoas físicas realizarem doações com abatimento do imposto de renda de uma forma simples e 100% online, mecanismo muito usado pelas empresas, mas ainda pouco popular entre as pessoas, por conta da dificuldade e falta de informação. A empresa atua, principalmente, em parecia com grandes empresas na criação de campanhas de engajamento corporativo, trazendo mais confiança, segurança e facilidade para os doadores. São mais de 50 empresas parceiras e mais de 300 organizações sociais espalhadas pelo país que atendem juntas mais de 600 mil pessoas. Desde seu lançamento, em 2018, já direcionou mais de R$ 15 milhões em doações ao terceiro setor.

O Polen

Com sede em Curitiba, O Polen torna possível que ao efetuar uma compra online, uma porcentagem do valor, que varia entre R$1 e 1% do valor gasto, é direcionado à uma instituição social cadastrada. Até hoje, mais de 300 instituições foram beneficiadas e, ao todo, mais de R$ 340 mil foram doados. Segundo a própria empresa, é comprovado que 94% dos consumidores brasileiros preferem efetuar compras em lojas que têm alguma importância social. No início de 2020, a empresa recebeu R$380 mil em rodada de investimento da GV Angels, Bossa Nova, Angels4Impact, Curitiba Angels e investidores independentes.

Quero Quitar

O Quero Quitar, que tem sede em São Paulo, é uma plataforma totalmente digital, que ajuda pessoas endividadas a quitarem seus débitos. A startup conta com uma série de empresas parceiras, que permite que seus devedores encontrem suas dívidas, simulem formas de pagamentos e façam ofertas através da sua plataforma. Tudo rápido e sem precisar sair de casa.

O mundo está mudando. Uma pesquisa do Instituto Morgan Stanley revelou que 60% dos millennials buscam trabalhar em empresas cuja perspectiva de responsabilidade social se alinha à sua própria visão. Além disso, 82% consideram importante que as empresas promovam a saúde e o bem-estar dos clientes e funcionários por meio de seu portfólio de investimentos.

Agora, é mais necessário do que nunca influenciar e acelerar todos os tipos de negócios para o bem. Se você já investe em startups, vale a pena conhecer mais esse segmento, não só pela sua tendência de crescimento e retorno financeiro, mas também por ter a possibilidade de participar da criação de um mundo melhor para as gerações futuras.

E aí, qual startup de impacto você gostaria de ver por aqui na SMU?

Texto por Isabella Vasques

Fontes:

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