Richard Pryor: Omit the Logic

Eduardo Branco
Sobre Comédia
Published in
4 min readJan 15, 2015

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Se Lenny Bruce é considerado um dos maiores comediantes stand up da história por quebrar barreiras ao falar sobre assuntos controversos numa época em que ninguém mais falava, Richard Pryor pegou essas barreiras e mandou todas elas chuparem o seu p**.

Eleito em 2004 pelo canal Comedy Central como o maior comediante Stand Up de todos os tempos, independentemente de você concordar com listas ou não (eu, particularmente, acho a maioria delas desnecessárias ou equivocadas), Richard Pryor foi um dos comediantes mais honestos a se apresentar nos palcos, e um daqueles cuja influência pode ser mais observada na comédia atual. Sem Richard Pryor não teríamos Chris Rock, Eddie Murphy, Dave Chappelle, etc. e a gama de influenciados não fica limitada aos comediantes negros, apesar de nesses casos ela ficar mais evidente.

Nascido numa área pobre de Peoria, Illinois, Richard Pryor foi abandonado aos 10 anos por sua mãe, que era prostituta. Desde então passou a ser criado por sua avó — que era dona de um prostíbulo. Conhecendo a infância problemática de Pryor, sua intensidade e os palavrões utilizados nos seus textos se tornam totalmente justificáveis enquanto composição de seu material, até por que esses elementos não parecem forçados em momento nenhum de suas rotinas, ficando quase impossível separar sua real personalidade de sua persona no palco.

Pryor era um excelente contador de histórias, e conseguia se manter real o tempo todo. Isso conquistou o grande público, deixando-o muito popular e fazendo com que conseguisse papéis em vários filmes nas décadas de 70 e 80, chegando a se tornar o ator negro mais bem pago em Hollywood durante um período dos anos 80.

Exibido originalmente no canal de TV à cabo Showtime e com direção de Marina Zenovich, “Richard Pryor: Omit the Logic” de 2013, é o documentário mais recente dedicado à carreira e vida pessoal do comediante.

Richard Pryor: Omit the Logic tem um formato bastante comum para documentários, mostrando quase sempre de maneira linear a vida do protagonista e contando alguns de seus eventos mais marcantes: os já citados problemas que teve na infância; o sucesso repentino que obteve ainda jovem, nos anos em que seu estilo ainda era quase uma cópia do Bill Cosby; o momento em que influenciado pela contracultura do fim dos anos 60 decidiu que precisava definir seu estilo e expressar sua opinião como representante da comunidade negra; a batalha que enfrentava pra se sustentar numa Hollywood predominantemente branca e muitas vezes preconceituosa; seu vício em drogas e a vez em que ateou fogo em mais da metade do próprio corpo numa tentativa de suicídio enquanto se drogava com freebase (uma variação da cocaína que ficou bastante popular durante os anos 80 nos EUA); os problemas que tinha pra conseguir manter seu programa “The Richard Pryor Show” no ar, devido ao seu conteúdo controverso; os problemas financeiros que teve com seu agente; a frustração que sofreu ao ter o papel principal em Blazzing Sadles — icônico filme que escreveu junto com Mel Brooks — recusado pelos produtores da Warner Bros., por esses considerarem seu comportamento inadequado para seus padrões; seus vários casamentos fracassados; e, por fim, a esclerose múltipla, doença que o retirou aos poucos forçadamente dos palcos e culminou em sua morte em 2005, quando tinha 65 anos.

O filme ainda conta com depoimentos de alguns amigos próximos e grandes nomes da comédia, como Robin Willians, Dave Chappelle, Whoopi Goldberg, Quincy Jones, seu parceiro Paul Mooney, todos contando histórias da influência que Richard Pryor exerceu em suas carreiras, suas vidas e na maneira como a comédia é feita.

Uma das partes mais marcantes do filme é o momento em que aparece um Richard Pryor já bastante debilitado pela esclerose, recebendo o primeiro Prêmio Mark Twain de Humor Americano, em 1998. Damon Wayans, um dos apresentadores na ocasião, diz: “Eu queria ser como ele, exceto pelo vício em drogas, os casamentos fracassados, ​​o temperamento e as armas.”

O documentário consegue ser emocionante e interessante para os fãs de comédia e de Richard Pryor, apesar de não se aprofundar muito nos detalhes que conta de sua trajetória. Mas se levarmos em consideração a vida intensa que ele teve, talvez 1h e 20min não sejam suficientes para contar sua história. Para quem ainda não conhece o trabalho de Richard Pryor, Omit the Logic é uma excelente oportunidade para começar a se interessar e a conhecer o material de um dos melhores e mais influentes comediantes da história.

Originally published at sobrecomedia.com on November 18, 2013.

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Eduardo Branco
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desenho e escrevo. não necessariamente nessa ordem