sergio larrain: um retângulo na mão
Sabe aquela ideia de sair pela rua com a câmera e fotografar o prosaico e o inesperado com beleza? O chileno Sergio Larrain foi um mestre nessa arte. A exposição "Um retângulo na mão", em cartaz no Instituto Moreira Salles até 25 de agosto, sintetiza bem o que fotógrafo fazia com primazia: enquadrar. Os enquadramos inventivos e certeiros em todas as regras que regem as leis da fotografia (três quartos, ponto de ouro, etc) estão ali presentes. E ele soube também como quebrar as regras com muita propriedade, colocando a figura no primeiro plano fora de foco, cortando rostos pela metade.
Nascido em uma família da elite chilena, Larrain pôde escolher um pouco o seu caminho. Depois de passar pela experiência de ser fotógrafo da agência Magnum — e foi convidado pelo próprio Cartier-Bresson — percebeu que a vida de correr atrás de pautas para fotografar e vender não era exatamente o que queria fazer. E talvez até por isso sua produção seja tão enxuta. Fotografou quando, como e o que quis. A série mais interessante é a das crianças pobres e de rua. O que Larrain registrou não em uma condição de piedade ou denuncia. Mas no estado de liberdade. Mesma liberdade que ele queria ter em suas fotografias.
"Primeiro de tudo, é ter uma máquina que lhe agrade, a que mais lhe agrade. Porque se trata de estar contente com o corpo, com o que se tem nas mãos. O instrumento é capital para quem exerce um ofício. E que seja o mínimo, o indispensável, e nada mais"
Escreveu ao sobrinho Sebastián, em 1982.