Lendo Murakami (24/04/2021)

Matheus Galvão
Sobre Livros e Escrita
2 min readApr 24, 2021
Haruki Murakami escreveu Caçando Carneiros, Norwegian Wood e Kafka à beira-mar.

Nunca tinha lido nada de Haruki Murakami até certo tempo.

Na verdade, começara a ler um conto dele, tempos atrás, mas não terminei. Lembro de ter gostado bastante da escrita, mas não concluí a leitura. Creio que não tivesse a maturidade suficiente.

Os textos de Murakami não são para qualquer pessoa. O fato de o autor japonês imprimir uma forte temática existencial e usar recursos surreais pode não agradar aqueles que gostam de uma literatura "redonda", convencional e linear.

Estou lendo um de seus romances: Caçando Carneiros. É o primeiro romance dele que leio. Estou completando quase um terço do livro. Devo dizer que estou prestes a considerar Murakami meu autor favorito.

O fato de eu criar empatia com o personagem sem nome é surpreendente. A minha impressão é que Murakami escreve da mesma forma como alguém escreve um diário.

As linhas sucintas, objetivas, favorecem a fome por mais um pedacinho da história, mas não deixam de imprimir visões metafísicas que nos levam a flutuar.

Comigo tem sido assim.

Enquanto leio — e devo dizer que li com mais rapidez do que de costume — sinto como as reflexões que ele faz por meio de seus personagens são universais. Reflexões do tipo que todos têm, mas não têm coragem de expressar.

A cada parágrafo com pensamentos desse tipo sinto como se estivesse a alguns metros do chão. Quase como se estivesse imergindo num processo meditativo — um transe.

Devo dizer que não gosto de escritores que são muito óbvios e entregam mistérios vazios ou se esforçam para te manter grudado no livro com recursos convencionais de gêneros literários.

Este trecho talvez resuma a minha satisfação em ler Murakami.

Toda mulher nasce acoplada com um gavetinha atulhada de bugigangas que não têm muito sentido. Eu as adoro por isso. Sou capaz de puxar cada uma das bugigangas para fora das gavetinhas, espanar a poeira acumulada e investigar-lhes o sentido. Nisso, acho, consiste a verdadeira natureza do meu sex appeal. E daí? Daí nada. Só me resta deixar de ser o que sou.

Um subtexto extremamente bem trabalhado, poético e nada óbvio. Murakami não é para quem gosta do óbvio.

Anseio pelo final do livro e por mais livros dele.

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