Assistencialismo ou Educação?

Bruno Roberto
Sobre : Opinião
Published in
3 min readNov 13, 2014

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Antes de iniciar a leitura do texto, leve como premissa que eu não estou incluindo aqueles com necessidades físicas ou mentais na categoria das pessoas que recebem assistencialismo, pois estes realmente precisam. O objetivo do texto é discutir o assistencialismo para pessoas saudáveis e mentalmente capazes.

Assistencialismo = ação de pessoas, organizações governamentais ou entidades da sociedade civil junto as camadas mais pobres da comunidade, com objetivo de apoiar ou ajudar de forma pontual, oferecendo alimentos, medicamentos, entre outros gêneros de primeira necessidade, não transformando a realidade social

Não é uma crítica aos que doam e ajudam os menos favorecidos. De forma alguma! Muitas e muitas pessoas necessitam de uma ajuda temporária em algum momento da sua vida, seja por desemprego, por tragédias, por problemas familiares, por falta de instrução. Na verdade esse texto é para aqueles que querem ir além. Que querem uma solução de fato. Nós, como sociedade, não podemos nos contentar em doar bens materiais e financeiros para aqueles que ganham menos do que nós e achar que isso resolve o mundo. Vamos pensar um instante?

O modo como o assistencialismo é feito utilizando-se de doações (voluntárias ou involuntárias) realmente resolve o problema ou só ajuda a atenuá-la? Afinal, a desigualdade que criou a necessidade de haver esse assistencialismo está sendo combatida de alguma forma ou estamos apenas remediando seus efeitos dia após dia, enquanto a raiz do problema continua gerando novas necessidades de assistencialismo?

Imagine-se na situação de uma pessoa que recebe assistencialismo. Seja uma cesta básica, um depósito do governo na sua conta, roupas ou qualquer outra coisa. Com o tempo, esse assistencialismo passa a fazer parte do seu cotidiano. Voce passa a enxergar não mais como assistencialismo e sim como uma obrigação, pois do contrário como você viveria sua vida daquela forma? O ser humano é uma criatura de hábitos. Nós rapidamente nos adaptamos e nos habituamos. Paramos de buscar alternativas para suprir aquela necessidade e nos tornamos um parasita do hospedeiro. Claro que há alguns, que mesmo sendo assistidos, continuam buscando formas de melhorar e progredir sem necessitar daquilo. Mas isso, estatisticamente, representa uma pequena parcela dos assistidos.

Ok, voce pode argumentar comigo que não consegue mudar o mundo sozinho, certo? Mas será que não existem outras formas de nós, sociedade, contribuir com os mais necessitados, que não seja provendo todos os meses aquilo que ele não consegue por falta de condições financeiras?

Uma pequena reflexão: porque existem tantas instituições e ONGs que realizam o assistencialismo das necessidades básicas, mas tão poucas que realizam o assistencialismo de prover condições para que a pessoa saia da sua condição de assistida e passe a cuidar de si sozinha? Afinal o que é melhor: uma sociedade que ajuda e incentiva a sermos todos seres humanos independentes e donos de si ou uma sociedade em que pensamos que devemos ser assistidos e somos vítimas das circunstâncias e do ambiente?

Se deres um peixe a um homem faminto, vais alimentá-lo por um dia. Se o ensinares a pescar, vais alimentá-lo toda a vida.
Lao-Tsé

Quando eu digo ensinar a pescar o que quero dizer? Será que é somente exigir que ele faça o ensino fundamental e médio, uma faculdade e achar que tudo estará resolvido? Acho que no fundo você sabe a resposta.

Não estou aqui pregando que devemos largar os que necessitam à sua própria sorte. Mas sim devemos ir além e discutir como podemos resolver o problema para minimizar ou para que deixe de existir assistencialismo para pessoas aptas e capazes. Senão corremos o risco de cada vez mais, ver disseminada a doença que tem acometido muitas pessoas no mundo, conhecida como "coitadismo". Uma doença sorrateira e cruel, que transforma todos seus infectados em vítimas, que passam a culpar o mundo e as demais pessoas por todos os seus problemas, para obter atenção, conforto e a piedade daqueles que se encontram em situação melhor.

Na minha opinião pessoal, doar seu conhecimento e o seu tempo são bens mais preciosos e importantes para quem precisa, do que mês após mês, depositar uma quantia para uma instituição e achar que algo vai mudar.

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