O Gigante irá acordar novamente?

Uma opinião sincera de como será a Copa do Mundo no Brasil.

Bruno Lagroteria
3 min readJan 29, 2014

Estamos há apenas alguns meses da Copa do Mundo. Tão comentada, propagandeada, aguardada, discutida. Indicamos nosso descontentamento no ano passado. Acordamos, fomos às ruas, quebramos muita coisa, xingamos muito no Twitter/Facebook, mostramos o despreparo da polícia, evidenciamos a falta de comprometimento dos políticos. E agora??

Criamos calendários malucos durante os meses de Junho e Julho para não parar o país e causar desconforto pros turistas. Os calendários já pipocam por todos os lugares da internet. Nada oficial. As empresas ainda não sabem o que fazer. Liberam? Reúnem todos dentro da empresa para os dias dos jogos, assim não perdem o dia de trabalho? E as multinacionais? E as grandes redes de varejo? E as transportadoras? Metalúrgicas? Podem parar por 1 mês suas atividades? Antecipamos as aulas para poder liberar os estudantes durante todo o evento, assim diminuímos o transito, diminuímos a superlotação do transporte público. Maquiaremos nossos problemas mantendo as pessoas em casa. Grande idéia. Afinal, que imagem os gringos teriam de nosso país?

Não melhoramos nosso transporte público. Não melhoramos nosso trânsito. Ele continua tão ruim ou pior do que no anúncio da Copa. Não melhoramos a infraestrutura de hotéis. Foram abertos meia dúzia deles para atender a demanda da Copa. Os que já existiam não treinaram seu pessoal para falar outras línguas, nem para atender melhor. Nossos aeroportos operam acima ou próximo da capacidade atual. Em feriados normais já estamos tendo problemas com os sistemas das cias. aéreas, assim como atrasos e filas.
Os taxistas já anunciaram o velho esquema para “dia de evento”:
— O dobro do triplo ou nada. Taxímetro desligado. Corrida fechada comigo, doutor, ninguém faz esse preço, só eu.
as locadoras de carros lambem os beiços e aumentam suas frotas.
Os flanelinhas, ambulantes, vendedores de rua e oportunistas já montam seus planos para faturar alto durante todo o mês do evento.

Mas tudo bem. Temos caipirinha à vontade. Bebam o quanto puderem. Olha, temos o samba! Vejam aquela mulata globeleza sambando, que maravilha. Que país lindo. Vejam aqueles garotos jogando o verdadeiro futebol muleque na areia. Olhem nossas praias que belo espetáculo da natureza. Venham saborear nossa variedade de pratos e comidas nos mais diferentes restaurantes. Tudo pelo triplo do dobro, mas você paga em dólar e euro, né doutor. É justo. Sintam o calor e receptividade do nosso povo. Sempre sorridentes, cordiais e alegres, como se vivessem no paraíso. Ávidos pelas fartas cédulas jorrando de dentro das carteiras gulosas dos turistas.

Com ou sem protestos, a Copa irá acontecer, quer você queira ou não. Teremos a boa e velha truculência coercitiva para impedir qualquer grupo de sequer chegar perto dos estádios. Tem alguma dúvida? A pergunta é:

Servirá esse grande evento de repercussão mundial como um estopim de nossos descontentamentos? Do fim do cala a boca e trabalha pelo seu salário? Do fim da submissão? Do trânsito parado? Dos ônibus, trens e metrôs superlotados? O fim do jeitinho brasileiro? O fim da malandragem? Fim da cegueira seletiva para os problemas crônicos? Teremos alguma mudança significativa no nosso país após esse evento? Teremos novas leis, mais transparência, mais democracia de verdade? Teremos mais justiça? Políticos melhores? Maior crescimento? Nos sentiremos mais nacionalistas e brigaremos o resto de nossas vidas por um país de primeiro mundo?

Eu duvido muito. Assim como no primeiro episódio, não haverá revolução. Iremos acordar, ir pra rua, bagunçar todo o quintal de casa e em seguida, voltar a dormir enquanto eles jogam a sujeira para baixo do tapete, colocam ordem na casa e voltamos ao velho Brasil de sempre.

No fim estaremos todos comemorando o resultado da seleção canarinho com rojões e gritos de Gol! pelas ruas. E no dia seguinte estaremos de volta às nossas rotinas.

--

--