Black Friday em uma loja da Target, grande rede de varejo norte-americana. 2014.

Porque eu passo longe do Black Friday…

Uma pequena reflexão sobre o que esse evento representa no Brasil.

Bruno Lagroteria
Published in
5 min readNov 27, 2014

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Tudo começou em meados dos anos 80 nos Estados Unidos, ninguém sabe muito ao certo nem como nem por quem, mas para comemorar o início da época de maior compra do varejo (o Natal), os varejistas norte-americanos passaram a utilizar o primeiro dia pós-feriado de Ação de Graças (Thanksgiving) como um dia de grande faturamento com grandes promoções, lojas abertas desde madrugada e muitas outras ações para aumentar as vendas.

Com o passar do tempo, o evento se disseminou por todo o país e virou praticamente uma tradição. A sexta-feira após o feriado de Ação de Graças, se tornou um dia de muitas promoções e preços baixos, atraindo milhares de pessoas para as compras, desde eletrodomésticos, eletrônicos, brinquedos e itens de Natal. Hoje, o Black Friday, representa o dia de maior faturamento do varejo dos Estados Unidos em números absolutos.

Uma pequena introdução sobre como começou a data para entendermos o contexto.

Mas o que isso tem a ver com o Brasil? O feriado de Ação de Graças nem existe aqui. Onde entramos nessa história?

Em 2010, uma grande rede de varejo chamada B2W, trouxe o grande evento de vendas do ano, também intitulado Black Friday (uma cópia descarada dos americanos) na mesma data em que é comemorado lá fora. No primeiro ano, as promoções se limitaram ao universo de compras online e as lojas físicas não aderiram ao evento. Porém, em 2012 diversas redes de varejo e lojas físicas aderiram ao evento em uma tentativa de tornar a data conhecida e popular para os consumidores aqui no Brasil. Percebendo o sucesso de faturamento, ele continua a se expandir ano após ano e chega ao seu 5˚ano com um crescimento cada vez maior de faturamento e de número de lojas participando das promoções.

Até aqui tudo bem, a publicidade e a propaganda são a alma do varejo e sempre usam sua criatividade para criar motivos que nos façam comprar mais, principalmente se tratando do fim do ano (leia-se 13˚salário).

Qual o verdadeiro problema?

Primeiramente, o Brasil já possui uma época do ano em que são praticados grandes descontos e lojas abrindo cedo. Isso acontece, geralmente, com os grandes saldões pós-Natal e queimas de estoques antes do ano terminar. Algumas empresas já programam a época pré-Natal para lançar uma linha nova de produtos, dessa forma, no Black Friday muitas e muitas empresas vendem produtos que irão sair de linha logo mais, evitando um encalhe no estoque. Além do mais, como eu frisei, não existe Ação de Graças no Brasil, portanto, o evento na sexta não tem sentido algum (exceto o de marketing).

No entanto, existe um problema maior ainda no evento em si:

Falsos descontos

Pior do que criar um evento puramente publicitário, em que o maior motivo são grandes descontos e preços baixos, é ludibriar o consumidor a pensar que os preços são baixos e o desconto é grande, para que este caia na armadilha de comprar sem saber o valor real do produto.

Não só aumentando o "valor cheio" do produto para que o desconto pareça enorme, mas também criando propagandas em que o desconto é de até X%, mas apenas alguns produtos possuem esse desconto, e estes produtos são aqueles mais encalhados no estoque da loja (sim, as pessoas só compram porque o desconto é grande). A grosso modo, a média de descontos oferecidos no Black Friday não justifica a fama do evento, e fica devendo e muito para o que ocorre nos Estados Unidos.

E quem são os culpados por isso?

  1. O Consumidor
    Sim, você não leu errado. O primeiro culpado dessa palhaçada toda é você, caro consumidor, que vai correndo pra loja porque estão tendo grandes descontos e, de alguma forma, você espera ser mais esperto que os lojistas ingênuos que estão vendendo algum produto quase de graça. A ganância e a vontade de tirar vantagem de algo é tão grande, que muitas vezes acaba cegando e criando um impulso de comprar algo que você nem precisa. Ou pior, comprando algo achando que está fazendo um grande negócio, e pagando o mesmo valor que o mercado já pratica.
    Vamos colocar alguns pontos nos is aqui. Se o produto está realmente sendo vendido com um preço muito menor do que o normal, significa que a margem de lucro do lojista anteriormente era absurdamente alta! (ou que o produto vai sair de linha em breve)
    Assim, o lojista decidiu liquidar o produto pelo preço de custo ou uma margem de lucro baixa para não ficar no prejuízo depois. Simples assim.
  2. O Varejo
    Para aumentar cada vez mais o consumo, o mercado cria datas e eventos sem nexo algum, simplesmente para vender mais, e no caso brasileiro, absorver cada centavo do seu 13˚salário antes mesmo que você consiga parar pra pensar o que fazer com ele. Esses dias, tivemos diversas reportagens sobre o assunto e não é coincidência a criação dessa data exatamente após o recebimento da primeira parcela do 13˚.
    Porém, algumas empresas e lojas desonestas, aumentam o valor cheio do produto antes do evento ou cria um anúncio com descontos enormes (porém só para alguns produtos) mas a maioria dos itens tem um desconto de 5% ou 10%, que não representam nem de longe o anúncio, criando uma reputação de deslealdade e má fé por parte daqueles consumidores conscientes, que não saem torrando seu dinheiro simplesmente por se tratar de uma promoção.

Conclusão

Só compre no Black Friday se você realmente precisar daquilo, ou então vai presentear alguém, e somente se aquele produto realmente estiver mais barato do que o valor normal dele. Do contrário, eu recomendo ignorar a data. O apelo de marketing é enorme e massivo e tem como objetivo principal, criar senso de urgência para que assim você desligue qualquer filtro de consciência que seu cérebro possa utilizar para evitar a compra.

A chance de você estar sendo enganado ou comprando algo pelo simples impulso de comprar algo barato é muito maior do que você realmente estar fazendo um grande negócio.

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