Sobre um filme que assisti: Sob as Sombras — a angústia de mãe e filha em um terror acima da média.

Renato Nascimento
Sobre um
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4 min readOct 9, 2017

Está cada vez mais difícil o cinema emplacar algum thriller de terror que seja bom e que pelo menos renda alguns sustos ao espectador (salve o novo IT). Nesse quesito achar uma agulha no palheiro se torna uma tarefa árdua, porém no meio de tanto lixo (O culto de Chuck por exemplo) eis que encontrei Sob as sombras (ou Sob a Sombra, já vi traduzido de ambas as formas).

Não imaginaria que acharia em um filme Jordaniano (na verdade anglo-jordaniano-qatariano) o que esperava de um americano. Após o primeiro ato não pude imaginar o que viria a seguir, e nem do que de fato se tratava esse filme. Mas já o associei imediatamente a um filme antigo que gosto Água Negra, que tem uma história semelhante em abordar a relação mãe e filha enfrentando algo que não entendem. Porém esse o supera em vários quesitos, principalmente na relação das protagonistas que não é das melhores. A personagem principal tem que provar a si mesma que pode ser uma boa mãe ainda que isso tenha sido a única coisa que lhe restara após perder o direito de se formar em medicina.

Em meio à Guerra das Cidades em nome da revolução, entre Irã e Iraque, na Teerã de 1988, Shideh (Narges Rashidi) recebe um tapa da realidade quando descobre que não pode continuar seu curso de medicina, e se vê presa a uma vida de mãe e esposa que visivelmente não lhe completa. Iraj (Bobby Naderi) faz o papel do bom pai e marido ainda que numa sociedade machista onde as mulheres não possuem tantos direitos, e não podem sequer sair à noite na rua sozinhas independente de qualquer motivo. O filme questiona por diversas vezes a capacidade de Shideh em cuidar de Dorsa (Avin Manshadi) a própria filha, apesar de vermos que esta se esforça para ser uma boa mãe, apontando até mesmo a causa em uma possível má relação com sua mãe que morreu recentemente e o desejo da protagonista em não desaponta-la ainda que esteja de luto.

Não bastasse a sangrenta guerra Iraj, também médico, precisa trabalhar no epicentro do conflito deixando filha e esposa ainda mais receosas. Sozinhas em um prédio assustador que dia após dia fica mais deserto por ser abandonado pelos seus moradores, em busca de refúgio e paz, mãe e filha se veem enfrentando uma força maligna que deseja separa-las ainda mais e cuja única maneira de vence-la sendo unindo-se e confiando uma na outra.

Do que gostei:

Não é só um filme de terror. Ainda que cheio de momentos tensos, bons momentos de susto e uma pitada angustiante de mistério o filme não desaponta em mostrar os conflitos e problemas das personagens, que são bem trabalhadas, mostrando que no fim o grande vilão é na verdade a relação em frangalhos de ambas.

À medida que enfrentam esse desafio vemos ambas lidando com suas diferenças e percebendo que devem ficar unidas para fugir de tal mal. Ao final percebemos como Shideh vence seus obstáculos sendo ocultando a foto da mãe, ou percebendo que sua filha sim é mais importante que sua casa ou até mesmo que sua carreira.

Do que não gostei:

A trama demora um pouco a desenrolar, por isso o filme me pareceu confuso no começo, porém não decepciona nos outros atos. E ao meu ver o motivo de manter ambas as personagens presas à sua casa por tanto tempo, a perca de uma boneca, ainda que seja de fato importante encontra-la me pareceu bastante forçado, isso poderia ter sido resolvido mais rápido. Eu que não dormiria duas noites seguidas naquela casa. E apesar de Narges Rashidi nos mostrar que sua personagem é inquestionavelmente forte e decidida me parece que falta uma pitada a mais de desespero no último ato. Apesar de ela ter mostrado bastante pavor em uma cena anterior. Mas pode ser que simplesmente o fato da personagem ser uma mãe signifique que o medo de perder a filha seja maior que o medo do desconhecido.

Sob as sombras (Zir-e Sayeh no original) é o filme de terror/suspense que eu estava procurando e não te decepcionará, com a trama bem trabalhada e uma ótima fotografia. Dirigido e roteirizado por Babak Anvari, produzido e distribuído pela britânica Wigwan Films em 2016, teve sua primeira exibição no Festival Sundence de Cinema e foi até mesmo representante do Reino Unido ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2017 além de recentemente adquiro pela Netflix. Assista e não irá se arrepender.

Trailer com legendas em inglês

Lembrando que essa é apenas minha opinião! Conte a sua nos comentários e me diga do que gostou e do que não gostou!

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