Sobre Carl Barks

Juliano Souza Ribeiro
Sobre
Published in
4 min readSep 28, 2016

Carl Barks é um herói e um desconhecido. Digo, para mim. Eu aprendi a ler com os quadrinhos da Disney. Li muito Pato Donald, Pateta e Mickey. Donald e sua trupe eram os meus preferidos. O que torna o meu desconhecimento uma ironia.

Pato Donald sempre foi o meu preferido. Sua raiva, temperamento e contrariedade eram mais atrativas e divertidas do que as histórias do Mickey, que com seu bom mocismo me davam tédio. Isso quando eu tinha sete e oito anos.

Donald sempre foi incompreendido, se dava mal em tramas sendo inocente na maioria das vezes. Tico e Teco acabando com as plantação de maçãs de Donald porque queriam comer as frutas, e no final, todas as maçãs eram perdidas, os esquilos saíam felizes e Donald mal. E o que ele fez de errado? Nada. Odiava essas histórias.

O que eu posso dizer de Carl Barks? Povo, muito pouco, afinal, naquela época eu não acompanhava os escritores de quadrinhos como faço hoje. Mesmo assim Carl Barks sempre foi um nome que rondou as minhas leituras e referências para as minhas referências e amigos meus, como o Fábio Ochôa.

Na pesquisa para esse post, o Fábio Ochôa me mandou um texto que ele escreveu sobre Carl Barks, e minha tarefa para o “Sobre” começou a beirar o impossível. Ochôa disse que eu poderia usar alguns pontos, mas vou colocar o link aqui para vocês lerem o artigo dele, e me ater a importância que Carl Barks teve na minha alfabetização, e eu não sabia.

Eu leio quadrinhos desde antes de saber ler. Minha mãe me mandava para cama e eu pegava um gibi do Pato Donald ou do Tio Patinhas e “lia” os quadrinhos de cima para baixo, lia escondido. Quando eu comecei a ser alfabetizado, lá em Porto Alegre, cidade do Fábio Ochôa hoje, eu comecei a entender as palavras nos balões, e lembro que palavras como “prato” eu li-a “p-rato”. Na mesma época alguém me disse que a ordem de leitura era da esquerda para direita e de cima para baixo, e não de cima para baixo da esquerda para direita como eu fazia.

Todo esse período foi lendo Disney e principalmente Donald e Tio Patinhas, portanto, lendo Carl Barks. Voltamos para São Paulo, minha leitura melhorou e continuei lendo os gibis da Disney. Lembro de uma história que me abriu horizontes. Tio Patinhas, Donald e os sobrinhos vão para Machu Picchu, no Peru, procurar os tesouros secretos dos Incas. Não me lembro mais da trama exatamente, lembro que eles encontram uma caverna cheia de pedras que brilhavam e o Tio Patinhas ficava eufórico com a descoberta.

Mais tarde descobri que Machu Picchu existia de verdade, e não era somente uma criação para aquela história. Fiquei tão interessado que comecei a pesquisar sobre a cidade, sobre outras cidades perdidas, civilizações antigas, história, geografia, línguas mortas, religiões antigas e sociedades secretas porque li uma história do Carl Barks! Até hoje esses assuntos me interessam, estou lendo Passagens da Antiguidade ao Feudalismo de Perry Anderson. Fui a Machu Picchu, e quando estive lá eu me lembrei dessa história.

Não me penalizo por não ter reconhecido isso antes. Sempre li quadrinhos, mas naquela época eu não me ligava que havia uma autor para a história que que eu estava lendo. Comecei a olhar quem havia escrito, e desenhado, uma história em quadrinhos somente quando passei a ler Marvel e DC, nessa ordem.

Há outra consequência pelo fato de eu ter começado a ler com as histórias do Carl Barks. Eu costumo ir a eventos de quadrinhos, e sempre que calha de eu ver alguma palestra com a participação do Maurício de Sousa, ele sempre pergunta ao público quem aprendeu a ler com as histórias da Turma da Mônica. Já fui o único que não levantou a mão… Obrigado Carl!

--

--