Sobre… Corretores Eletrônicos

Marcio Sampayo
Sobre
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4 min readSep 28, 2016

Não se pode deter o avanço tecnológico.

Sou de uma geração onde o vídeo game era o Atari, uma linha telefônica fixa era um investimento declarado em Imposto de Renda e se você quisesse brincar de Star Wars, tinha que pegar um pedaço de cabo de vassoura e usar a imaginação.

Hoje em dia, o Playstation 4 já começa a ser “desprezado” por gamers que apostam na Realidade Virtual como o novo avanço dos jogos, a infinidade de brinquedos de Star Wars — e de qualquer coisa, para falar a verdade — pode causar um ataque de pânico quando você nota que tem uma filha de 3 anos que já sabe quem é a Barbie e a linha telefônica deixou de ser fixa, e deixou de ser um investimento.

Hoje a linha telefônica mais popular é a móvel, e a linha em si deixou de ser o principal atrativo há muito tempo. Na Geração Smartphone, tem adolescente que se assustaria se o celular tocasse e alguém começasse a falar.

O principal uso de um smartphone é, provavelmente, a troca de mensagens, especialmente pelo Whatsapp (embora o Telegram seja infinitamente melhor). Causando verdadeiras gerações de zumbis digitais, que mesmo que andem em bando, se comportam assim:

Os zumbis virtuais

Essa geração não tem paciência para leitura, embora fique conectada 24 horas e troque mensagens na maior parte desse tempo. O importante é se comunicar de forma rápida, com fotos, gifs, vídeos, emojis e, se possível, em 140 caracteres ou menos.

A tecnologia, claro, veio dar uma ajuda, na forma do corretor ortográfico ou do recurso auto completar, dependendo do seu smartphone.

O dispositivo, recurso, ferramenta ou pequeno demônio que vive dentro do seu aparelho (gosto de pensar nesse ultimo conceito como verdadeiro) deveria completar uma palavra que você está escrevendo, para te fazer ganhar ainda mais tempo e, assim, permitindo que você mande ainda mais mensagens. Só que o diabinho que vive no seu telefone é um sacana e, ao fingir que está te “ajudando”, na verdade ele está querendo te derrubar.

Qual é a outra explicação para ele substituir “tênis” por pênis, “chutar” por chupar, “botequeira” por boqueteira e outras piadas de duplo sentido que só provam que, se seu diabinho de estimação decidisse ser um escritor, estaria na Praça É Nossa

Apenas alguns exemplos do que esse sacana pode fazer…

Dizem que o corretor automático facilita a vida dos donos de smartphones. Eu não acho, tanto que desliguei o recurso no meu aparelho. Gastava mais tempo corrigindo as correções do Loomie do que digitando as mensagens, então simplesmente desabilitei o recurso.

Loomie, o cão demônio que vive no meu celular

Mas os erros — e os problemas — causados pelos corretores eletrônicos são hoje um dos memes mais difundidos nesse mundo sem fronteiras da internet. A página do Facebook “Corretor Ortográfico” reúne algumas dessas pérolas, e tem quase 80 mil curtidas. No Twitter, são mais de 98 mil seguidores.

Mas já que o avanço tecnológico é inevitável, e o corretor eletrônico só serve para criar memes e piadas, proponho a Tim Cook e ao Bill Gates um novo desafio: Vamos criar o Corretor Quântico.

Ele funcionaria como uma pequena máquina do tempo, que você levaria no pulso, junto do smartwatch. Cada vez que você cometesse um erro enorme, falasse uma frase fora de hora ou criasse um mal entendido sem precedentes, você apertaria o botão do corretor e ele ter jogaria cinco minutos para trás, para dar tempo de corrigir suas ações.

Assim, se você chegasse em casa e descobrisse que sua mulher está com uma TPM do tamanho do Godzilla, em vez de sujar o chão da sala com os sapatos sujos, dizer que a casa está uma zona e perguntar o que tem para jantar, o Corretor Quântico te jogaria um minuto para trás e faria você dizer “Toma, pega um chocolate”.

Em vez de você dizer na reunião do board com toda a Diretoria Reunida que a ideia do seu chefe era “uma merda que vai afundar a empresa”, o Corretor te jogaria para trás e faria você dizer “Ótima iniciativa”.

Antes de você vender todos os seus móveis, entregar seu apartamento e decidir ir morar junto com a namorada de seis meses, o corretor te jogaria para trás e faria você dizer “acho que devíamos esperar mais um pouco”.

Enquanto o futuro não chega, temos que aprender a viver no presente. A encarar um mundo onde “brincar lá fora” não significa mais ir para a rua e ficar o dia todo fora, mas sim descer para o playground do prédio.

Um mundo onde o perigo não é o Homem do Saco, e nem a Gangue de Palhaços da Kombi (minha mãe usava essa, eu não gosto de palhaços até hoje), mas pedófilos, sequestradores e sabe mais que tipo de maldades se escondem fora do alcance dos nossos olhos.

O mundo mudou! Os corretores eletrônicos facilitam nossa vida e nos fazem gargalhar.

Mas eu sinto falta de quando sentávamos nas calçadas e ríamos das piadas feitas uns pelos outros.

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