Sobre encontros efêmeros

Fábio Ochôa
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2 min readSep 5, 2016

Por Fábio Ochôa

Foi Daniel, na sua chácara, quem levantou a bengala e falou no tom mais solene que pode:

- E assim, declaro oficialmente dissolvida a Sociedade do Anel. — antes de fechar — Nos vemos de novo daqui a quatro anos.

Adequado. Muito.

Éramos ao todo umas 12, 15 pessoas, durante os últimos dois meses havíamos trabalhado de domingo a domingo, sem descanso, cordenando a comunicação de uma campanha para prefeito. Um trabalho 24 horas, feito em isolamento, sem descanso e vida social inexistente.

Para Daniel era comum, um ritual que se repetia a quatro anos.

Era uma rotina estafante e intensa. Um pouco surreal também. Comentaram que em alguns casos as sedes eram até invadidas e pessoas vigiadas na rua, como tática de terror psicológico. Não foi o nosso caso.

O trabalho em si era um pesadelo ambulante, fora a pressão natural de qualquer campanha, o elemento competidor, você tinha que lidar com políticos e todo seu staff (15, 20 pessoas a cada decisão) tentando fazer de tudo para mostrar que eles têm importância e quem manda ali são eles. Você deve imaginar o grau de stress diário enfrentado. Desde ali eu não consigo levar a sério pessoas que colocam sua fé e vestem a camiseta dos políticos. A campanha foi uma das responsáveis por sair da cidade. Mas isso é outra história.

O que importa é que aquela sociedade efêmera era o aspecto mais legal da campanha. Aquele companheirismo de trincheira, de lutar contra todas as dificuldades internas e externas para realizar um trabalho firma uma espécie de pacto. Naquela chuva de pirocas, é um por todos e todos por um.

Deve ser a mesma estrutura de pensamento que acomete quem sem mete em projetos específicos, filmes por exemplo, relações de irmandade intensa, que duram enquanto a tempestadenão passa, com um prazo específico para acabar.

É como uma espécie de férias da sua vida, uma saída do cotidiano com data marcada para voltar, com o diferencial que você trabalha como um maluco.

Este ano fui chamado de novo, estava morando em outra cidade. Declinei do convite, sentindo um leve pesar. É raro. Geralmente minhas decisões são mais firmes.

Provavelmente foi sentir falta daqueles encontros efêmeros mas de grande intensidade. Daqueles encontros que ficam para sempre.

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