Sobre grupos de WhatsApp

Juliano Souza Ribeiro
Sobre
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4 min readOct 14, 2016
Quadrinho de Rebeca Prado para a sua série Baleia.

Os quadrinhos acima definem bem como algumas pessoas reagem aos grupos de WhatsApp de família. Já vi gente reclamando, “mas porque minha mãe não escreve direto para o meu irmão?”, “esse meu tio não tem noção mesmo”, “minhas tias ficam fofocando e fico recebendo tudo”… bem, eu também não queria fazer parte de grupos assim. Tenho um grupo com minha mãe e irmãos, e não atingiu esse nível, pelo menos não ainda.

Eu demorei a aderir ao WhatsApp. Quando fiquei sabendo sobre o app pela primeira vez, eu lembro de ter comentado, “mas eu mal mando SMS, porque vou querer instalar isso?”. O mundo mudou, e não ter o WhatsApp hoje é quase o mesmo que não ter celular.

Na minha visão, impressiona a rapidez que o WhatsApp permeou a nossa sociedade, tornando-se não só uma ferramenta de comunicação entre amigos, mas um meio para comprar ou vender qualquer coisa, de fazer contato sem incomodar as pessoas, ao permitirem que respondam quando puderem, ao invés de atender o celular no momento que ele toca.

O Facebook e o Twitter já estavam matando o email e o WhatsApp foi a pá de cal. Quem ainda manda email? Mandar email está ficando igual a mandar fax. É utilizado para mandar documentos e arquivos, em geral, para pessoas jurídicas, e mesmo elas já estão recebendo esses arquivos e documentos por WhatsApp.

Um amigo meu observou, que as pessoas estavam usando os celulares como pager. Isso há dez anos. A ironia agora, para mim, é que o celular, que virou pager, com o WhatsApp voltou a ser usado para as pessoas falarem, gravando mensagens, mas falando!

Eu gosto do WhatsApp por muitos dos pontos mencionados acima, mas o que me faz gostar mesmo dele, é poder utilizá-lo para discussões em grupos. Não, não estou mentindo. Talvez faltando um pouco com a verdade porque os grupos que eu gosto mesmo estão no Telegram, que é um WhatsApp muito melhor. Mas para efeito de simplificação vamos continuar falando WhatsApp, mas considerando que poderia ser outro app como o Telegram, o Viber, ICQ, Messenger… Snapchat não, não sei para que serve aquilo.

Os grupos de WhatsApp me lembram as antigas listas de discussão. E claro gente, as listas de discussão que eu participava eram de quadrinhos ou de música. Hoje estou em grupos de HQs, cultura pop e vinhos. Antigamente, as pessoas respondiam as listas usando um computador. Hoje as respostas são mais rápidas tornando as discussões mais dinâmicas.

Eu fazia parte da lista de emails da Quadrim, e olhem, era muito divertido. Se vocês não conhecem, o site Quadrim era de fanfics de quadrinhos Marvel e DC essencialmente. Mas o que os participantes mais faziam era conversar sobre o mundo nerd. Não vou aqui expor a intimidade do que era conversado lá, mas era divertido.

Hoje, esses grupos de WhatsApp proporcionam as mesmas discussões e diversão de antes. Mas nem tudo são flores nesse mundo de mensagens instantâneas. Participei de um grupo da quadra que eu morava, e vou lhes dizer, era horrível. Piadas preconceituosas, brigas por causa de vagas, notícias falsas, gente vendendo bijuterias, e as discussões políticas, em épocas de eleição, me fizeram sair do grupo, e sentir que o dia ficava mais ameno.

E os grupos que você é adicionado sem pedir. Isso me aconteceu algumas vezes, e, em geral por lojas. Saí do grupo e nunca mais voltei nesses estabelecimentos. Fico pensando, como funciona a cabeça de alguém, que cria um grupo e adiciona pessoas sem perguntar se ela quer?

Muita gente reclama das redes sociais, que as pessoas não largam o celular, que o contato humano está desaparecendo, etc. Ouço essas coisas há trinta anos, antigamente a culpa era do videogame, depois do computador, depois o celular e agora são as redes sociais. Não vejo assim, as redes sociais e o WhatsApp*, hoje podem te conectar com muitas pessoas e assuntos que são importantes, ou possuem valor sentimental para você, e os grupos de WhatsApp são a conversa do fundo da sala, ou de bebedouro, que nos divertem nesse mundo cada vez mais acelerado e mutável.

*O WhatsApp, na minha opinião, não é uma rede social, uma vez que não permite uma experiência de socialização como o Facebook e o Twitter permitem.

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