Sobre minha inaptidão com instrumentos musicais

R. S. Azevedo
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3 min readAug 13, 2016

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Um dias desses resolvi ir a um show. Há muito tempo não fazia isso e, apesar de não conhecer a banda, foi muito bom ter feito essa escolha. O lugar era uma delícia, a banda era muito boa e a companhia, maravilhosa. Uma, das muitas, palavra que definiria esse dia seria: satisfação.
Eu sou um ser musical. Adoro música, adoro vários estilos delas, escuto um monte de coisa, mas nem sempre foi assim. Eu costumava ser um alienado do heavy metal até meus 17 anos. Sabe aqueles moleques “rock e ópera é que são músicas dignas, o resto é perda de tempo”? Pois bem, eu era desses — mesmo sem nunca ter ouvido uma ópera, naqueles tempos.
Essa alienação toda me levou às aulas de bateria — pois é, o título do texto não é 100% verdadeiro, mas vocês vão me perdoar. Eu sei tocar bateria, toco mal, toco porcamente…mas sei. E sabe por quê eu não sou um baterista melhor? Por culpa do meu preconceito musical da juventude.
Um músico de verdade ama música. Ele pode ter suas preferências, óbvio, mas ele ama música. Qualquer tipo, qualquer estilo, porque música é mistura, é união, é misturar sobre as mais diversas influências e criar algo que toque a alma das pessoas e faça com que elas se identifiquem. Música fala com a alma e, para isso, o músico precisa entender diversos tipos de — almas — ritmos.
Eu pastei muito para aprender isso. Fiquei parado como uma geladeira em muita festa, afinal, eu era rockista demais para curtir funk. O pézinho tava ali mexendo igual cobra com cócegas, mas a cara era de intestino preso e o discurso sempre o mesmo “rock é que é música”.
Lembrando disso hoje em dia eu chego à conclusão que, mesmo tendo aprendido a tocar bateria, eu era sim um inapto musical. Mais que isso, eu era um inútil musical. Inútil porquê não cumpria a função básica da música: unir.
Eu segregava, criava nichos para classificar pessoas e estilos, me censurava para obedecer regras idiotas de pessoas que nunca foram amigos de verdade, deixava de aproveitar minha vida para criar uma impressão estúpida de “elitismo musical”.
E vejo muita gente vivendo sobre essas amarras. É o metaleiro que não pode curtir um funk porquê “não é música”, é o sertanejo que não da um mosh de cima do palco porque metal “é só barulho”, é o sábio da mpb que não dança um pagode já que “é música de alienado”…
Eu não posso, e não vou, falar pela Humanidade, mas me reservo o direito de falar por mim: desde que derrubei muitos desses preoconceitos musicais, eu tenho me divertido muito mais. Até tocado bateria melhor!
Me livrar do julgamento dessa banca examinadora de gostos, ao menos em relação às músicas, foi uma das coisas que mais me trouxe alívio. Eu curto uns funks nas festas, curto uns “Chitãozinho e Xororó feat. Fresno em casa, ponho aquele Zeca Pagodinho no banho… Agora mesmo, N.W.A é o que rola nos fones enquanto to escrevendo e nada me impede de escutar um Chico Buarque daqui a pouco — e não vou ser mais inteligente por isso.
Eu talvez ainda seja inapto com a maioria dos instrumentos musicais que existem, mas uma coisa eu deixei de ser: preconceituoso e alienado. As coisas vão bem pra mim com meus fones nos ouvidos, escutando a minha playlist no aleatório e tendo uma sensação nova a cada novo ritmo.
Uma palavra para a sensação seria: satisfação.

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R. S. Azevedo
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Estudante de cinema, pisciano, proto-escritor e overthinking.