Sobre o meu prazer mais pessoal dessa semana

Juliano Souza Ribeiro
Sobre
Published in
4 min readOct 3, 2016

Na hora que recebi o tema sorteado para a coluna dessa semana eu pensei, “prazer pessoal? masturbação?”. Não, não vou fazer isso com vocês. Mas confesso que fiquei sem saber o que escrever momentaneamente.

Comecei a elencar, e amaldiçoar quem seria o responsável pelo tema, assuntos que poderiam ser prazeres pessoais, e, dentre eles, escolher o que teria sido o mais pessoal.

Três dias depois, sentado no sofá de casa, fiquei pensando no que escrever. Ao mesmo tempo, eu olhava para as minhas duas estantes de livros e quadrinhos e pensava, “Comida? Não, comida não é algo que eu priorize, eu tenho lá minhas preferências, exóticas e picantes, mas não seria elevado a um prazer”.

Dormir! menos ainda, detesto ter que dormir. Pensem no tempo que perdemos. Se não precisássemos dormir teríamos cinco horas a mais por dia!

Enquanto eu pensava, e amaldiçoava, olhava os meus livros, os que eu já havia lido, os ainda por ler, os que provavelmente demorarão muito para que eu os leia, os que serão lidos logos , mas não conseguia pensar em um assunto para a coluna.

Na verdade, eu não conseguia pensar não em assunto, mas em um prazer pessoal daquela semana, quanto mais em um mais pessoal.

Mas que raios é esse prazer mais pessoal dessa semana? Um prazer egoísta?

Me questionando eu continuava a olhar a estante. Olhava para os livros que comprei para um projeto futuro, para os clássicos russos que quero ler, autores franceses que dizem que são bons… Para os livros de filosofia e economia que enfiei na minha cabeça que preciso ler, para aquelas HQs que o mundo todo leu, menos eu e aquelas que só eu li, e ninguém mais.

Foi então que percebi que eu não estava encontrando o “meu prazer mais pessoal dessa semana” porque eu o estava vivendo, contemplando a minha biblioteca pessoal. As minhas duas estantes de livros e quadrinhos.

É um prazer, para mim, olhar as minhas duas estantes, ver as HQs que estão comigo há quase trinta anos, como o meu encadernado do Cavaleiros das Trevas autografado pelo Frank Miller, minhas HQs europeias como Corto Maltese, que quando comecei a ler, não conhecia ninguém mais que o lia. Minha prateleira com quadrinhos nacionais, a maioria autografada pelos autores, autógrafos esses que consegui nos eventos de quadrinhos nesses anos todos.

Meu exemplar de Crime e Castigo, o livro que mais me marcou, li aos dezenove anos e decidi aprender russo para lê-lo no original, e estou aprendendo russo. Guerra e Paz, de Tolstói, que está há anos na lista de leitura, e não inicio porque estou lendo os livros mais curtos primeiro, afinal, Guerra e Paz será uma jornada de leitura. Meu exemplar de Ulisses! Como quero ler esse livro, assim, quero tanto que só adio a leitura…

Minha esposa costuma dizer que eu tenho prazer não só em ler, mas em ter os livros, que gosto de tê-los comigo, e sabem? É verdade. Eu gosto de bibliotecas nas quais podemos circular entre as estantes de livros. É um ambiente que me faz bem e no qual convivi muito por muito tempo.

As vezes, ficar parado em frente às estantes, e só folhear os livros já me serve como um passatempo e uma terapia.

Ao arrumar as estantes, percebi que tenho mais quadrinhos do Batman do que da Marvel, isso me deu uma certa alegria e me fez soltar um sorriso. É, eu realmente gosto do Batman.

Creio então que, se eu descobri que tenho um prazer mais pessoal, foi por causa do tema dessa crônica. Devo agradecer ao autor da proposta, aquele que eu amaldiçoei, por me permitir perceber que, é sim um prazer, um prazer meu, pessoal, egoísta, contemplar as minhas duas estantes, perceber que isso me faz bem, e me dá energia e clareza mental para continuar.

Agora, um prazer pessoal, mais pessoal da semana, é escrever para o Sobre com os meus colegas.

--

--