Sobre videogames

Fábio Ochôa
Sobre
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3 min readJan 18, 2017

Era metade dos anos 80, quando meu pai chegou com uma grande caixa, comprada em consórcio — como de hábito na época. Dentro dela, havia uma revolução tecnológica, algo destinado a mudar a rotina de milhões de pessoas no mundo inteiro.

Menos no meu caso, ah, a difícil tarefa de ser o Senhor Diferentão desde a mais tenra idade.

Com a voracidade que só as crianças têm, a maldita caixa foi feita aos pedaços em segundos. A desgraçada não teve a menor chance, na verdade.

Dentro, havia um videogame Atari.

Os games daquela época tinha uma mecânica muito estranha, basicamente você pegava um cartucho, acoplava no aparelho cagado de medo daquela merda estragar alguma coisa e rezava para tudo correr bem. Naqueles tempos de informação zero, todo tipo de lenda urbana acabava aderindo: se você arrancar o cartucho a imagem fica congelada pra sempre na TV, existiam fases secretas depois do final de Pac Man, se retirar o cartucho na hora H ganha mais vida, assoprar os cartuchos magnetizavam (???) eles. Tudo tão comprovado e acurado cientificamente quanto qualquer episódio de Star Wars. Ciência e física básica.

Os jogos eram aquela coisa, 8 bits que pareciam mais monobit. Tinha Keystone Cops, que eu adorava, era um policial perseguindo um ladrão dentro de um shopping, Mister Postman, o cara que pelo visto entregava cartas lá no Amazonas, Enduro com suas 20 mil variações, o Homem-Aranha de velcro, quadrados que jogavam teia que fazia um barulho de velcro “crãããã”, ele enfrentava algo que parecia uns caralhinhos ou uns cogumelos, de acordo com seu ponto de vista, mais um Duende Verde, Superman que nunca consegui jogar aquela porra, pescaria, tão chato quanto o ato real e até um jogo pornográfico, ou ao menos, o máximo de pornografia que um jogo de 8 bits pode comportar, X-man.

Gostaria de dizer que era muito legal e sinto saudades, mas não, não era.

Fora isso, tinha também as idas ao fliperama, anos depois, coisa de garotinho querendo se sentir malaco. Ê juventude besta. Gente fumando, cinzerinho, gente mais velha, fliperama de Freddy Krueger, do Jason, Máquina Mortífera etc. Naquele tempo acho que qualquer coisa virava jogo.

Óbvio que fiel à minha tradição esportiva eu era absolutamente péssimo em todos os jogos.

Sempre passei ao largo dos games. Nunca foi minha praia, por aqueles motivos estranhos, nunca conseguiu capturar minha atenção. Pode ser algum tipo de esnobismo meu, mas a experiência nunca conseguiu ser imersiva, sempre é com algum distanciamento. Lendo por exemplo, o efeito é oposto.

E ajuda bastante também o fato de eu ter uma natureza bem pouco competitiva.

Óbvio que isso lesou alguns momentos de interação social, sempre quando alguém me passa o controle eu simplesmente aperto tudo como um epilético e o maior ar de quem saca o que está fazendo embora os resultados na tela evidentemente provem o contrário. Ossos do ofício.

Tempos atrás, coisa de três, quatro anos, encontrei meu velho Atari esquecido na casa dos meus pais. Cheguei a pensar em trazer comigo apenas pela curiosidade de ver se ainda funcionava.

No fim, simplesmente deixei lá.

A história da minha vida.

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