Movimento Juba Libre

Samuel Tonin
Sobrebarba
Published in
4 min readOct 26, 2016

Enquanto você está lendo este texto, barbudão Mairon Rangel, 32 anos, está por aí catando um espaço pelo Rio de Janeiro pra fincar sua cadeira, apoiar o espelho e espalhar tesoura, pente, navalha, borrifador…

Há cerca de um ano, Mairon atua como cabeleireiro pelas ruas da cidade, no metrô de Botafogo e do Flamengo, na praça Tiradentes e num ponto quase “fixo”: na Praça São Salvador, em Laranjeiras.

No começo, ele atuava junto com uma amiga, mas, desde abril, voa solo no projeto Juba Libre, que tem como principal objetivo “valorizar os fios de cabelo do jeito que a Mãe Natureza os criou, estimulando ou devolvendo a liberdade”.

“Antigamente, esse ritual era comum, nos mercados, nas praças centrais das cidades. Com todo o respeito ao salão de beleza, quis retomar essa coisa da rua. É uma experiência, chamo até os clientes de ‘participantes’ e chego a dar os parabéns pra pessoa que se dispõe a cortar o cabelo assim. No Rio, acho que fomos os primeiros a fazer isso”, conta ele, que já trabalhou com turismo, marketing, seguros, aulas de inglês…

A história do cabelo é recente na vida dele, coisa de uns 3 anos pra cá. “Mas logo de cara começou essa crise e não estava sendo exatamente como eu queria. Passei por 5 salões em 2015 — entrava, até gostava do salão, mas o movimento estava muito ruim.”

“Queria sacodir a poeira, mostrar as caras, conhecer gente, divulgar meu trabalho… Se as coisas ficarem muito caras e inacessíveis, a economia vai parando, a coisa vai atravancando. O Juba não deixa de ser uma atitude política e uma manifestação a tudo que estamos vendo. Não adianta cobrar 100 reais se as pessoas não vão”, explica Mairon, cujo serviço, a princípio, custa R$ 30 (a “contribuição consciente”). O resto a ser pago varia em função do quanto o cliente “amar” o corte. “Mas já troquei por poesia.”

Os cortes, que também podem ser feitos “delivery”, valorizam os cabelos naturais, o volume, undercut, tudo bem diferente. “Trabalho o conceito de ritual da transformação, de mudança. Quanto mais ousado e diferente, melhor.”

O esquema é especializado: Mairon não faz escova, tintura nem coloração. Barba é sem lâmina, e só se for pra aparar com tesoura ou máquina, sem água nem creme de barbear. “Não sou especialista”, explica ele, que usa a barbona grande há um tempo. “Sempre odiei fazer a barba, prolongava ao máximo! Atualmente, nem me reconheço sem! Acho que os homens de uma forma geral ficam mais bonitos, e eu gosto da minha pontuda, com queixão, mais alongada mesmo.”

O desafio de cortar em praça pública? “Às vezes, de noite, a luz é ruim. Já tive que ir no bombeiro e ligar pra Light pra trocarem a lâmpada do coreto da São Salvador…”

Mas no geral, a experiência tem sido positiva: “No todo, é muito feliz, porque ficamos cercados de pessoas alegres. Quando é na praça, por exemplo, tem gente bebendo, sempre tem um tocando violão ou batucando alguma coisa”.

Música é grande fonte de inspiração. “Tem algumas que gosto de ouvir na preguiça, outras antes de ir pro trabalho, pra dar aquele pique, e outras para a madruga.” E é um pouco de tudo que ele separou para a playlist que fez para o Sobrebarba!

Aperte o play e solte a cabeleira!

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