Um café e um propósito

Samuel Tonin
Sobrebarba
Published in
4 min readJul 1, 2019

Deixar o emprego e abrir o próprio negócio: isso nunca foi uma questão.

Sempre soube que um dia ia acabar rolando. O negócio em si pouco importava. Sabia que a ideia de um produto ou serviço surgiria em algum momento já que pensava nisso o tempo todo.

Hoje sei que o que eu buscava mesmo não era simplesmente criar uma empresa. Era um propósito.

Um propósito que só descobri qual era enquanto tomava um café com o Mariano, engenheiro florestal e fundador do Idesam: Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas.

Naquele dia eu queria entender melhor como funcionava o projeto de reflorestamento do Instituto e como a Sobrebarba poderia fazer parte.

Enquanto o Mariano abria um mapa da Amazônia e explicava cada uma das áreas de atuação do Idesam fui entendendo que o que eu chamava de propósito — colaborar com o reflorestamento de uma reserva com parte das vendas dos meus produtos para barba — na verdade era só uma parte pequena do processo.

Entendi que o desmatamento é o que vinha sustentando as famílias daquela região da Amazônia com a criação de pastos.

Não adiantava simplesmente chegar lá e plantar árvores.

Pra resolver o problema na raiz precisava mudar a realidade local oferecendo uma nova fonte de renda para aquelas famílias.

Assim começaram a capacitar os moradores da reserva a criar agro-florestas.

Eles aprenderam como as árvores nativas poderiam ajudar no plantio de outras árvores frutíferas, raizes, plantas que podem dar sustento e fazer a economia local girar sem depender do pasto.

Compensação de carbono

Uma das maneiras que encontraram de manter esse projeto vivo e conectar os grandes centros com a floresta é através da compensação de carbono.

Empresas ou pessoas que queiram compensar suas emissões de carbono financiam o projeto de reflorestamento que vai desde o plantio até o acompanhamento e monitoramento de cada árvore por anos.

RDS do Uatumã

Esse seria o primeiro passo. Na época fiquei tão empolgado pra começar o trabalho que o cálculo para a compensação das emissões de carbono da Sobrebarba ficaria pra depois.

A primeira visita à reserva

Poucas semanas pousávamos em Manaus pra primeira expedição até a reserva.

Conhecer aquelas famílias e ver de perto o amor e a dedicação que cada um tinha por aquele trabalho foi um marco.

Ali, isolados no meio da floresta amazônica, a Sobrebarba renascia com um propósito.

Evolução

De lá pra cá foram 3 expedições para acompanhar o plantio das árvores e rever os grandes amigos que fizemos.

Foram mais de 4500 metros quadrados de área reflorestada com guaraná, ingá, paricá, jatobá, abacate, tauari, açaí, abacaba, andiroba, capoeirão, cacau caju, castanha, cedro, cupuaçu, ipê, manga, graviola, pau-rosa, pitanga, pupunha, tamboril…

E a compensação de carbono? Bom… finalmente conseguimos fazer o cálculo de tudo que a gente emite por ano.

Uma conta complicada que vai desde a fabricação dos produtos, energia gasta, transporte, armazenagem até a entrega de cada pedido na casa de cada barbudo no Brasil. Isso dá em torno de 34 toneladas de CO2 por ano. Agora 100% neutralizadas.

É claro que tenho muito orgulho de termos conquistado esse selo mas, cá entre nós, o certificado de Empresa Carbono Neutro é só uma consequência.

O que importa é o que vem antes dele: é o trabalho feito dia-a-dia lá na reserva, é a possibilidade de gerar uma mudança. É conhecer qual é o seu propósito.

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