Uma jornada marítima ao Brasil extremo

Navegamos por 8 dias com a Marinha em expedição que passou 48h na Ilha da Trindade, no extremo leste do Brasil, a um terço do caminho para a África

Rafael Duarte
Sobrebarba
4 min readMay 18, 2017

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Ainda quase desconhecida pela maior parte dos brasileiros, a Ilha da Trindade reina no meio do Oceano Atlântico, a cerca de um terço do caminho para a África, na direção de Vitória-ES. Junto com o arquipélago de Martin Vaz, estes cumes de montanhas submarinas marcam o ponto mais extremo ao leste do território nacional. A razão de quase ninguém conhecer não se deve apenas ao fato de ser longe, mas por não ser um destino turístico, e sim uma base militar da Marinha do Brasil. E foi o enigma do exótico e inóspito que nos despertou o desejo de visitar e desbravar a ilha, o que finalmente foi possível no mês de abril, ao lado da Marinha, que convidou a equipe Miramundos para esta expedição histórica para a filmagem do nosso próximo documentário.

Eu (Rafael Duarte) e o Jaime Vilaseca fomos acompanhados por outros dois profissionais nesta expedição: o fotojornalista Flavio Forner, que já integrou outras duas expedições nossas, e o cinegrafista e diretor Ítalo Yure, que se aventurou com a gente pela primeira vez. Nós embarcamos com centenas de marinheiros e dezenas de pesquisadores no NDCC Almirante Saboia (G-25), um navio de desembarque de carros de combate (NDCC), com quem convivemos e navegamos juntos ao longo dos 1.167km que separam a ilha do continente.

Foram quatro dias de navegação para ir, quatro para voltar, e apenas 48h em terra firme na ilha vulcânica que é com certeza um dos lugares mais incríveis que conhecemos. Isso mesmo: 80% da expedição no percurso de navio para apenas 20% do tempo no nosso destino paradisíaco. Durante o período lá, foi uma corrida contra o tempo. Caminhamos muito e dormimos pouco nas duas noites em Trindade para conseguirmos documentar o que precisávamos: foram apenas seis horas de sono contra 42 de trabalho. Esforço recompensado pelas imagens memoráveis que vão ilustrar nosso filme e nossas reportagens, onde vamos contar um pouco deste destino improvável. Para o Jaime, apesar de curta, esta expedição foi especial.

“Eu acho que foi o lugar mais bonito que eu estive na minha vida. Era um sonho ir a Trindade. E só pude sentir a magnitude da ilha quando de fato desembarquei lá”, Jaime Vilaseca.

No segundo dia na ilha, o comandante do G-25 Nelson Leite convidou a Miramundos para fazer um voo de helicópotero a Martin Vaz. E elegemos o Flavio Forner para nos representar na empreitada, pois o trio precisava dedicar-se à ascensão do Pico do Desejado, uma das montanhas mais altas da ilha, a cerca de 600m do nível do mar.

“Foi uma oportunidade incrível pisar naquele terreno lunar. Foi marcante me sentir no extremo do Brasil e saber que provavelmente jamais voltarei lá. Foi uma chance única”, Forner.

De todas as ilhas do arquipélago, separadas por 48km, somando uma área total de 10,4 km², só Trindade é habitada. Nela a Marinha mantém uma guarnição militar, o Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade (POIT), que é o local habitado mais remoto do Brasil. No nosso país, é lá que o sol nasce e se põe primeiro. A outra porção de terra mais próxima da Ilha da Trindade é a Ilha de Santa Bárbara, que faz parte do arquipélago dos Abrolhos, onde estivemos na nossa última expedição, a 1.025km de distância de lá. Além de manter o POIT, a Marinha também apoia outras pesquisas científicas em diversas áreas pelo projeto Pró-Trindade. A cada dois meses, no navio que realiza a troca das guarnições, a Marinha também faz o transporte de pesquisadores que realizam projetos na ilha. E foi nesta missão que embarcamos juntos.

A expedição foi realizada a convite da Marinha do Brasil para a filmagem do documentário que tem patrocínio da Allstar Brasil, SPOT Brasil e Sobrebarba e apoio da GoPro, Mormaii e BT Bodytech. Esta série de reportagens continuará durante as próximas semanas com tudo sobre nossa experiência na viagem de navio, a chegada na ilha, as aventuras nas montanhas e o que vimos por lá. Acompanhem.

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Rafael Duarte
Sobrebarba

Jornalista, fotógrafo e documentarista. Diretor criativo da Bambalaio e expedicionário da Miramundos.