A ESTRANHA HISTÓRIA DA PATRULHA DO DESTINO!

Claudio Basilio
sobrequadrinhos
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27 min readApr 26, 2023

Estranha. Esquisita. Excêntrica. Qualquer uma dessas palavras define perfeitamente uma certa superequipe da DC Comics que em 2023 comemora sessenta da sua estreia. E, como não temos coisa melhor para fazer celebraremos essa gloriosa e importante data contando aqui a história repleta de estranhezas, esquisitices e excentricidades da… Patrulha do Destino! Continuem conosco e nos acompanhem numa jornada que principia no começo dos anos sessenta!

Legião do Estranho

My Greatest Adventure era um gibi especializado na publicação de HQs curtas (com especial enfoque na Ficção Científica) lançado pela DC Comics em 1955, mas para a infelicidade dos executivos da editora em 1963 as suas vendas estavam indo de mal a pior. Desesperado, o editor Murray Boltinoff procurou o escritor pau-para-toda-obra Arnold Drake e pediu que ele elaborasse em regime de urgência o conceito de uma nova série regular de super-heróis para alavancar os números de My Greatest Adventure.

Arnold Drake, Bob Haney, Bruno Premiani e Murray Boltinoff: as pessoas envolvidas na criação da Patrulha do Destino.

Arnold Drake se debruçou sobre sua escrivaninha e pensou… e pensou… e entre um toque na sua máquina datilográfica ali e outro toque acolá veio a sua mente as revistas produzidas pela Marvel naquele período — em especial Fantastic Four (Quarteto Fantástico) –, que traziam personagens com caracterizações psicológicas mais realistas e palpáveis que os da DC Comics do mesmo período. Também passou pela sua cachola um time de aberrações formado por um cientista cadeirante, uma mulher capaz de alterar seu tamanho e um robô dotado de cérebro humano, só que ainda era necessário definir um quarto integrante para de fato a equipe ficar completa, e… Drake simplesmente não sabia o que fazer!

Capa de My Greatest Adventure #80 (1963), revista que trouxe a estreia da Patrulha do Destino. Reparem que o General Immortus chama o Homem-Robô de Automaton, o seu nome original. Arte de Bruno Premiani.

Sem muitas opções Arnold Drake solicitou a ajuda de Bob Haney, que também era escritor contratado da DC Comics. Juntos, eles fecharam o conceito de um homem que abrigava dentro de si uma entidade energética e elaboraram o roteiro da primeira aventura da equipe. Faltava escolher o desenhista da história, e Murray Boltinoff indicou para a função Bruno Premiani, um artista ítalo-argentino especializado em gibis românticos. Inicialmente Drake ficou contrariado com a escolha de Boltinoff, mas ao receber as primeiras amostras do trabalho de Premiani o escritor ficou encantado com o resultado final. Foi definido que a “Legião do Estranho” (Legion of the Strange, no original em Inglês) faria a sua estreia em abril de 1963 em My Greatest Adventure #80 e… esperem aí! “Legião do Estranho” era um nome muito idiota, e em cima da hora a criação de Drake, Haney e Premiani foi rebatizada como… Patrulha do Destino!

Sem eira nem beira

Voltando ao assunto principal: a Patrulha do Destino estreou na supracitada revista My Greatest Adventure #80, onde os leitores foram apresentados a três pessoas que se encontravam em situações, digamos assim, “especiais”:

Cena final de My Greatest Adventure #80 (1963), onde Niles Caulder reúne Cliff Steele, Larry Trainor e Rita Farr e funda oficialmente a Patrulha do Destino. Arte de Bruno Premiani.

Rita Farr: uma atriz hollywoodiana, a bela Rita Farr teve a sua carreira cinematográfica interrompida após inalar misteriosos gases vulcânicos durante uma filmagem na África. Como consequência desse acidente ela ganhou a habilidade de reduzir ou aumentar sua estatura.

Larry Trainor: o aviador Larry Trainor garantia o seu sustento testando aviões, e ao passar por uma estranha nuvem durante um voo ele foi exposto a uma pesada contaminação radioativa. A solução encontrada por Trainor para assegurar a sua sobrevivência e daqueles que o cercavam foi envolver toda a sua epiderme em bandagens especiais, porém um inesperado efeito colateral o acometeu: ele conseguia liberar do seu corpo por sessenta segundos um ente constituído de pura energia e dotado de alto poder destrutivo, que foi batizado com o proverbial nome de Espírito Negativo.

Cliff Steele: o aventureiro e piloto de corridas automobilísticas Cliff Steele levava a vida que qualquer um pediu a Deus, e então uma tragédia o acometeu quando o seu corpo foi totalmente destruído em uma competição de carros na Europa. Mas nem tudo estava perdido para Steele: um incógnito cientista transplantou o seu cérebro preservado para uma carcaça cibernética, e uma nova e infeliz existência como aberração robótica se descortinou para o outrora piloto e celebridade.

Capa de Doom Patrol #86 (1964), onde a equipe de Niles Caulder se depara pela primeira vez com Cérebro e Monsieur Mallah. Arte de Bob Brown.

Essas pessoas estavam sem eira nem beira, e então elas foram reunidas por Niles Caulder, um gênio científico confinado a uma cadeira de rodas que porventura foi o responsável pela criação do corpo metálico de Cliff Steele. Sem rodeios Caulder falou para os três indivíduos que era obrigação deles usarem seus estranhos dons para ajudar a Humanidade, que naquele momento era ameaçada pelo General Immortus, um caquético mestre do crime que graças ao uso de desconhecidas fórmulas alquímicas vivia a centenas de anos. Juntos Niles Caulder, Rita Farr, Larry Trainor e Cliff Steele derrotaram o criminoso imortal e adotaram respectivamente as alcunhas heroicas de Chefe, Mulher-Elástica, Homem-Negativo e Automaton, constituindo formalmente a Patrulha do Destino.

Coincidência

O grupo de aberrações comandado por Niles Caulder continuou a aparecer nas edições seguintes de My Greatest Adventure, e rapidamente Arnold Drake entendeu que Automaton era um nome meio boboca para o seu herói cibernético, e o modificou para Homem-Robô, uma denominação mais simples e direta. Mais tarde Drake tomou conhecimento através do editor Julius Schwartz que a DC Comics já tinha um herói chamado Homem-Robô, que foi concebido em 1942 por Jerry Siegel (sim, o mesmo escritor que criou o Superman!), Leo Nowak e Paul Cassidy. O Homem-Robô de Siegel foi publicado até 1953, e além de ser visualmente parecido com o seu homônimo da Patrulha da Destino ele também era um autômato dotado de um cérebro humano. Sem dúvida alguma uma coincidência interessante, mas havia outra em relação a Patrulha do Destino que era um pouco mais… polêmica!

Capa de Doom Patrol #89 (1964), onde a Patrulha do Destino encara o bizarro Homem-Animal-Vegetal-Mineral. Arte de Bob Brown.

Exatos três meses após a estreia da Patrulha do Destino em My Greatest Adventure #80 a Marvel botou na praça X-Men, uma série bimestral criada por Stan Lee e Jack Kirby e estrelada por um agrupamento de renegados odiados pela Humanidade que era liderado por um… gênio científico confinado a uma cadeira de rodas!

Quando instado a dar a sua opinião sobre este suposto plágio da Marvel num primeiro momento o educado Arnold Drake entendeu que tudo não passou de puro acaso, já que as duas equipes foram lançadas com uma diferença de tempo muito curta, e naquela época o prazo médio para a produção e lançamento de uma nova série era algo em torno de seis meses.

Página de abertura de X-Men #5 (1964), que trazia as aventuras de uma equipe da Marvel que guardava muitas semelhanças com a Patrulha do Destino. Arte de Jack Kirby e Paul Reinman.

Mas… vejam como são as coisas: até hoje é comum editores e quadrinistas da Marvel e DC Comics se encontrarem em eventos sociais e trocarem ideias sobre os seus projetos, e Stan Lee sempre foi famoso tanto por ficar de olho na produção da concorrência quanto pela rapidez com a qual ele editava e escrevia gibis. E aí uma pulga surgiu atrás da orelha de Arnold Drake quando ele soube que ao apresentar em 1964 a vilanesca Irmandade Negra (Brotherhood of Evil, no original em Inglês) como adversária da Patrulha do Destino exatamente no mesmo período Lee definiu como inimigos fidagais dos X-Men um grupo de vilões chamado… Irmandade dos Mutantes (Brotherhood of Evil Mutants, no original em Inglês)! Para piorar as coisas em 1967 a própria Marvel ridicularizou a semelhança entre as duas equipes na quarta edição da revista humorística Not Brand Echh, ao fazer o vilão Magneto confundir a Patrulha do Destino com os X-Men!

Cena do gibi de humor Not Brand Eech #4 (1967), onde no último quadro o vilão Magneto confunde a Patrulha do Destino com os X-Men. Arte de Tom Sutton.

Moral da história: antes falecer em 2007 Arnold Drake não descartou a possibilidade de Stan Lee ter copiado os seus conceitos na cara dura, mas não há provas conclusivas de que os X-Men eram um pastiche da Patrulha do Destino, e até hoje esta dúvida trafega pela mente de fãs e pesquisadores da Nona Arte.

Bizarros

A Patrulha do Destino caiu no gosto dos leitores, tanto que após a edição #85 a revista My Greatest Adventure teve seu nome modificado para Doom Patrol, mantendo a mesma numeração. Arnold Drake e Bruno Premiani — com a eventual ajuda do desenhista Bob Brown — tiraram proveito do sucesso da sua criação e conceberam vilões tão bizarros quanto a própria Patrulha do Destino, e um bom exemplo é Cérebro, que era literalmente uma massa encefálica humana que sobrevivia dentro de um receptáculo eletrônico, e que tinha como guarda-costas Monsieur Mallah, um violento gorila de inteligência humana que falava com um exótico sotaque francês. Mais tarde apareceram o alienígena especialista em armas Garguax, o esquisitíssimo Homem-Animal-Vegetal-Mineral, o criminoso de guerra nazista General Zahl e a transmorfa francesa Madame Rouge, e diante de tantos adversários se fazia necessário reforçar as fileiras da Patrulha do Destino.

Capa de Doom Patrol #91 (1964), onde em meio a um conflito com o alienígena Garguax o galante Mento tenta resgatar a sua amada Mulher-Elástica. Arte de Bob Brown.

Em Doom Patrol #91 surgiu Steve Dayton, um bilionário que desenvolveu um capacete que potencializava suas habilidades psiônicas latentes. Dayton adotou o codinome de Mento, e além de se tornar um aliado recorrente da Patrulha do Destino ele engatou um romance com a Mulher-Elástica. Posteriormente em Doom Patrol #99 entrou em cena Garfield Logan, um órfão adolescente esverdeado, tagarela e insolente capaz de se transformar em qualquer animal, e que adquiriu seus dons após ser inoculado com uma vacina experimental durante uma estadia na África. Arnold Drake criou Logan com o propósito de ter nas aventuras da Patrulha do Destino um personagem com quem os leitores mais jovens pudessem se identificar, e quando Mento e Mulher-Elástica juntaram formalmente seus trapinhos em Doom Patrol #104 os heróis recém-casados adotaram o garoto. Ah, em tempo: inicialmente Garfield Logan atendia pela alcunha heroica de Rapaz-Fera, mas ao se tornar membro dos Novos Titãs (ou Titãs, ou Turma Titã, ou Jovens Titãs, dependendo do tradutor de plantão) nos anos oitenta ele ficou mais conhecido como… Mutano!

Página de Doom Patrol #99 (1965), onde um irascível Garfield Logan (Mutano) literalmente mostra as suas garras para a Patrulha do Destino. Arte de Bob Brown.

Com as presenças esporádicas de Mento e do Rapaz-Fera a Patrulha do Destino continuou a enfrentar inimigos grotescos, porém em 1968 eles se depararam com a sua mais perigosa adversária: a baixa vendagem da sua série bimestral. Naquela época Arnold Drake vivia as turras com o corpo editorial da DC Comics, e ao ser avisado do cancelamento de Doom Patrol o escritor elaborou um roteiro repleto de referências metalinguísticas que contou com as participações especiais de Murray Boltinoff e Arnold Drake e culminou com as supostas mortes do Chefe, Mulher-Elástica, Homem-Negativo e Homem-Robô em uma explosão engendrada pelo General Zahl e Madame Rouge.

Capa de Doom Patrol #121 (1968), onde Arnold Drake lançou na mãos dos leitores a responsabilidade sobre o fado final da Patruha do Destino. Arte de Joe Orlando.

A intenção de Arnold Drake com a fatídica histórica publicada em Doom Patrol #121 era gerar comoção junto aos leitores para reverter o cancelamento da revista, mas tudo foi em vão. A Patrulha do Destino continuou morta. Mortinha da Silva. E em vez de serem escanteados para um canto perdido do universo ficcional da DC Comics como ocorria com qualquer personagem que tivesse seu gibi cancelado na prática Niles Caulder, Rita Farr, Larry Traynor e Cliff Steele se tornaram os primeiros heróis a serem dados como falecidos após a suspensão da sua publicação. Aborrecido com a situação, Drake foi trabalhar na Marvel, e por lá criou a versão futurista dos Guardiões da Galáxia e escreveu histórias do Capitão Mar-vell e — vejam só! — dos X-Men.

Contudo… a história da Patrulha do Destino ainda estava muito longe do fim.

Nova Formação

Em 1977 os editores da DC Comics decidiram reviver Showcase, uma histórica revista que nos anos cinquenta serviu como plataforma de lançamento para heróis clássicos como o Flash (Barry Allen), Lanterna Verde (Hal Jordan), Adam Strange e outros e que havia sido cancelada em 1970. Em seu revival o gibi retomaria a sua numeração original e voltaria a ser um cenário de testes para novos personagens e conceitos, e como fã de longa data da Patrulha do Destino o então editor e escritor iniciante Paul Kupperberg vislumbrou no relançamento de Showcase a oportunidade perfeita para trazer de volta a equipe.

Capa de Showcase #94 (1977), que apresentou aos leitores a segunda formação da Patrulha do Destino. Arte de Jim Aparo.

Para manter a coerência com os fatos apresentados no último roteiro escrito por Arnold Drake e vagamente inspirado na reformulação dos X-Men empreendida em 1975 por Len Wein e Dave Cockrum o simpático Paul Kupperberg decidiu que a Patrulha do Destino teria uma nova formação, constituída por:

Celsius (Arani Caulder): esposa oculta do Chefe, a indiana Arani Caulder era uma formidável artista marcial que após ingerir a fórmula que garantia a longevidade ao General Immortus ganhou a habilidade de gerar ondas de frio ou calor.

Mulher-Negativa (Valentina Vostok): ao desertar a antiga União Soviética em um jato roubado a cosmonauta e espiã russa Valentina Vostok rumou aos EUA, e sofreu um acidente aéreo na região próxima ao local de morte da Patrulha do Destino original. Essa foi a deixa para o Espírito Negativo que outrora vivia dentro de Larry Trainor se apossar de Vostok, concedendo-lhe a habilidade de converter o seu corpo em pura energia.

Vendaval (Joshua Clay): um veterano da Guerra do Vietnã, Joshua Clay nasceu com o dom de gerar rajadas energéticas a partir das suas mãos. Com o devido foco e controle Clay também conseguia converter as suas energias internas em poder de voo.

Capa de DC Comics Presents #52 (1982), onde a segunda versão da Patrulha do Destino encara o Superman. Arte de Keith Giffen e Dick Giordano.

Completando o novo time havia o Homem-Robô, que sobreviveu ao massacre mostrado em Doom Patrol #121 graças ao Dr. Will Magnus, um mestre da Cibernética responsável pela criação dos robóticos Homens Metálicos e que resgatou e reconstruiu a carcaça de Cliff Steele. Com a arte de Joe Staton a recriada Patrulha do Destino foi apresentada aos leitores entre os números #94 e #96 de Showcase, e a grande verdade é que ninguém deu a menor importância para ela. Tal desinteresse somado a Implosão DC — uma reorganização editorial e executiva ocorrida em 1978 que acarretou o cancelamento de 40% das séries da DC Comics — destruiu qualquer chance da Patrulha do Destino ter um título próprio, mas nos anos seguintes ela teve fugazes participações especiais em outros gibis.

Capa de New Teen Titans #13 (1981), onde os Novos Titãs se deparam com um estropiado Homem-Robô. Arte de George Pérez e Romeo Tanghal.

Entre 1978 e 1983 a nova Patrulha do Destino deu o ar da sua graça nos gibis Superman Family (dedicado a personagens coadjuvantes da mitologia do Homem de Aço), DC Comics Presents (que apresentava encontros do Superman com outros heróis da DC Comics) e The Daring New Adventures of Supergirl, e todas estas histórias são esquecíveis em uma análise generosa. Todavia, no final de 1981 entre as edições #13 e #15 de The New Teen Titans o escritor Marv Wolfman e o desenhista George Pérez colocaram os Novos Titãs em uma pequena saga que envolvia uma tentativa de domínio de Zândia (uma nação que abrigava terroristas internacionais) pelo General Zahl e Madame Rouge, a iniciativa de desforra de Mento e do Homem-Robô contra os algozes da Patrulha do Destino original e a volta de Cérebro e Monsieur Mallah, que lideravam uma nova formação da Irmandade Negra. No final desta aventura o General Zahl e Madame Rouge morreram, e a equipe liderada por Niles Caulder finalmente foi vingada, mas… a Patrulha do Destino precisaria esperar um pouco mais de tempo para voltar à baila.

Capa de Secret Origins Annual #1 (1987), que visitou a origem das duas formações da Patrulha do Destino. Arte de John Byrne.

Paul Kupperberg admitiu que a sua inexperiência pesou quando a nova Patrulha do Destino foi criada em 1977, mas ainda assim esses personagens tinham um lugar reservado no seu coração, tanto que em 1987 ele convenceu a DC Comics a dar uma nova chance para eles. A reestreia da equipe ocorreu em Secret Origins Annual #1, em uma história desenhada por John Byrne que recontou a origem das duas versões da equipe, e prosseguiu em Doom Patrol #1, onde Celsius, Vendaval, Homem-Robô e Mulher-Negativa (que da mesma forma que o Homem-Negativo foi obrigada a cobrir todo o seu corpo com bandagens) se reuniram e bateram de frente com Kalki, o enlouquecido pai de Arani Caulder que acreditava ser a reencarnação de uma divindade hindu.

Capa de Doom Patrol #8 (1988), onde na segunda formação da Patrulha do Destino parte para o ataque. Arte de Erik Larsen e Arthur Adams.

As intenções de Paul Kupperberg com o novo gibi da Patrulha do Destino certamente eram as melhores, mas os seus roteiros não cativaram os leitores e muito menos Steve Lightle e Erik Larsen, os desenhistas incumbidos de Doom Patrol. Para aproximar o titulo das tendências que faziam sucesso nos anos oitenta — tipo X-Men e Novos Titãs — Kupperberg enxertou três adolescentes superpoderosos (Rhea Jones, Scott Fischer e Wayne Hawking) na equipe, mas as coisas não melhoraram, e então delicadamente o escritor foi convidado a se retirar de Doom Patrol após a edição #18, e o escocês Grant Morrison foi chamado para o seu lugar.

Experimentos Narrativos

Grant Morrison adorava tanto a Patrulha do Destino original quanto experimentos narrativos, e decidiu que sua passagem por Doom Patrol seria no mínimo “radical”: exceto pelo Homem-Robô ele enxotou a maioria dos personagens da segunda formação da equipe; recolocou o Chefe (que havia voltado do Mundo dos Mortos durante da fase de Paul Kupperberg) na liderança da equipe; e introduziu dois novos heróis no time:

Capa de Doom Patrol #21 (1989), onde o Homem-Robô, Rebis e Crazy Jane enfrentam os Homens-Tesoura, acólitos da dimensão de Orqwith. Arte de Richard Case.

Crazy Jane (Kay Challis): Acometida de Transtorno Dissociativo de Identidade, a jovem Kay Challis apresentava sessenta e quatro personalidades distintas, e cada uma delas tinha uma habilidade sobre-humana diferente. A criação de Crazy Jane foi inspirada em Truddi Chase, autora do livro autobiográfico When Rabbits Howls (sem tradução para o Português), que narra a sua luta contra a dissociação de identidade.

Rebis: uma criatura hermafrodita com habilidades e aparência parecidas com as do Homem-Negativo, Rebis surgiu quando o Espirito Negativo fundiu os corpos da médica Eleanor Poole com Larry Traynor, o seu antigo hospedeiro que havia sido ressuscitado durante o período de Paul Kupperberg.

Postas as novas peças no tabuleiro, ao lado do desenhista Richard Case em 1989 Grant Morrison assumiu a Patrulha do Destino a partir de Doom Patrol #19, e de cara colocou os heróis em oposição a Orqwith, uma realidade ficcional imaginada por filósofos e cientistas que tomou vida e ameaçou o nosso plano de existência.

Página final de Doom Patrol #26 (1989), onde o Sr. Ninguém convoca a Irmandade do Dadá para espalhar o caos! Arte de Richard Case e John Nyberg.

Com roteiros ora intelectualmente desafiadores, ora quase incompreensíveis e repletos de referências literárias Grant Morrison levou a Patrulha do Destino a embates fora do convencional, e como exemplo podemos citar a esdrúxula aventura publicada entre os números #26 e #29 de Doom Patrol, onde o Sr. Ninguém e a Irmandade do Dadá (um grupo de super-humanos dedicados a espalhar a anarquia e o senso de absurdo mundo afora) literalmente aprisionaram a cidade de Paris dentro de uma pintura do Século XVIII. E, acreditem: tudo isso foi só o começo!

Novas Caras

Aos poucos Grant Morrison foi agregando novas caras a sua estranhíssima versão da Patrulha do Destino, entre elas a de Dorothy Spinner, uma adolescente de aparência simiesca capaz de materializar os seus “amigos imaginários” criada por Paul Kupperberg, e que se tornou integrante da equipe em Doom Patrol #23.

Dorothy Spinner convoca seus “amigos imaginários”, em arte extraída de Who’s Who #10 (1991). Arte de Richard Case.

Mais adiante Grant Morrison pretendia usar o mago inglês John Constantine em uma breve saga da Patrulha do Destino, mas o veto dos editores a sua utilização (que então era um anti-herói supostamente “realista demais” para atuar ao lado da equipe de Niles Caulder) obrigou o autor escocês a criar Willoughby Kipling, um feiticeiro beberrão visualmente modelado a partir de um personagem vivido pelo ator suazi-britânico Richard E. Grant na comédia de humor negro Os Desajustados.

O mago Willoughby Kipling fuma um cigarro em uma esquina qualquer, em arte extraída de Who’s Who #10 (1991). Arte de Stan Woch.

Juntos, a Patrulha do Destino e Willoughby Kipling encararam um grupo de necromantes que pretendia iniciar o Apocalipse entre as edições #31 e #33 de Doom Patrol, e “casualmente” tal história guardava algumas semelhanças conceituais com “Gótico Americano”, um longo arco narrativo escrito pelo lendário Alan Moore e publicado em 1985 e 1986 no gibi Swamp Thing, onde o elemental Monstro do Pantano e John Constantine mediram forças contra… um grupo de necromantes que pretendia iniciar o Apocalipse! Uma pequena observação: é de conhecimento público que Alan Moore e Grant Morrison nunca foram um com a cara do outro…

Página de Doom Patrol #35 (1990), onde Danny, A Rua visita uma velha amiga. Arte de Richard Case e John Nyberg.

Doom Patrol #35 foi um gibi muito interessante, pois trouxe a estreia de dois personagens no mínimo “fora da caixinha”. O primeiro era Danny, A Rua, uma vizinhança (com prédios, casas, lojas, etc.) senciente e travesti (sim, travesti!) capaz de se materializar em qualquer canto da Terra e que foi criada por Grant Morrison em homenagem a Danny La Rue, um entertainer e drag queen irlandês que fez muito sucesso na Grã-Bretanha entre os anos cinquenta e o início do Século XXI. As “peculiaridades” de Danny, A Rua a tornaram alvo dos Homens de N.E.N.H.U.R.E.S., uma organização dedicada ao extermínio de tudo que fosse “fora do normal”, mas com a providencial ajuda da Patrulha do Destino a vizinhança autoconsciente conseguiu sobreviver aos seus algozes.

O Herói dos “Musculos Mistério” parte ao resgate na capa de Flex Mentallo #1 (1996). Arte de Frank Quitely.

O segundo estreante de Doom Patrol #35 era Flex Mentallo, um brutamonte semelhante ao fisiculturista ítalo-americano Charles Atlas que vivia em Danny, A Rua e cujo poder era distorcer a realidade ao flexionar os seus poderosos “músculos mistério”. Pelo visto Morrison se afeiçoou ao musculoso herói, tanto que em 1996 ele produziu ao lado do desenhista conterrâneo Frank Quitely uma minissérie em quatro capítulos pra-lá-de-bizarra, que chamou a atenção do espólio de Charles Atlas, que sem dó nem piedade abriu um processo contra da DC Comics por uso indevido de sua marca registrada. Alegando que se tratava de uma paródia e não da utilização imprópria de um trademark conhecido a editora ganhou a pendenga jurídica.

O mais estranhas possíveis

As histórias da Patrulha do Destino concebidas por Grant Morrison arrancaram elogios rasgados da crítica e do público, inclusive de Arnold Drake, o criador da versão original da equipe, mas… tudo que é bom um dia acaba, só que antes de ir embora Morrison sacudiria um pouco mais as coisas.

Em Doom Patrol #57 os leitores souberam que por “debaixo dos panos” Niles Caulder estava construindo o Pensotanque, um computador capaz de construir milhões de nanomáquinas, que posteriormente seriam soltas no meio ambiente com o propósito de remodelar o mundo de acordo com sua visão. Para piorar tudo o Chefe também revelou que por puro capricho ele foi o responsável direto pelos acidentes que arruinaram as vidas de Rita Farr, Larry Trainor e Cliff Steele e lhes deram superpoderes. No final das contas Niles Caulder foi morto pelo Candelabro, um dos “amigos imaginários” de Dorothy Spinner.

Niles Caulder abre o jogo com um estupefato Homem-Robô na última página de Doom Patrol #56 (1992). Arte de Richard Case e Stan Woch.

Grant Morrison se despediu de forma definitiva da Patrulha do Destino em 1993 com Doom Patrol #63, gibi que foi concluído com Rebis, Crazy Jane e o Homem-Robô encontrando o seu final feliz ao se mudarem para Danny, O Mundo, uma nova e expandida versão da rua senciente. Contudo, a as aventuras do time de esquisitões reunido por Niles Caulder estava longe de terminar, já que a sua série mensal foi assumida por Rachel Pollack.

Taróloga, escritora especializada em Fantasia e a primeira autora assumidamente transexual a ingressar na indústria mainstream de quadrinhos dos EUA, Rachel Pollack era admiradora do trabalho de Grant Morrison na Patrulha do Destino, e após um lobby intenso junto ao editor Tom Peyer ela assumiu os roteiros da revista. Aliás, a partir da chegada de Pollack na edição #64 o gibi migrou para a Vertigo, um selo editorial descolado da continuidade convencional da DC Comics e dedicado a publicação de HQs mais maduras e sofisticadas.

Cena de Doom Patrol #70 (1993), que apresentou aos leitores o “peculiar” vilão Tapa-Sexo. Arte de Scot Eaton e Tom Sutton.

Rachel Pollack procurou manter as coisas em relação a Patrulha do Destino o mais estranhas possíveis, levando em Doom Patrol #67 a equipe a transformar a Violet Valley’s Rainbow Estates — uma propriedade habitada pelos fantasmas de pessoas que morreram em acidentes sexuais (!?) — em sua base de operações. Graças as nanomáquinas criadas pelo Pensotanque o megalomaníaco Niles Caulder continuava vivo na forma de uma cabeça separada do seu corpo original, e novos inimigos encararam a equipe, como Tapa-Sexo (Codpiece no original em Inglês, um esquisitão que tinha uma “arma multitarefa” na região pélvica), os Construtores (Builders no original em Inglês, uma agência governamental dedicada a investigação e combate de bizarrices) e A Raposa e o Corvo, duas entidades espirituais vinculadas a Natureza que foram uma homenagem de Pollack a dois personagens infantis homônimos cujas histórias foram publicadas pela DC Comics entre 1951 e 1968.

Capa de Doom Patrol #83 (1994), onde o Casal de Bandagens se diverte! Arte de Kyle Baker.

Naturalmente novos heróis precisavam se integrar a Patrulha do Destino, e atendendo ao pedido de Tom Peyer a resoluta Rachel Pollack criou o Casal de Bandagens (The Bandage People, no original em Inglês), uma dupla que durante anos foi prisioneira dos Construtores e cuja criação remetia tanto ao Homem-Negativo original quanto ao bem-humorado casal de fantasmas que estrelava o filme e seriado televisivo Topper e o Casal do Outro Mundo. Outra personagem interessante foi Falsa Memória (False Memory, no original em Inglês), uma criatura extradimensional capaz de instilar lembranças felizes nas pessoas. Mas a passagem de Pollack pela Patrulha do Destino foi marcada por uma certa heroína um pouco diferente do usual.

Cena de Doom Patrol #70 (1993), onde Coagula explica a sua origem secreta. Reparem no buttom pregado na jaqueta da heróina, que traz a frase “coloquem uma transexual lésbica na Suprema Corte”! Arte de Scot Eaton e Tom Sutton.

Baseada tanto na vida das suas amigas Kate Bornstein (uma conhecida acadêmica, artista e militante LGBTIQA+) e Chelsea Goodwin quanto na sua experiência pessoal Rachel Pollack criou Kate Godwin, uma ex-prostituta que após uma noite de amor com Rebis adquiriu habilidade de dissolver objetos com uma mão e solidificá-los com a outra. Adotando o epíteto heroico de Coagula, a adorável Srta. Godwin se integrou a Patrulha do Destino a partir de Doom Patrol #70 e causou um certo rebuliço entre os leitores, já que ela… foi a primeira heroína transexual da DC Comics.

As HQs redigidas por Rachel Pollack tinham inegáveis méritos artísticos, mas infelizmente eles não se refletiram nos gráficos de vendas, e um fato inevitável ocorreu: após lançamento da edição #87 Doom Patrol foi cancelada no final de 1994. Por um certo período o time fundado por Niles Caulder ficou esquecido em algum lugar perdido da Mitologia da DC Comics, mas ele voltaria…

Juntos novamente pela primeira vez

A Continuidade é uma ferramenta narrativa onde diversos personagens de uma editora possuem revistas próprias, porém compartilham de forma coerente o mesmo contexto ficcional e linha temporal, e as histórias ocorridas em um gibi podem ter impacto direto ou indireto em outras publicações. Tal conceito tem norteado o quadrinho americano de super-herói nos últimos sessenta anos, porém desde o início do Século XXI a DC Comics tem tido sérias dificuldades em executá-lo com consistência, e uma das principais vítimas desse problema foi justamente a Patrulha do Destino, como veremos a seguir.

Capa de Doom Patrol #4 (2002), que traz as duas Patrulhas do Destino patrocinadas por Thayer Jost. Arte de Tan Eng Huat e Dave Stewart.

Em 2001 pelas mãos do escritor John Arcudi e do desenhista malaio Tan Eng Huat a Patrulha do Destino voltou a se relacionar com o universo fictício convencional da DC Comics através do relançamento do gibi Doom Patrol. A versão da equipe concebida por Arcudi e Huat era patrocinada pelo bilionário Thayer Jost e apresentava o Homem-Robô liderando quatro heróis novatos e esquisitões: Fast Forward, Kid Slick, Fever e Freak. Mais para frente Jost patrocinou uma versão da Patrulha do Destino mais “amigável” para o grande público, que tinha heróis conhecidos como Mutano, Homem Elástico (sem relação com a Mulher-Elástica!), Doutora Luz e Metamorfo, e com o objetivo de tentar atrair os antigos apaixonados pela fase de Grant Morrison e Rachel Pollack as aventuras elaboradas por Arcudi e Huat trouxeram referências a personagens como Dorothy Spinner, Coagula e Crazy Jane. Todavia… os fãs não caíram de amores pelo trabalho dos quadrinistas e a revivida série da Patrulha do Destino durou apenas vinte e duas edições.

Capa de Doom Patrol #3 (2004), onde a repaginada Patrulha do Destino de John Byrne se apresenta para o combate. Arte de John Byrne.

A carreira de John Byrne foi marcada pelos reboots totais ou parciais de personagens importantes como Superman, Homem-Aranha e Mulher-Maravilha. Dada a sua expertise com a recriação de heróis foi natural o convite para que o quadrinista anglo-canadense reformulasse completamente a Patrulha do Destino. Tirando proveito de um arco narrativo da Liga da Justiça publicado em 2004 entre as edições #94 e #99 do gibi JLA e fazendo uso do mote “juntos novamente pela primeira vez” Byrne (ao lado do seu antigo parceiro Chris Claremont) lançou uma novíssima e zerada Patrulha do Destino, constituída pelos velhos Niles Caulder, Rita Farr, Larry Trainor e Cliff Steele e sem nenhuma relação cronológica com as versões anteriores da equipe.

A repaginada versão de John Byrne para a equipe de Niles Caulder ganhou revista própria em 2004, e em suas dezoito edições os leitores se depararam com aventuras interessantes, porém relativamente tradicionais. Byrne até agregou três jovens heróis esquisitos (Grunt, Nudge e Vortex) ao time, porém o grande destaque de seu período a frente da Patrulha do Destino foi o romance que ele estabeleceu entre o Homem-Robô e a Mulher-Elástica.

Capa de Doom Patrol #1 (2009), onde Keith Giffen apresentou a sua versão da Patrulha do Destino. Arte de Matt Clark.

Através dos talentos de Keith Giffen e Matt Clark em 2009 a Patrulha do Destino ganhou novamente uma série mensal para chamar de sua, e de lambuja teve as suas fileiras preenchidas por novos integrantes como a Abelha, Mal Duncan (dois antigos membros dos Titãs) e o Besouro Bisonho. Crazy Jane e Danny, A Rua tiveram participações especiais nos roteiros elaborados por Giffen, porém para a infelicidade dos apaixonados pela Patrulha do Destino as baixas vendas forçaram o cancelamento da série após vigésimo segundo número.

Página de encerramento de Justice League #31 (2014), onde a Patrulha do Destino se prepara para encarar a Liga da Justiça. Arte de Doug Mahnke.

Entre 2011 e 2016 a Patrulha do Destino fez aparições especiais nos demais gibis da DC Comics, e cada roteirista mostrava a equipe da forma que melhor lhe interessava: as vezes ela era retratada conforme a visão original de Arnold Drake; outras vezes eram feitas referências aos membros da equipe do período de Paul Kupperberg. Por cortesia de Geoff Johns e Doug Mahnke uma versão quase maligna da equipe (reforçada pela Moça-Elemento) surgiu em 2014 nas páginas de Justice League #31 e bateu de frente com a Liga da Justiça ao tentar capturar Jessica Cruz (que depois se tornaria uma Lanterna Verde). E assim a Patrulha do Destino foi indo, até o momento em que um certo roqueiro cruzou o seu caminho.

Mãozinhas de fã

Além de ser mundialmente conhecido como vocalista da banda de rock My Chemical Romance o nerd de primeira categoria Gerard Way sempre foi um apaixonado pela Nona Arte. Por causa dessa paixão junto com o desenhista brasileiro Gabriel Bá a partir de 2007 Way produziu a multipremiada série em quadrinhos The Umbrella Academy, que apresentava claras influências da Patrulha do Destino do Grant Morrison. As semelhanças entre as obras de Way e Morrison não ocorreram a toa, tanto que o músico é amigo do roteirista escocês, que chegou a ter uma participação especial (e absolutamente canastrona!) no videoclipe da canção Na Na Na. Diante desses fatos foi natural que Way colocasse as suas mãozinhas de fã na Patrulha do Destino.

Capa de Doom Patrol #1 (2016), onde Casey Brinke (a direita da imagem) e Terry None (a filha do Sr. Ninguém) recolhem os “restos mortais” do Homem-Robô. Arte de Brian Bolland.

Em 2016 a DC Comics anunciou aos quatro cantos do mundo Young Animal, uma divisão editorial focada no relançamento de antigos e obscuros personagens com uma visão mais adulta e contemporânea, e que contava com a curadoria de Gerard Way. Doom Patrol foi o título de estreia do novo selo, e em suas doze edições ao lado do desenhista Nick Derington o talentoso Way contou uma aventura divertida e com forte acento pop, que de forma surpreendente foi protagonizada por Casey Brinke, uma técnica de emergência médica que na verdade era uma super-heroína, que na verdade… era um construto concebido por Danny, A Rua (que agora assumia a forma de uma ambulância!), e que a pedido da sua criadora deveria reunir os antigos membros da Patrulha do Destino para enfrentarem um grupo de alienígenas conhecido como Vectra.

Capa de Doom Patrol: Weight of the Worlds #1 (2019), onde os heróis da Patrulha do Destino se confraternizam. Arte de Nick Derington.

Gerard Way continuou a armar as suas estripulias com a Patrulha do Destino em Doom Patrol: The Weight of the Worlds, série publicada entre 2019 e 2020 que nos seus sete números em meio a um conjunto caótico de histórias soltas (produzidas em parceria com vários quadrinistas renomados, entre eles Becky Cloonan, James Lambert, Steve Orlando, Evan Shaner, etc.) mostrou Cliff Steele tentando se adaptar a um novo corpo humano e trouxe as participações especiais de Mento e Mutano. E, para finalizar tudo Way arquitetou um encontro da Liga da Justiça com a Patrulha do Destino em “Guerras Lácteas”, um crossover dos personagens da Young Animal com os heróis consagrados da DC Comics, que foi publicada em 2018 numa série de edições especiais.

E enquanto isso… o produtor televisivo Jeremy Carver decidiu aprontar umas loucuras nas telinhas de televisão do mundo inteiro…

Um Programa de Tevê Próprio

Em 2018 a Patrulha do Destino finalmente ganhou uma versão live-action em “Doom Patrol”, quarto episódio da primeira temporada da série televisiva Titãs. Essa foi a oportunidade para que em 2019 e equipe de Niles Caulder se tornasse protagonista de um programa de tevê próprio, comandado pelo produtor Jeremy Carver e com um elenco encabeçado por atores de peso como Timothy Dalton (Chefe), Brendan Fraser / Riley Shanahan (Homem-Robô), Matt Bomer / Matthew Zuk (Homem-Negativo), April Bowlby (Mulher-Elástica), Diane Guerrero (Crazy Jane), Abi Monterey (Dorothy Spinner) e Joivan Wade (Cyborg, membro dos Titãs “emprestado” para a série da Patrulha do Destino).

Poster da segunda temporada da série televisiva da Patrulha do Destino.

Em seus quarenta episódios divididos em quatro temporadas o seriado da Patrulha do Destino se inspirou diretamente no trabalho de Grant Morrison e prestou homenagens a histórias produzidas por Arnold Drake, Paul Kupperberg, Rachel Pollack e Gerard Way. Tal inspiração fez com que os esquisitões criados por Arnold Drake rompessem de forma radical com o modelo narrativo dos recentes filmes e séries de aventureiros fantasiados, apresentando aos telespectadores histórias estranhíssimas repletas de reviravoltas e personagens que no mínimo desafiavam o senso comum do que é ser “super-herói’.

Capa de Unstoppable Doom Patrol #1 (2023), onde a equipe se torna uma unidade de resgate de super-humanos. Arte de Chris Burnham e Nick Filardi.

Cancelada em 2023, a série televisiva da Patrulha do Destino certamente a apresentou para um público mais amplo, e então foi previsível que a DC Comics concedesse para a equipe uma minissérie de seis edições, batizada com o singelo nome de Unstoppable Doom Patrol. Nesse projeto o roteirista Dennis Culver e o desenhista Chris Burnham trarão de volta o Homem-Robô, Mulher-Elástica e Homem-Negativo, que terão uma nova missão: resgatar, proteger e treinar super-humanos em situação de risco. Para dar um “molho” a equipe terá dois novos integrantes: a adolescente Garota-Fera (Beast-Girl no original em Inglês, uma clara homenagem a Mutano) e Degenerado (Degenerate no original em Inglês), um brutamonte disforme dotado de enorme força física. Toda essa cambada excêntrica será comandada por uma nova versão da Chefe, no caso a mais recente personalidade que emergiu da psiquê multifragmentada de Crazy Jane. Esta minissérie promete no mínimo ser interessante… e esquisita!

Chegamos ao Fim

E assim chegamos ao fim da longa saga da Patrulha do Destino, e nesse momento precisamos passar algumas informações críticas para aqueles que não dispensam gibis impressos nas suas prateleiras ou porões:

Capa de Doom Patrol: The Silver Age Omnibus (2017), encadernado que reúne todas as histórias da Patrulha do Destino produzidas por Arnold Drake e Bruno Premiani. Arte de J. Bone.

● A clássica origem da Patrulha do Destino elaborada por Arnold Drake, Bob Haney e Bruno Premiani e originalmente publicada em My Greatest Adventure #80 pode ser encontrada no encadernado DC Comics: Coleção de Graphic Novels #132, lançado pela Eaglemoss em 2021. Infelizmente a maioria absoluta da produção de Drake e Premiani não chegou ao Brasil.

● O surgimento da Patrulha do Destino de Paul Kupperberg e Joe Staton aportou em nossa terrinha no gibi Patrulha da Lei (Edição Extra de Cinemin), publicado pela saudosa Editora Ebal em 1981. Excetuando um breve crossover com o Superman publicado pela última vez no Brasil em 2022 no gibi Saga do Superman #11 as aventuras de Celsius, Mulher-Negativa e Vendaval continuam inéditas em Português.

● O período em que Grant Morrison escreveu os roteiros da Patrulha do Destino foi publicado na íntegra pela Panini em seis encadernados lançados entre 2016 e 2017. Em 2022 todas essas histórias foram reunidas em Patrulha do Destino Por Grant Morrison, um “tijolo” com mais de mil páginas. Todavia, as HQs da superequipe escritas por Rachel Pollack nunca chegaram as mãos dos leitores brasileiros.

● As aventuras da Patrulha do Destino produzidas pelas duplas John Arcudi / Tan Eng Huat e Keith Giffen / Matt Clark permanecem inéditas em nosso patropi abençoado por Deus. Já “Décimo Círculo” — a saga da Liga da Justiça que introduziu a Patrulha do Destino de John Byrne — foi publicada pela Panini em 2005 no gibi DC Especial #7. Para a infelicidade dos fãs as histórias que Byrne criou para a equipe de Niles Caulder não foram disponibilizadas por aqui.

● As edições de Doom Patrol elaboradas por Gerard Way e Nick Derington foram apresentadas ao público brasileiro em duas edições de capa dura lançadas pela Panini em 2019. A mesma Panini reuniu todas as histórias de Doom Patrol: Weight of the Worlds no encadernado Patrulha do Destino: O Peso dos Mundos, enquanto em 2020 a saga “Guerras Lácteas” foi colecionada em uma edição especial homônima.

● Ah, antes que nos esqueçamos: a série televisiva da Patrulha do Destino está disponível na íntegra no serviço de streaming HBO Max!

Todavia… antes de nos despedirmos precisamos falar algo importante. Durante a produção deste artigo no momento em que coletávamos informações sobre a Coagula tomamos conhecimento no dia 7 de abril de 2023 do falecimento de Rachel Pollack, a sua criadora. Setenta e Oito Graus de Sabedoria: Uma Jornada de Autoconhecimento Através do Tarô e seus Mistérios é a única obra de Pollack lançada no Brasil, e a nossa esperança é que num futuro não muito distante seus outros escritos estejam disponíveis para o publico brasileiro. Então… este artigo é dedicado a esta grande autora.

E agora, sem maiores delongas com muito prazer falamos:

E TENHO DITO!

Para saber mais:

Wikipedia: Doom Patrol

Twomorrows: American Comic Book Chronicles — The 1960s — 1960–1964

Twomorrows: American Comic Book Chronicles — The 1960s — 1965–1969

Twomorrows: Back Issue #5

Twomorrows: Back Issue #65

DK Publishing: DC Comics Year by Year A Visual Chronicle

DK Publishing: DC Comics Encyclopedia All-New Edition

DCU Guide: Lista de Aparições da Patrulha do Destino nos EUA até 2011

Guia dos Quadrinhos: Lista de Aparições da Patrulha do Destino no Brasil

13th Dimension: Treze imagens em homenagem a Patrulha do Destino

Comic Book Resources: Dez histórias fundamentais da Patrulha do Destino

Comic Book Resources: Dez fatos curiosos sobre o Homem-Robô

Comic Book Resources: As dez histórias mais estranhas da Patrulha do Destino escritas por Grant Morrison

Comic Book Resources: Os dez membros mais esquisitos da Patrulha do Destino

Screen Rant: A Origem de Willoughby Kipling

Comic Book Resources: A importância de Danny, A Rua

The Comics Journal: Entrevista com Rachel Pollack

Polygon: A Origem de Coagula e a presença de personagens transexuais na DC Comics

Comic Book Resources: Grant Morrison não assistiu ao seriado televisivo da Patrulha do Destino

Comics The Beat: o lançamento de The Unstoppable Doom Patrol

Grand Comics Database: My Greatest Adventure (1955)

Grand Comics Database: Doom Patrol (1964)

Grand Comics Database: Showcase (1956)

Grand Comics Database: Doom Patrol (1987)

Grand Comics Database: Doom Patrol (2001)

Grand Comics Database: Doom Patrol (2004)

Grand Comics Database: Doom Patrol (2009)

Grand Comics Database: Doom Patrol (2016)

Grand Comics Database: Doom Patrol: The Weight of the Worlds (2019)

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Claudio Basilio
sobrequadrinhos

Apenas um rapaz latino-americano que gosta de falar de Quadrinhos e Cultura Pop. E de outros assuntos também!