A TERRA NA ROTA FATAL! O CROSSOVER QUE O TEMPO ESQUECEU!

Claudio Basilio
sobrequadrinhos
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7 min readDec 5, 2020

Ah, o que é essa tal de Nostalgia, sentimento que eventualmente arrebata o nosso pobre coração? Acabei de falar essa frase cretina porque de tempos em tempos me relembro de HQs que li a trinta e poucos anos atrás, quando eu era apenas uma criança pequena morando na sempre adorável cidade de Santos. Bem, um dia desse adentrei os subterrâneos das minhas memórias “nérdicas” e eis que me lembrei do gibi Edição Extra de Invictus, publicado em 1979 pela saudosa editora Ebal. Esse gibizinho das antigas será o alvo de um “recuerdo” neste blog e razão que me motivou a falar dele é simples: essa revista trouxe o primeiro megacrossover que eu li na minha vida! Só que, antes de falar do gibi em si e da aventura trazida dentro dele vamos tentar discutir o que é um “crossover” e relatar como essa revista veio parar nas minhas mãos…

Capta da revista Edição Extra de Invictus, lançada pela editora Ebal em setembro de 1979, e que trazia a aventura “A Terra na Rota Fatal”.

Vamos lá… O que é um crossover? Conceitualmente falando é a aparição de dois ou mais personagens de quadrinhos da mesma editora ou de editoras diferentes na mesma aventura. Resumindo: uma história onde dois super-heróis que usualmente não se encontram e que repentinamente aparecem em um bar tomando uma caninha pode ser definido como um crossover. Dito isso, é mais do que óbvio afirmar que crossover nos quadrinhos é uma coisa mais velha que andar para frente, só que sabemos que por mais divertido que seja dois mascarados bebendo juntos uma pinga ou trocando catiripapos o tipo de crossover que realmente atiça os fãs é aquele que reúne a maior quantidade possível e impossível de heróis. O que realmente faz a alegria dos gibizeiros são os megacrossovers, minha gente!

Página de abertura de “A Terra na Rota Fatal”, que mostra alguns dos principais heróis da DC Comics reunidos no satélite da Liga da Justiça.

E então… a primeira vez que eu me deparei com esse tipo de aventura foi em meados de 1983, ano em que eu dava início a minha “carreira de nerd” colecionando gibis da Marvel lançados pela Editora Abril. Naquela época eu detestava qualquer coisa da DC Comics, porém não me fazia de rogado quando alguma revistinha da “Distinta Concorrência” parava na minha mão e a lia com um certo prazer envergonhado. E foi o que aconteceu quando um colega de escola me emprestou Edição Extra de Invictus, lançada pela Ebal em setembro de 1979 e que trazia a aventura A Terra na Rota Fatal, publicada originalmente em 1978 na revista comemorativa Showcase #100 com o título There Shall Come a Gathering (Haverá uma reunião). E já que falamos a pouco em “prazer envergonhado”, antes de descrever A Terra na Rota Fatal podemos falar o seguinte dessa aventura: ela é completamente desprovida de pés e cabeça e ainda assim é absolutamente divertidíssima!

Adam Strange, Lanterna Verde, Flash e Átomo rumam para o espaço com o propósito de impedir a mudança da órbita terrestre.

Tudo começou quando misteriosamente o planeta Terra começou a ser deslocado de sua órbita. As consequências desse estranho fenômeno não tardaram a surgir: o tecido do Tempo e Espaço esgarçou-se e repentinamente surgiram no século XX animais pré-históricos e pessoas das mais diversas épocas. Diante dessa crise a maioria dos super-heróis rumou para o satélite da Liga da Justiça, com o propósito de traçar um plano para deter a catástrofe que ocorria.

Um estranho conclave… Reunidos no escritório de Angel O’Day e Sam Simeon se encontram o pré-histórico Anthro (o primeiro rapaz da Terra), a super-equipe conhecida como Quinteto Inferior, Cabelos-de-Fogo (um herói dos tempos do Faroeste), Bat Lash (também da época do Velho Oeste) e o aventureiro futurista Léo Futuro (Tommy Tomorrow).

Após essa reunião a história se divide em quatro linhas narrativas: na primeira uma equipe composta pelo Lanterna Verde, Flash, Átomo e Adam Strange vai para o espaço, com o propósito de deter o deslocamento orbital da Terra; enquanto isso em “terra firme” os Desafiadores do Desconhecido aliados ao Rastejante e a enxerida jornalista Lois Lane decidem investigar uma misteriosa estrutura alienígena que do nada apareceu. Coincidentemente o caubói Bat Lash, a investigadora particular Angel O’Day (parceira do simiesco Sam Simeon) e o herói futurista Léo Futuro (Tommy Tomorrow) também se deparam com essa estranha estrutura e resolvem confirmar as suas origens. Enquanto isso os demais heróis se espalharam pelo globo terrestre, lidando com todo tipo de problema temporal que aparecesse na frente deles.

Juntos, os Homens Metálicos e a Turma Titã enfrentam ameaças vindas do Passado.

No espaço o grupo liderado pelo Lanterna Verde se depara com uma nave espacial e no confronto que se seguiu os heróis contaram com a providencial ajuda do herói espacial do século XXII conhecido como Ranger do Espaço (Space Ranger) e do seu parceiro Cryl. Derrotar a nave não foi suficiente para restabelecer a órbita natural da Terra, e para dar uma “mãozinha” aos heróis surge do nada o Vingador Fantasma, que valendo-se dos seus dons místicos invoca a mais poderosa de todas as criaturas sobrenaturais… o Espectro! E aí, não demorou muito para a Manifestação da Ira Divina usar seus vastos poderes para literalmente “empurrar” nosso planeta de volta para a sua posição orbital original. Só que nem mesmo o Espectro estava conseguindo realizar tal feito.

Convocado pelo Vingador Fantasma, surge o Espectro, que logo se coloca a disposição para dar uma “mãozinha”…

Enquanto isso a misteriosa estrutura alienígena na Terra foi invadida por Lois Lane e Angel O’Day. Não demorou muito para os sistemas de defesa da estrutura partirem com tudo para cima das heroínas, só que destemidamente as duas conseguem chegar ao centro da estrutura, e após destruir os controles localizados por lá as entidades extraterrestres que habitavam a estrutura são expulsas da Terra. No espaço, todos os heróis presentes unem suas forças de vontade ao poder do Espectro, que finalmente consegue botar nosso planetinha em sua órbita correta. Assim que este feito é realizado todos os heróis deslocados no tempo como Bat Lash, Ranger do Espaço e Léo Futuro voltam para as suas respectivas eras, a paz se reestabelece na Terra e tudo termina bem, como quase sempre acontece no Mundo Encantado dos Quadrinhos.

Lois Lane e Angel O’Day invadem a misteriosa estrutura alienigena.

Como falamos aqui esta aventura reuniu boa parte do panteão heroístico da DC Comics e é divertida pra caramba apesar de alguns absurdos, como por exemplo não ficar claro quem é o vilão (ou vilões) e quais são as motivações por trás dos atos deles. Mas tudo bem, vamos deixar isso de lado e botar o foco em algumas curiosidades por trás dessa história. Vocês perceberam que em nenhum momento citamos o Superman, o Batman e a Mulher-Maravilha? Pois é, deliberadamente os escritores Paul Kupperberg e Paul Levitz (os responsáveis pela concepção dessa aventura) deixaram a “Santíssima Trindade” da DC Comics de fora deste megacrossover porque intenção deles ao bolar esta pequena saga era reunir apenas personagens que passaram pela revista Showcase. Ora, para quem não sabe durante toda a sua carreira editorial a Showcase adquiriu uma enorme importância histórica nos EUA, já que diversos personagens fundamentais da DC Comics estrearam em suas páginas nos anos cinquenta e sessenta, fazendo com que ela se transformasse no berço da Era de Prata dos quadrinhos americanos.

Os heróis se unem ao Espectro para fazer com que a Terra volte para a sua órbita natural.

Além disso, prestem atenção em algumas coisas que descrevemos por aqui: a Terra diante de uma catástrofe nunca antes vista… heróis de diferentes épocas repentinamente surgindo e participando da ação… a aparição decisiva do Espectro. Pô, isso não está parecendo Crise nas Infinitas Terras? Pois é, essa simpaticíssima aventura apresentou com sete anos de antecedência uma série de elementos que posteriormente fizeram parte da maior saga da história da DC Comics! E sabem o que é mais interessante em tudo isso? Toda a ação dessa aventura transcorre em apenas trinta e quatro páginas, razoavelmente bem desenhadas por Joe Staton! E pensar que nos dias de hoje roteiristas “consagrados” não conseguem desenvolver uma história decente em “apenas” sete edições…

E no final tudo termina bem… como tem que ser em uma boa história de super-heróis!

E para encerrarmos… em 1983 me deparei com esta aventura e como eu já disse senti um certo “prazer envergonhado” ao lê-la. Infelizmente fui obrigado a devolver o gibi para o meu colega de escola, e por causa disso sou obrigado a falar: se alguém tiver a Edição Extra de Invictus perdida em algum lugar da coleção de gibis ou então encontrá-la em algum sebo… Por favor, aceito doações!

E TENHO DITO!

Para saber mais:

Comic Book Resources — Showcase #100

Guia dos Quadrinhos — A Terra na Rota Fatal

DC Fandom — Showcase #100

Comic Vine — Showcase #100

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