O QUARTETO FANTÁSTICO DE JOHN BYRNE!

Claudio Basilio
sobrequadrinhos
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15 min readJan 25, 2021

Fazia tempo que queríamos falar sobre esse tema. Porém, quando misturamos na mesma cumbuca falta de tempo, bloqueio criativo e um profundo amor pelo assunto em questão as coisas ficam complicadas! Mas com jeitinho conseguimos sair do outro lado… e também com jeitinho publicamos em nosso humilde blog um texto sobre um dos mais “fantásticos” momentos da história da Marvel Comics. Dito isso e sem querer fazer trocadilhos involuntários… iremos falar aqui sobre as histórias do Quarteto Fantástico produzidas por John Byrne! Nos acompanhem nesta jornada!

O Fascínio

John Lindley Byrne nasceu na boa e velha Inglaterra em 1950, e ainda pequerrucho migrou para o Canadá. “Ainda pequerrucho” ele também teve contato com o material da DC Comics através de publicações inglesas e australianas, mas aí o Destino quase que literalmente bateu na sua porta, quando por volta de 1962 caiu em suas mãos Fantastic Four #5, gibi que trouxe a estreia dele… o Doutor Destino, o grande arqui-inimigo do Quarteto Fantástico!

Byrne gostou do leu em Fantastic Four #5 e passou a comprar de forma esporádica as revistas do Quarteto, porém a adolescência e a vida adulta foram chegando e ele meio que deixou os quadrinhos de lado. Aí no começo da década de setenta Byrne se matriculou na Alberta College of Art com o objetivo de se tornar ilustrador profissional, e durante uma rápida passagem por um sebo ele trombou com um pacote de gibis que tinha todas as edições do Quarteto lançadas até aquele momento. E.. após passar um final de semana mergulhado nos delírios criativos de Stan Lee e Jack Kirby o simpático artista anglo-canadense meio que decidiu que se tornaria quadrinista!

Página de amostra produzida por John Byrne no começo dos anos setenta, durante o início da sua carreira como quadrinista.

Para os jovens fãs de hoje talvez seja difícil compreender o fascínio que o Quarteto Fantástico de Lee e Kirby exerceu em Byrne, e para isso precisamos analisar um certo contexto histórico. Mais do que a pedra angular que lançou o Universo Marvel que conhecemos, quando no final de 1961 a Casa das Ideias levou para as bancas de jornal Fantastic Four #1 uma revolução sem precedentes ocorreu no Quadrinho Americano e no gênero “super-herói”: de repente os leitores se depararam com uma equipe obviamente constituída por exploradores e heróis superpoderosos, mas ao contrário dos “arrumadinhos” defensores da Lei e da Ordem que pululavam nos gibis da época Reed Richards (Senhor Fantástico), Ben Grimm (Coisa), Johnny Storm (Tocha Humana) e Susan Richards (Garota Invisível) não se furtavam em exibir suas identidades civis e muito menos suas contradições psicológicas. E, é claro, havia ação em doses cavalares, que levava o Quarteto para os confins mais remotos do espaço sideral ou então para “reinos encantados” como Atlântida, Latvéria, Atillan ou Wakanda. Dito isso, foi natural para Byrne produzir em seus primeiros portfólios de artista semi-profissional páginas que prestavam homenagem ao material de Lee e Kirby.

Página de amostra produzida por John Byrne no começo dos anos setenta, durante o início da sua carreira como quadrinista.

E então… no transcorrer da década de setenta Byrne cavou o seu espaço no Mercado Americano de Quadrinhos, mais especificamente na Marvel Comics, desenhando séries como Iron Fist (Punho de Ferro), The Champions (Os Campeões), Marvel Team-Up (revista de encontros do Homem-Aranha com outros heróis da Casa das Ideias), The Avengers (Vingadores) e, por fim, ele se tornou um superastro ao produzir The Uncanny X-Men em parceria com Chris Claremont. Faltava pouco para Byrne desenhar seus heróis da infância…

Primeira Passagem

Byrne já havia desenhado alguns integrantes do Quarteto em histórias publicadas em Marvel Team-Up e Marvel Two-In-One (gibi que mostrava parcerias do Coisa com diversos heróis da Marvel), até que no início de 1979 ele teve a oportunidade de escrever e desenhar uma divertida aventura para a quinquagésima edição de Marvel Two-In-One onde o sobrinho favorito da Tia Petúnia quebrou o pau com uma versão de si mesmo vinda do Passado! Mas esta foi apenas a “pré-estreia” de Byrne no Quarteto.

Capa de Marvel Two-In-One #50, onde o Coisa enfrenta uma antiga versão de si mesmo. Esta foi a primeira história de um integrante do Quarteto Fantástico escrita e desenhada por Byrne.

Ainda em 1979 Byrne se associou aos roteiristas Marv Wolfman e Bill Mantlo e aos arte-finalistas Joe Sinnott e Pablo Marcos e a partir de Fantastic Four #209 passou a produzir a arte do gibi do Quarteto Fantástico por quase um ano. O grande destaque deste período foi um arco de histórias mais conhecido pelos antigos fãs brasileiros como a “Saga do Esfinge”, que começou na revista do Nova e onde o Esfinge (um imortal nascido no Egito do Antigo Testamento) adquire um poderes quase absolutos e decide destruir a Terra. Sem nenhuma outra opção o Quarteto pede ajuda para a única entidade no universo capaz de fazer frente ao vilão egípcio: Galactus! Obviamente, o Devorador de Mundos derrotou o Esfinge e tudo ficou bem, né? Aliás… vamos falar bastante de Galactus por aqui!

Capa de Fantastic Four #214, revista que conclui a “Saga do Esfinge”.

Findada a parceira com Wolfman e Mantlo o sempre simpático Byrne ainda escreveu e desenhou para os gibis Fantastic Four #220 e #221 uma pequena história em duas partes sobre alienígenas “encalhados” na Terra, e encerrou a sua primeira passagem pelo Quarteto Fantástico. Mas ele voltaria… e em grande estilo!

A Volta

Em 1980 Byrne continuou a trabalhar em The Uncanny X-Men e assumiu ao lado do escritor Roger Stern por um breve (e excepcional!) período a série Captain America (Capitão América). Divergências editoriais e artísticas o fizeram abandonar os dois títulos, mas aí em 1981 Jim Shooter (então editor-chefe da Marvel) candidamente perguntou para Byrne se ele estaria interessado em voltar para a revista do Quarteto Fantástico, e de bate-pronto ele aceitou a proposta.

Originalmente Byrne ficaria encarregado apena dos roteiros da revista, cuja arte ficaria sob responsabilidade de Bill Sienkiewicz, porém o artista escolhido preferiu se dedicar a outros projetos. Sem outras opções interessantes a disposição Byrne também assumiu os desenhos, e aí ele chamou Terry Austin (seu parceiro artístico em The Uncanny X-Men) para arte-finalizar a revista, só que… Austin estava comprometido com outros gibis! Resultado final: Byrne se encarregou dos scripts, lápis e nanquim de Fantastic Four, se tornando um dos primeiros quadrinistas a produzir quase que inteiramente sozinho um gibi na Marvel!

Capa de Fantastic Four #232, revista que marcou a volta de Byrne ao Quarteto Fantástico como escritor, desenhista e arte-finalista do titulo.

E assim com as devidas pompas e circunstâncias Fantastic Four #232 marcou a volta de John Byrne ao Quarteto Fantástico, em uma aventura fechada batizada com o titulo “De volta ao Princípio!” (Back to the Basics!), onde a equipe enfrentou Diablo, um dos seus mais antigos inimigos.

De Volta ao Princípio!” era mais do nome de uma historinha do Quarteto Fantástica bem escrita e bem desenhada; na verdade era uma declaração sobre tudo aquilo que Byrne pretendia fazer em Fantastic Four, ou seja: retomar os elementos mais essenciais do período em que as aventuras da equipe eram produzidas por Lee e Kirby, ressaltando tanto o aspecto de exploradores quanto o lado “família” do Quarteto. E isso é perceptível no visual dos personagens!

Model sheet elaborado por Byrne no inicio da sua segunda passagem pelo Quarteto Fantástico, onde foram definidos os padrões artísticos que seriam seguidos por ele.

Ora, antes de Byrne os artistas que desenhavam o Quarteto vestiam Reed, Johnny e Sue com o seu clássico macacão azul absurdamente colado ao seus corpos. De forma sutil Byrne revisitou as primeiras aparições do Quarteto e ajustou o design desses personagens, deixando o macacão ligeiramente mais folgado e com dobras e vincos visíveis, além de alongar a sua gola, fazendo-a cobrir quase todo o pescoço dos personagens. O sempre agradável Ben Grimm vestia apenas uma sunga azul, mas Byrne também realizou ajustes na sua aparência, desenhando-o — segundo as suas próprias palavras — como uma “estrela-do-mar”, ou seja, deixando seus membros superiores e inferiores disformes, com o propósito de ressaltar o aspecto “monstruoso” do herói. E, creiam: Byrne ainda tinha muitas outras surpresas reservadas para o Quarteto!

A Nova Trilogia

Inicialmente Byrne investiu na produção de histórias curtas para o Quarteto, divididas em no máximo três edições, porém houveram espaços para algumas experimentações narrativas, como a que ocorreu em Fantastic Four #234, onde a aventura “Força Oculta!” (The Man with the Power!) é quase toda narrada do ponto de vista de um homem idoso que na verdade é a pessoa mais poderosa da Terra. Outro exemplo é “Quatro contra Ego” (Four Against Ego!), história publicada em Fantastic Four #235 onde a despeito do título sobra para o Coisa a responsabilidade de encarar sozinho Ego, o Planeta Vivo, uma criatura cósmica que como o próprio nome sugere era dotada de proporções planetárias.

Capa de Fantastic Four #2335, onde o Quarteto Fantástico enfrente Ego, o Planeta Vivo. E antes que perguntem: sim, este é o principal vilão do filme Guardiões da Galáxia Vol. 2!

Conforme sua proposta quase todas as primeiras histórias que Byrne produziu para o o Quarteto evocavam direta ou indiretamente conceitos criados por Lee e Kirby, porém faltava ao artista anglo-canadense prestar suas homenagens aquela que era considerada a maior história da Marvel até então… era necessário celebrar e resgatar A Trilogia de Galactus!

A Trilogia de Galactus” foi originalmente publicada no começo de 1966 em três partes entre as quadragésima oitava e quinquagésima edições de Fantastic Four, e começou com um misterioso alienígena chamado Surfista Prateado chegando em nosso planetinha. Assim que botou os pés aqui o Surfista enviou um sinal para o espaço com o propósito de convocar o seu mestre, conhecido como Galactus, o Devorador de Mundos. No desenrolar da trama descobrimos que Galactus é uma entidade ancestral e toda poderosa que sobrevive graças a absorção da energia emanada da biosfera de planetas com vida, e apenas graças a intervenção do Vigia (um extraterrestre encarregado de observar e registra a história do nosso planeta) e de um redimido Surfista Prateado o Quarteto conseguiu derrotá-lo. Mas esta vitória teve um preço, já que o Devorador de Mundos aprisionou o seu arauto rebelde na Terra por tempo indeterminado.

Capa de Fantastic Four #243, onde o Quarteto Fantástico (aliados aos Vingadores) enfrentam Galactus.

Hoje fãs e pesquisadores de quadrinhos são unanimes em afirmar que “A Trilogia de Galactus” elevou os padrões de qualidade do Quadrinho Americano, e Byrne a recriou com brilhantismo nas edições #242, #243 e #244 de Fantastic Four, que em sua versão principia de forma parecida com a original, com Terrax (o novo e cruel arauto de Galactus) fugindo do seu mestre e buscando abrigo na Terra. Um Devorador de Mundos a beira da inanição veio no encalço do seu servo, e na batalha que se seguiu o improvável aconteceu: Galactus foi derrotado e ficou a beira da morte. Tal fato impôs um dilema moral para os heróis: seria correto salvar a vida de um monstro responsável pela morte de bilhões de seres sencientes? Reed Richards optou por impedir o falecimento de Galactus, que agradecido prometeu nunca mais atacar o nosso planeta.

Entretanto um fato inesperado e que grande medida “rimou’ com o final da versão da Trilogia de Lee e Kirby ocorreu: desejando se “libertar” das amarras da sua vida terrestre Frankie Raye (namorada de Johnny Storm e enteada de Phineas Horton, o criador do Tocha Humana Original) se ofereceu para servir como arauta de Galactus, que prontamente aceitou a oferta, batizando-a de Nova.

E, acreditem: em um futuro não muito distante esta nova trilogia criada por Byrne teria enorme impacto na mitologia que constitui o Universo Marvel…

A Saga do Uniforme Negro

No início de 1983 Byrne finalmente concebeu um arco mais longo de histórias, que geralmente é chamado pelos fãs de “A Saga da Zona Negativa”. Publicada entre Fantastic Four #251 e #256 (e com um capítulo adicional em The Avengers #233), neste aventura o Quarteto Fantástico decidiu explorar a fundo a Zona Negativa, uma dimensão paralela a nossa e constituída essencialmente de antimatéria.

Capa de Fantastic Four #252, que assim como suas páginas internas foi desenhada com orientação horizontal para explicitar os aspectos extradimensionais da Zona Negativa.

O mote “exploratório” desta saga permitiu a Byrne trabalhar outras paixões e influências pessoais, como a série televisiva Star Trek e os contos sci-fi do escritor Robert Heinlein, e dentro dela houve também espaço para experimentações narrativas, como a que ocorreu “Fuga da Cidade” (Cityscape), história publicada em Fantastic Four #252 cuja arte foi totalmente produzida na horizontal, com o objetivo de ressaltar o aspecto “extradimensional” da Zona Negativa. E, no término de “A Saga da Zona Negativa” Byrne executou uma jogada editorial nunca feita até então: ele modificou os uniforme do Quarteto Fantástico, alterando a cor do clássico macacão de azul para negro-azulado com detalhes em branco!

Arte produzida por Byrne para o fanzine Comics Feature #27, onde os integrantes do Quarteto Fantástico “comentam” os novos uniformes negro-azulados.

Por que Byrne escureceu a roupa do Quarteto? Basicamente porque ele queria fazer uso de uma técnica artística conhecida em inglês como “spotting blacks”, onde a presença de áreas escuras dão mais peso e contraste para uma ilustração. E, obviamente um uniforme negro seria perfeito para a aplicação dela.

O Julgamento

Falamos bastante de Galactus aqui, não é mesmo? Pois é… o Devorador de Mundos precisava se alimentar, e em Fantastic Four #257 ele destruiu o planeta natal dos skrulls, uma das raças alienígenas mais beligerantes do Universo Marvel e inimigos de longa data do Quarteto Fantástico. Tal tragédia precisava ser retaliada… e seria!

Capa de Fantastic Four #257, onde Galactus destrói o planeta de origem dos skrulls.

Uma aliança entre vários impérios intergalácticos e populações sobreviventes da fome de Galactus se formou com um único objetivo: julgar — e certamente executar — Reed Richards, o homem que salvou a vida do Devorador de Mundos e era responsável (ainda que de forma indireta) pela genocídio ocorrido no planeta dos skrulls. E assim Richards foi capturado e levado a julgamento por essa aliança em Fantastic Four #262, e no transcorrer da audiência — que através de recursos metalinguísticos contou com a presença pessoal do próprio John Byrne! – um dos momentos mais importantes da história do Universo Marvel ocorreu.

Capa de Fantastic Four #262, onde o papel de Galactus no Universo Marvel finalmente foi definido.

Quando Stan Lee e Jack Kirby apresentaram Galactus para os fãs em Fantastic Four #48 e contaram a sua origem em The Mighty Thor #169 o definiram como uma entidade cósmica que transcendia os conceitos maniqueístas de “Bem” ou “Mal”, porém as aparições subsequentes do Devorador de Mundos muitas vezes careciam de uma melhor caracterização de sua personalidade e principalmente de uma explicação sobre o seu propósito no ordenamento universal. De forma hábil em Fantastic Four #262 Byrne explicou que a “função” de Galactus era “testar” os mundos dotados de vida senciente, ou seja: apenas os planetas que escapassem incólumes da voracidade da força da natureza que era o Devorador de Mundos seriam, digamos assim, “dignos” de sobreviver até o destino derradeiro que era o Fim do Universo.

O resultado final do julgamento foi a absolvição de Reed Richards, mas algumas grandes mudanças aguardavam o Quarteto Fantástico em um futuro não muito distante!

Mulheres

Nunca foi segredo para ninguém que o Coisa sempre foi o personagem favorito de John Byrne no Quarteto Fantástico, tanto que ele encabeçou ao lado do desenhista Ron Wilson o lançamento de uma série mensal do sobrinho favorito da Tia Petúnia em 1983. Porém, de forma inesperada uma advogada chamada Jennifer Walters — que era prima de um certo gigante verde chamado Hulk — “roubaria” o coração do quadrinista. Sim, meus caros: estamos falando da Mulher-Hulk (She-Hulk)!

A Mulher-Hulk foi criada por Stan Lee e John Buscema em 1980 com um único propósito: garantir para a Marvel os direitos sobre a marca “She-Hulk”. Talvez por causa disso em suas primeiras aparições ela apresentasse a profundidade psicológica de um pires, mas o escritor Roger Stern a levou para o gibi dos Vingadores e a transformou em uma heroína divertida, que ao contrário do seu atormentado primo adorava ser superforte e ter mais de dois metros de altura. Byrne viu tudo isso e desejando usá-la no Quarteto Fantástico ele pediu a personagem “emprestada” para Roger Stern… e, naturalmente, se “esqueceu” de devolvê-la!

Página interna de Fantastic Four #265, que oficializou a Mulher-Hulk como integrante do Quarteto Fantástico.

No passado outros heróis como Cristalys, Medusa e Luke Cage substituíram temporariamente integrantes do Quarteto Fantástico, entretanto nenhum fã imaginou que a Mulher-Hulk entraria na equipe justamente no lugar do Coisa. E também ninguém pensou que ela permaneceria por um período tão longo na equipe, período esse que começou em 1984 na revista Fantastic Four #265 — logo após a conclusão do polêmico crossover Guerras Secretas (Secret Wars) — e que se estendeu até o início de 1987.

Aliás, a presença da prima do Hulk do no Quarteto Fantástico permitiu a Byrne explorar um pouco do seu lado humorístico, como na histórica publicada em Fantastic Four #275, onde Jennifer Walters encarou… paparazzis e pornógrafos! Ah, e como um pouquinho de amor não faz mal a ninguém a Mulher-Hulk engatou um romance com Wyatt Wingfoot, um aliado de longa data do Quarteto.

Capa de Fantastic Four #275, onde a Mulher-Hulk encara paparazzis inescrupulosos.

Já falamos aqui que o Coisa era o favorito de Byrne? Pois é… o segundo integrante do Quarteto mais querido do artista era a Garota Invisível, e desde a época de Lee e Kirby a adorável Susan Richards sempre foi caracterizada apenas como a grande “mãezona” da equipe. Byrne estava prestes a mudar isso…

Em um arco de histórias publicado entre Fantastic Four #279 e #284 o Quarteto Fantástico enfrentou o Homem Psíquico, um velho adversário extradimensional da equipe dotado da habilidade de manipular emoções alheias. A Garota Invisível foi vítima dos dons do Homem Psíquico, que expôs todos os medos e antigos rancores que a consumiam por dentro, mas como boa heroína que sempre foi Susan Richards consegui suplantar o vilão e superar seus dramas interiores. E decidiu também que havia chegado o momento de jogar a alcunha “Garota Invisível” na lata do lixo e assumir um novo nome heroico: Mulher Invisível!

Cena interna de Fantastic Four #284, onde Susan Richards assume o nome heróico de Mulher Invisível.

Mas porque Byrne mudou o nome da heroína? O próprio artista deu a explicação óbvia: não fazia o menor sentido uma personagem com mais de trinta anos de idade, mãe de um garoto e com anos de experiência como super-heroína ser chamada de “Garota”! Ah, antes que perguntem: esta mudança não foi percebida no Brasil, porque desde as suas primeiras aparições na nossa terrinha a personagem sempre foi conhecida como Mulher Invisível.

E no fim de tudo…

Arte-finalistas como Joe Sinnott, Al Gordon, P. Craig Russell e Jerry Ordway passaram a fazer parte da equipe criativa do Quarteto e Byrne foi tocando de forma bem sucedida as coisas… com alguns percalços no meio do caminho, é claro! Há na Indústria Americana de Quadrinhos um longo “folclore” sobre a personalidade “difícil” do quadrinista anglo-canadense, que “tretou” com quase todos os editores de Fantastic Four com que trabalhou, e de “treta em treta” esses conflitos chegaram a Jim Shooter, o poderoso editor-chefe da Marvel. Por fim, esses antagonismos somados a um natural desgaste criativo após cinco anos de produção ininterrupta e a um convite da DC Comics para recriar o Superman fizeram John Byrne parar de produzir aventuras do Quarteto Fantástico em 1986, após a publicação de Fantastic Four #294.

O Tempo passou, e entre os fãs de quadrinhos de super-heróis se formou o consenso que a passagem de Byrne pelo Quarteto Fantástico foi um dos momentos mais marcantes da Marvel nos anos oitenta. E não são poucos que consideram o seu trabalho superior ao de Lee e Kirby! E justamente por isso Byrne recusou convites que a Marvel fez para ele retornar ao Quarteto Fantástico. Afinal de contas, como ele mesmo diz: competir com lendas como Lee e Kirby é muito difícil e competir com a sua própria lenda é praticamente impossível!

Hoje Byrne produz artes encomendadas por fãs e de vez em quando cria um quadrinho aqui e outro acolá para a editora americana IDW Publishing, e apesar das recentes investidas de C. B. Cebulski (atual editor-chefe da Marvel) nada indica que em um futuro próximo ele retornará para qualquer personagem da Casa das Ideias. Uma pena… mas quem sabe um dia… ele volte a fazer companhia para Reed, Ben, Johnny e Susan! É o que esperamos do fundo do nosso coração!

Capa da décima-quarta edição de Marvel Age, uma espécie de fanzine oficial da Marvel. Através de uma homenagem a capa de Fantastic Four #1 o sempre simpático Byrne “interage” com o Quarteto Fantástico.

Para finalizarmos este “textão” precisamos lembrar que as histórias do Quarteto concebidas por Byrne foram publicadas no Brasil pela Editora Abril entre 1986 e 1991 nas revistas Homem-Aranha e Grandes Heróis Marvel. Entre 2005 e 2008 a Panini botou nas bancas a coleção Os Maiores Clássicos do Quarteto Fantástico, que publicou parte das histórias de Byrne e que foi cancelada após o lançamento do quarto volume. E, em 2021 a mesma Panini disponibilizou para os fãs Quarteto Fantástico por John Byrrne Vol. 1 — Marvel Omnibus, uma monstruosa edição de mais de mil páginas similar a lançada no mercado americano e que reúne praticamente todas as primeiras aventuras do Quarteto que tem algum envolvimento criativo de John Byrne. Ansiosos, estamos aguardando o segundo volume!

E TENHO DITO!

Para saber mais:

Mestres Modernos — John Byrne

Universo HQ Entrevista — John Byrne

ByrneRobotics — Site Oficial de John Byrne

Grand Comic Database — Fantastic Four

Guia dos Quadrinhos — Fantastic Four

Marvel.com — John Byrne’s Fantastic Four

SyFy Behind the Panels — John Byrne’s Fantastic Four

Overview — Omnibus do Quarteto Fantástico

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Claudio Basilio
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Apenas um rapaz latino-americano que gosta de falar de Quadrinhos e Cultura Pop. E de outros assuntos também!