OK, EIXO… AÍ VAMOS NÓS!
OU SE VOCÊS PREFERIREM: A HISTÓRIA DOS INVASORES!
01) APAIXONADO PELA ERA DE OURO
O escritor, editor e pesquisador Roy Thomas sempre foi loucamente apaixonado pelos super-heróis da chamada Era de Ouro do Quadrinho Americano. Ele nasceu em 1940 e nem mesmo o fato de ser uma criança “analfabetizada” no auge deste período (que está situado mais ou menos entre 1940 e 1946) o impediu de se interessar pelos heróis fantasiados da Timely Comics (antigo nome da Marvel) como o Capitão América, Príncipe Submarino, Tocha Humana Original, Miss América, Patriota, Destruidor, Ciclone e outros.
Thomas cresceu, enviou toneladas de missivas para a Marvel e DC, se envolveu na produção de fanzines, se tornou professor de Inglês do Ensino Médio e, por fim virou em 1964 um dos primeiros fanboys a trabalhar profissionalmente na Indústria Americana de Quadrinhos. Até que, finalmente ele teve a chance de brincar com seus amados heróis dos anos quarenta!
Em 1974 Thomas renunciou ao cargo de editor-chefe da Marvel (muito trabalho e pouca grana, né?) e recebeu de Stan Lee (que na época exercia na editora a função de publisher, uma espécie de diretor-geral de publicações) carta branca para escrever e editar um novo título do seu inteiro gosto. Após matutar um “tantinho” e depois matutar um “tantão” Thomas finalmente tirou da sua cachola a seguinte premissa : e se… os heróis da Timely que praticamente não se encontravam (salvo os clássicos confrontos do Príncipe Submarino com o Tocha Humana) ficassem frente a frente. E se… no auge da Segunda Guerra Mundial esses mesmos heróis se unissem em uma superequipe, que enfrentaria as forças do Eixo nas frentes de batalha? E assim nasceram… os INVASORES!
Mas, alto lá! Na verdade a gênese dos Invasores é um pouquinho mais complexa do que isso…
02) UM ESQUADRÃO VITORIOSO
No segundo semestre de 1946 a Timely lançou no gibi All-Winners Comics #19 o Esquadrão Vitorioso (All-Winners Squad), um grupo de heróis que tinha em suas fileiras Capitão América, Príncipe Submarino, Tocha Humana Original, Bucky, Centelha, Miss América e Ciclone. Pelo visto nem o talento do escritor Bill Finger (sim, o co-criador do Batman!) e dos melhores desenhistas da Timely fizeram com que a equipe caísse no gosto do público e após mais uma aparição (desta vez em All-Winners Comics #21) a equipe desapareceu como se nunca tivesse existido.
E aí chegamos aos anos sessenta. Lee e Thomas trocavam várias ideias entre si, e uma delas envolvia a criação de uma dupla heroica que reuniria o Hulk e o Príncipe Submarino, e que seria proverbialmente chamada de “Invasores”. A proposta não foi adiante porque na mesma época foi lançada a série televisiva sci-fi “Os Invasores” (já pensaram se a Marvel lança um gibi com o mesmo nome de um seriado?), mas serviu de semente para anos depois Thomas criar os Defensores, uma das principais equipes “disfuncionais” da Marvel. Mas vocês acham que é só isso? Eu vos digo que não!
No final de 1969 a Marvel enviou para as bancas de jornal a revista Avengers #71, onde Thomas e o desenhista Sal Buscema fizeram o viajante temporal Kang jogar parte dos Vingadores na França ocupada pelos nazistas, onde eles bateram de frente com o Capitão América, Tocha Humana Original e Namor. Obviamente os Vingadores se deram bem nesse confronto, mas esta história ficou rondado pela cabeça de Thomas, rondando, até que… voltamos para 1974!
Thomas propôs para Lee um relançamento do Esquadrão Vitorioso, mas esbarrou em um problema: seu chefe detestava o nome da equipe! Então Thomas se lembrou do nome “Invasores”, e pegando o gancho de Avengers #71 refez a sua proposta, criando uma equipe constituída por Namor, Tocha Humana e Capitão América, com os devidos acréscimos dos parceiros juvenis Centelha e Bucky.
03) A ESTREIA OFICIAL
E então… com a arte do artista veterano Frank Robbins a equipe estreou oficialmente em 1975 no gibi especial Giant-Size Invaders #1, em uma trama cronologicamente situada no fim de 1941. Nesta aventura o Capitão, Tocha e Namor enfrentaram uma conspiração nazista que visava o assassinato do Primeiro-Ministro Winston Churchill e após um contratempo aqui e outro acolá eles conseguiram salvar o Chefe de Governo britânico, que no final de tudo sugeriu que os heróis se reunissem formalmente em uma equipe que teria como objetivo encarar a ameaça do Eixo tanto no território dos Aliados quanto além-mar.
Uma das coisas que sempre incomodaram Thomas na produção da Timely dos anos quarenta era a quase ausência de supervilões de respeito em suas histórias. Por isso desde o seu lançamento e durante toda a publicação da série regular dos Invasores (que estreou no segundo semestre de 1975) Thomas fez questão de rechear a as aventuras da equipe com uma nova e original leva de malfeitores, que contava com nomes como Grande Mestre, Mulher Guerreira, Netuno, Brain Drain e Lady Lotus. Até mesmo o Poderoso Thor os Invasores encararam, em uma trama onde fazendo uso de sua proverbial lábia Hitler induziu o Filho de Odin a tentar assassinar o ditador soviético Josef Stálin! Porém, o mais aterrador inimigo dos Invasores provavelmente foi o Barão Sangue, um vampiro inglês que se associou aos nazistas, e a sua aparição marcou a estreia de dois novos heróis britânicos: Union Jack (uma espécie de Capitão América inglês) e a velocista Spitfire, que adquiriu seus poderes após uma transfusão de sangue com o Tocha Humana.
Mas feliz que pinto no lixo, Thomas se refestelou com os Invasores. Talvez as suas histórias não fossem obras-primas, porém inegavelmente elas enriqueceram a Mitologia da Marvel, estreitando e detalhando os relacionamentos entre os seus heróis da Era de Ouro e até mesmo criando uma nova equipe constituída pelos personagens de segundo escalão da Timely, e que foi patrioticamente batizada com o nome de Liberty Legion (Legião da Liberdade). Porém toda alegria tem fim e em 1979 o gibi dos Invasores foi cancelado após a quadragésima primeira edição. Não sem deixar consequências profundas no Universo Marvel, principalmente um conjunto enorme de inconsistências cronológicas!
04) ESSA TAL DE CONTINUIDADE…
Vejam bem… desde os anos sessenta o principal diferencial da Marvel em relação a sua “Distinta Concorrência” foi a concepção e execução de um universo ficcional coerente e amarrado, onde ações ocorridas em uma aventura do Homem-Aranha anos depois poderiam gerar consequências em uma história dos Vingadores, por exemplo. Para efeitos de simplificação vamos chamar aqui este conceito de “Continuidade” e, sejamos francos: o advento dos Invasores fuzilou a Continuidade da Marvel! Vamos tentar explicar como isso aconteceu.
Quando o Capitão América foi acrescido a fileiras dos Vingadores na revista Avengers #4 Stan Lee e Jack Kirby definiram que em 1945 o Sentinela da Liberdade entrou em animação suspensa e foi despertado do seu sono pelos Maiores Heróis da Terra. E aí começam os “probremas”, porque neste mesmo gibi o Capitão e Namor ficaram frente a frente e… agiram como nunca tivessem se encontrado antes, em uma clara contradição a tudo que foi mostrado nas aventuras dos Invasores publicadas anos depois! E vocês se lembram do Esquadrão Vitorioso, equipe que citamos neste artigo? Como seria possível a participação do Capitão no Esquadrão se a equipe surgiu em 1946? E como explicar as várias aparições do Sentinela da Liberdade em vários gibis da Timely no final dos anos quarenta e nos anos cinquenta?
De forma hábil Thomas e outros escritores da Marvel (como Roger Stern, Steve Englehart e John Byrne) contornaram essas situações. A justificativa para a “estranheza” entre o Namor e Capitão em Avengers #4 foi feita através de duas explicações: devido a sua natureza híbrida atlante/humana de tempos em tempos o Príncipe Submarino era acometido de crises esquizofrênicas, que lhe causavam perdas de memória; e durante a Segunda Guerra o Capitão recebeu alguns implantes de memórias falsas (para não revelar informações confidenciais caso fosse capturado pelos inimigos), que aliada a sua desorientação após seu longo período de hibernação nublaram as suas lembranças dos anos quarenta.
Já a presença do Capitão América no Esquadrão Vitorioso mereceu outro tipo de elaboração. Em 1977 na revista What If… #4 (que aqui no Brasil é mais conhecida como “O que aconteceria se…”) Thomas e Frank Robbins mostraram que próximo do término da Segunda Guerra o Capitão América e Bucky foram oficialmente dados como mortos, mas isso não impediu o presidente americano Harry Truman de em 1945 pedir aos membros dos Invasores que continuassem atuando como um time. Para isso a equipe foi reforçada com Miss América e Ciclone e o manto do Capitão América e Bucky passou a ser envergado respectivamente por Willian Naslund (que anteriormente atuava com a alcunha heroica de Independente - Spirit of 76, no original) e pelo jovem Fred Davis. E, após o fim da Grande Guerra não fazia mais sentido um nome bélico como “Invasores” e então a equipe foi rebatizada como Esquadrão Vitorioso.
O Esquadrão Vitorioso viveu suas aventuras conforme elas foram publicadas originalmente em 1946, até o segundo Capitão América falecer em ação ao enfrentar o androide Adam II. Coube a Jeff Mace (outrora conhecido como Patriota) se tornar o terceiro Capitão América, até a sua aposentadoria em 1949. E aí em 1953 o professor de História Willian Burnside se tornou o quarto Capitão América, se dedicou a uma louca caçada aos comunistas e ativistas sociais, mas… sobre isso a gente fala outro dia!
Todas as histórias que citamos aqui não se prestaram apenas a adaptar a cronologia da Marvel ao Invasores, mas também para justificar para os fãs radicais e apaixonados por Continuidade as aparições do Capitão América nos gibis da Timely entre 1946 e 1954, já que segundo Stan Lee e Jack Kirby neste período o Sentinela da Liberdade estava tirando uma reconfortante soneca. Resumindo: tudo para agradar os malucos de Cronologia e Continuidade!
05) E NO FIM…
E então… o gibi dos Invasores foi cancelado em 1979, né? Apesar da curta duração de sua série os Invasores deixaram marcas indeléveis no Universo Marvel, e de tempos em tempos a velha equipe é revisitada pela nova geração de autores. Do seu cancelamento para cá eles fizeram participações especiais em outras revistas, estrelaram minisséries e até mesmo ganharam novas séries, que foram rapidamente canceladas. Mas, o que importa mesmo é o fato de suas aventuras trazerem e reforçarem sempre duas verdades eternas da Vida:
✔ Nazista não é gente;
✔ Bater em nazista é bom!
E TENHO DITO!
Para saber mais:
● Grand Comics Database — The Invaders: https://www.comics.org/series/2251/covers/
● Guia dos Quadrinhos — Aparições no Brasil: http://www.guiadosquadrinhos.com/personagem/gibis-com/invasores/331
● Wikipedia — The Invaders: https://en.wikipedia.org/wiki/Invaders_(comics)
● Wikipedia — Lista de Personagens da Marvel da Era de Ouro: https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_Marvel_Comics_Golden_Age_characters