OS DEZ MELHORES “O QUE ACONTECERIA SE…’ DE TODOS OS TEMPOS!

Claudio Basilio
sobrequadrinhos
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18 min readAug 8, 2021

Em determinados momentos da nossa vida nos perguntamos em qual direção ela iria se tivéssemos tomado esta ou aquela decisão. Agora, imaginem esta situação aplicada as revistas em quadrinhos da Marvel. O resultado final desta elucubração foi What if? (“E se?”, em um tradução literal), uma das séries mais fascinantes da história da Casa das Ideias, e que no Brasil ficou mais conhecida graças aos tradutores da Editora Abril como “O que aconteceria se…”, embora o pessoal da Editora RGE a chamasse de “E se…”! Vamos falar um pouquinho sobre ela!

Tudo começou quando em 1974 o editor e escritor Roy Thomas renunciou ao cargo de editor-chefe da Marvel e ainda assim recebeu de Stan Lee (que na época atuava como publisher, uma espécie de diretor-geral de publicações) uma “carta-quase-branca” para bolar novos títulos para editora. Thomas estava muito interessado em trabalhar com vários personagens da editora, porém não queria ficar amarrado as convenções cronológicas da continuidade da Casa das Ideias. Para se livrar deste “entrave” o roteirista formulou a proposta de criar uma série ambientada em realidades alternativas muito similares ao Universo Marvel tradicional, com a diferença que em momentos-chave os heróis tomariam decisões que levariam suas histórias para desdobramentos inesperados. E então… entre fãs e pesquisadores de quadrinhos se estabeleceu uma certa discussão sobre a origem da inspiração de Thomas para o novo projeto.

Capa de Detective Comics #347, que trouxe a “História Imaginária” “A Estranha Morte de Batman”, que muitos consideravam uma das inspirações para a série “O que aconteceria se…”. Arte de Carmine Infantino.

Muita gente acreditava que Thomas foi influenciado pelas “Histórias Imaginárias”, um conjunto de aventuras publicadas pela DC Comics entre os anos cinquenta e início dos setenta que brincava livremente com as mais estapafúrdias possibilidades criativas, e como exemplo deste tipo de narrativa podemos citar “A Estranha Morte de Batman” (que foi apresentada para os leitores da nossa amada terrinha pela última vez em 2010 no encadernado Batman 70 Anos #4, da Panini, e que nos EUA saiu em 1966 em Detective Comics #347), que mostrava o Protetor de Gotham City sendo assassinado por um adversário chamado Saltador e onde a expressão “what if” foi utilizada pelo escritor Gardner Fox.

Muita gente também acreditava que Thomas meio que “roubou” a sua ideia do “Multiverso DC”, outra convenção da DC Comics que preconizava a existências de universos semelhantes ao nosso que seriam separados por vibrações dimensionais. Entretanto, em várias entrevistas que concedeu no transcorrer dos últimos anos de forma veemente e educada o escritor descartou a possibilidade de sua inspiração ser originária de alguma história da principal concorrente da Marvel. Na verdade, a ideia de realidades alternativas já era amplamente disseminada na Ficção Cientifica desde o lançamento em 1884 do livro Planolândia: Um Romance de Muitas Dimensões e segundo Thomas o seu conceito se originou a partir do gosto de Stan Lee por frases dramáticas, e uma das que o publisher da Casa das Ideias mais gostava de usar era justamente “what if…”. Tendo isso em mente Thomas apresentou o novo projeto para o seu chefe com este nome e recebeu prontamente o aval dele para desenvolvê-lo. Porém, se analisarmos as coisas com um certo cuidado perceberemos que Thomas aplicou em “What if?” pelo menos uma premissa muito manjada no Quadrinho Americano!

Capa de What if? #1, que mostrou o Homem-Aranha como membro do Quarteto Fantástico. Arte de John Buscema.

Os quadrinhos de Terror da EC Comics, Warren e até mesmo os da DC Comics usavam e abusavam dos “anfitriões” (“hosts”, na expressão original em Inglês), personagens que apresentavam e narravam as histórias para os leitores. Em “What if?” Thomas utilizou o Vigia como anfitrião das aventuras alternativas da Marvel, mas… quem diabos é esse cara?

Criado por Stan Lee e Jack Kirby em 1963 para o gibi Fantastic Four #13, o Vigia habitava a Lua terrestre e era oriundo de uma das mais antigas raças alienígenas do Universo. Destinado a observar e registrar — e a apenas observar e registrar! — a História da nossa galáxia, o Vigia era uma figurinha relativamente fácil nas revistas da Marvel nos anos sessenta e setenta, e como Uatu (seu verdadeiro nome) atuava quase sempre como “historiador” ele era meio que uma escolha óbvia para narrar os contos alternativos que seriam publicados em “What if?”.

Página de abertura de What if? #1, onde o Vigia inicia o relato do conto alternativo onde Amigão da Vizinhança se tornou integrante do Quarteto Fantástico. Arte de Jim Craig.

E assim… no início de 1977 as bancas de jornal estadunidenses receberam a primeira edição de “What if?”, onde o Vigia relatava uma aventura onde o Homem-Aranha se tornou membro do Quarteto Fantástico. Com o tempo a série foi cancelada e relançada várias vezes, apresentou novos artistas para os leitores e, apesar de seu conteúdo muitas vez irregular uma coisa ninguém pode negar: quase todas as histórias de “What if?” eram instigantes, tanto que este conceito será utilizado em uma animação televisiva homônima e integrada ao Universo Cinematográfico da Marvel. E só por causa disso elencaremos aqui na ordem original de publicação nos EUA dez das melhores “O que aconteceria se…” lançadas no Brasil segundo o estrito gosto pessoal do humilde escrevinhador que vos fala! Dito isso… nos acompanhem agora em uma longa jornada por histórias alternativas que algumas vezes apresentam finais felizes e outras vezes… chegam a desfechos surpreendentes!

01) O que aconteceria se o martelo de Thor fosse encontrado por uma mulher?

Titulo Original: What if Jane Foster had found the hammer of Thor?

Autores: Don Glut (roteiro), Rick Hoberg (desenho) e Dave Hunt (arte-final)

Edição Original: What If? #10 — Primeira Série (1978)

Ultima Edição no Brasil: Heróis da TV #28 — Editora Abril (1981)

Capa de What if #10, onde Jane Foster se tornou a Deusa do Trovão. Arte de John Buscema.

Em Asgard um Thor mimadão dava trabalho para Papai Odin. Com o objetivo de ensinar uma lição de humildade para o seu primogênito o soberano dos Deuses Nórdicos o enviou para a Terra no corpo de um médico manco chamado Donald Blake e o desproveu de suas memórias e poderes divinos. Aprendida a lição, o Soberano de Asgard induziu em Blake a vontade de viajar para Escandinávia, e ao chegar lá o médico encontrou um bastão de madeira que, ao ser batido contra o chão se transformava no martelo encantado Mjolnir e tornava o seu portador (se ele fosse digno!) o Deus do Trovão da Mitologia Viking.

A maioria dos fato acima relatados ocorreram em 1962 no gibi Journey Into Mistery #83, mas… o que aconteceria se Donald Blake tivesse viajado para a Escandinávia ao lado de Jane Foster, a sua adorável auxiliar e enfermeira? E se após algumas peripécias ela encontrasse o bastão e se tornasse a detentora dos poderes de Thor? Essa é a premissa deste “O que aconteceria se…”, onde ao retornar da terra natal dos vikings a simpática Srta. Foster remodelou o pedaço de madeira encantado como um pente de cabelo (???) e assumiu a alcunha heroica de Thordis, se tornando inclusive uma das integrantes fundadoras dos Vingadores. Porém, Blake ainda era o legítimo Deus do Trovão e depois de uma série de intrigas executadas por Loki e de um confronto contra a entidade alienígena chamada Mangog o médico retomou seu martelo e voltou a ser Thor. Mas Jane Foster não ficou desamparada: vendo o seu heroísmo Odin a transformou em uma deusa, e de paquera em paquera a tomou como esposa! Eita velho safado! E eita historinha divertida, que provavelmente foi uma das inspirações para anos mais tarde o roteirista Jason Aaron tornar Jane Foster a Deusa do Trovão!

02) O que aconteceria se o Conan viesse para nossos dias?

Titulo Original: What if Conan the Barbarian Walked the Earth Today?

Autores: Roy Thomas (roteiro), John Buscema (desenho) e Ernie Chan (arte-final)

Edição Original: What If? #13 — Primeira Série (1979)

Ultima Edição no Brasil: Heróis da TV #43 — Editora Abril (1983)

Capa de What if? #13, onde Conan encara a bandidagem de Nova York. Arte de John Buscema.

No final de 1978 na décima terceira edição de What If? Roy Thomas, John Buscema e Ernie Chan (quadrinistas mais do que ambientados no Universo do Conan) decidiram brincar com o cimério mais famoso de todos os tempos e usaram como ponto inicial da “brincadeira” a aventura “A Cidadela no Centro do Tempo”, originalmente publicada em 1975 no magazine Savage Sword of Conan #7. Nela, o bárbaro bateu de frente com Shamash Shun-Ukin (um mago babilônio e viajante do tempo que aprontava das suas na Era Hiboriana) e conseguiu derrotá-lo. Mas… e se de repente no meio do confronto Shamash Shun-Ukin despachasse o cimério de mala e cuia para a nossa época? Aí as coisas começam a ficar interessantes!

Conan surgiu no meio de Greenwich Village (bairro boêmio de Nova York) e logo de cara arrumou treta com uma… velhinha! Ele também se estranhou com a polícia e a bandidagem local, até encontrar abrigo na casa de uma taxista ruiva chamada Danette. Por “coincidência” Danette era a cara de Danette Maxx Couto, uma escritora que tempos depois se casaria com Roy Thomas, adotando a nome artístico de Dann Thomas e se tornando a segunda (ou terceira, dependendo da interpretação histórica) mulher a escrever roteiros para a Mulher-Maravilha e a primeira a receber créditos por tal função. Todavia, a verdadeira curiosidade por trás dessa história está em uma cena onde transeuntes nova-iorquinos falam que Conan se parece muito com… Arnold Schwarzenegger, fisiculturista que anos mais tarde viveria o personagem no Cinema!

De um jeito ou de outro… após passar um tempo ao lado de Danette o nosso herói teve uma intuição que indicou o Museu Guggenheim (um dos principais pontos turísticos de Manhattan) como um portal de retorno para a sua época original. Depois de encarar uns ladrões no museu uma intensa tempestade abriu um rasgo no tempo, e Conan voltou feliz e faceiro para a Era Hiboriana.

Mas vocês acham que as coisas acabaram aqui? Nada feito! Em What If? #43 (publicada no Brasil em 1990 no gibi Capitão América #130, da Editora Abril) os quadrinistas Peter Gillis e Bob Hall decidiram explorar novamente esta história, trabalhando com a possibilidade de Conan ficar preso indefinidamente em nosso período histórico. Sem muitas opções, o bárbaro aprendeu o nosso idioma, assumiu a liderança de uma gangue negra do Harlem e se tornou um dos gangsteres mais barra pesadas de Manhattan. Obviamente as atividades criminosas do cimério chamaram a atenção das autoridades e o botaram frente a frente com o Capitão América. Intuindo que por trás de toda selvageria o bárbaro guardava um espírito nobre o Sentinela da Liberdade tentou demovê-lo da vida criminosa, mas “educadamente” Conan recusou tal proposta ao golpear o Capitão com sua espada! Porém, as palavras do herói patriótico tocaram Conan, que ponderou sobre elas e… bem, aí este conto alternativo acabou de vez! Porém, após o lançamento em 2019 da série mensal Savage Avengers (que mostra Conan atuando ao lados dos heróis contemporâneos da Marvel) o cimério meio que se tornou uma “carne de vaca” nos tempos modernos em que vivemos.

03) O que aconteceria se Gwen Stacy não tivesse morrido?

Titulo Original: What if Gwen Stacy had lived?

Autores: Tony Isabella (roteiro), Gil Kane (desenho) e Frank Giacoia (arte-final)

Edição Original: What If? #24 — Primeira Série (1980)

Ultima Edição no Brasil: A Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel: Clássicos #37 — Salvat (2018)

Capa de What if? #24, onde o Homem-Aranha conseguiu impedir a morte da sua amada Gwen Stacy. Arte de John Romita. Jr.

Poucos eventos no Quadrinho Americano foram tão polêmicos quanto a morte de Gwen Stacy (a bela namoradinha de Peter Parker) nas mãos do Duende Verde. Imediatamente após a sua publicação original (em 1973 nas revistas Amazing Spider-Man #121 e #122) não faltaram lamentações por parte dos fãs e principalmente “ameaças de morte” direcionadas para Gerry Conway, Gil Kane e John Romita Sr., os criadores desta história, mas… o que aconteceria se o Homem-Aranha conseguisse resgatar a sua amada sã e salva das garras do Duende Verde? A partir desse pressuposto ao lado de Gil Kane o escritor Tony Isabella bolou uma história onde Peter Parker abriu seu coração e o segredo da sua identidade secreta para a sua namorada após conseguir salvá-la do seu arqui-inimigo. Em um primeiro momento Gwen ficou chocada, mas depois eles decidiram através de um casório juntar definitivamente seus trapinhos, até que… o Duende Verde revelou para o mundo que Peter Parker era o Homem-Aranha, e a história terminou com o sobrinho favorito da Tia May sendo perseguido pelas autoridades. Um final triste para uma história que supostamente serviria de redenção para o herói aracnídeo.

04) O que aconteceria se Fênix não tivesse morrido?

Titulo Original: What if Phoenix had not died?

Autores: Mary Jo Duffy (roteiro), Jerry Bingham (desenho) e John Stuart (arte-final)

Edição Original: What If? #27 — Primeira Série (1981)

Ultima Edição no Brasil: Marvel Especial #8 — Editora Abril (1989)

Capa de What if? #27, onde a Jean Grey sobreviveu após o término da “Saga da Fênix Negra”. Arte de Frank Miller.

O simpático autor deste artigo tinha acabado de ler o final da “Saga da Fênix Negra”(originalmente publicada em 1980 no gibi The Uncanny X-Men #137) e ainda estava lidando com as consequências emocionais da morte de Jean Grey (a primeira de muitas, né?) quando em 1985 a Editora Abril mandou para as bancas de jornal Superaventuras Marvel #37, que trazia um “O que aconteceria se…” onde heroína sobreviveu depois da derrota dos X-Men para a Guarda Imperial do Império Shiar e perdeu seus dons quase onipotentes depois de passar por uma lobotomia psíquica.

Desprovida de suas habilidades sobre-humanas, Jean Grey foi levando uma vidinha ordinária na Mansão X, até que um confronto com Galactus reativou os seus poderes de Fênix. Tudo parecia bem, a heroína estava numa boa com seus companheiros mutantes, porém de forma lenta e gradual ela foi possuída pela Fênix Negra e posteriormente assassinou todos os X-Men. Mesmo tomada de remorso pelos seus crimes, Jean Grey se rendeu definitivamente ao “lado sombrio da Força” e destruiu a Terra e provavelmente toda a Via Láctea no processo.

A “Saga da Fênix Negra” foi calcada na máxima de Lorde Acton (“O Poder tende a corromper, e o Poder absoluto corrompe absolutamente”) e esta reimaginação trabalha a mesma premissa de forma muito interessante. Em 1991 as edições #32 e #33 da segunda série de What If? retomaram este tema, e infelizmente esta história permanece inédita no Brasil.

05) O que aconteceria se Wolverine tivesse matado o Hulk?

Titulo Original: What if Wolverine had killed the Hulk?

Autores: Rich Margopoulos (roteiro), Bob Budiansky (desenho) e Mike Esposito (arte-final)

Edição Original: What If? #31 — Primeira Série (1982)

Ultima Edição no Brasil: O Incrível Hulk #31 — Editora Abril (1985)

Capa de What if? #31, onde Wolverine assassinou o Hulk. Arte de Bob Budiansky.

O Wolverine estreou em 1974 nos gibis The Incredible Hulk #180 e #181, que trouxeram uma aventura onde ele encarou simultaneamente o Hulk e Wendigo, uma fera canibal oriunda da mitologia nativa do Canadá. No final das contas este conflito terminou empatado, mas… o que aconteceria se no meio do quebra-pau o Wolverine conseguisse matar o Hulk?

Cheio de si por ter derrotado a criatura mais poderosa da Terra, Wolverine começou a fazer umas besteiras, e num acesso de fúria matou um bêbado em um boteco. Sendo obrigado a fugir do Canadá, o super-herói baixinho foi acolhido por Magneto, que lhe passou uma missão simples: se infiltrar nos X-Men!

Naquela época a equipe mutante tinha a sua formação original (Ciclope, Garota Marvel, Anjo e Homem de Gelo) e rapidamente Wolverine se enturmou com seus novos colegas, mas ainda assim ele estava compromissado com Magneto. No conflito final o herói canadense renegou o Mestre do Magnetismo e o feriu mortalmente, porém… fazendo uso de suas últimas forças o vilão assassinou Wolverine! Eis um desfecho dramático para uma história interessante e banhada em sangue!

06) O que aconteceria se Elektra não tivesse morrido?

Titulo Original: What if Bullseye had not killed Elektra?

Autores: Frank Miller (roteiro e desenho) e Terry Austin (arte-final)

Edição Original: What If? #35 — Primeira Série (1982)

Ultima Edição no Brasil: Demolidor: Amor em vão — Panini (2021)

Capa de What if? #35, onde Elektra não enfrentou o Mercenário. Arte de Ed Hanningan.

No começo dos anos oitenta o escritor e desenhista Frank Miller armou uma pequena revolução nos gibis americanos ao tomar as rédeas da revista Daredevil. Enchendo as aventuras do Demolidor de referências vindas da Literatura Noir e dos Quadrinhos Japoneses, Miller conquistou definitivamente o público ao criar Elektra, uma ninja que no passado teve um envolvimento romântico com o herói, e provavelmente foi odiado por este mesmo público ao matar a personagem em um conflito com o vilão Mercenário em Daredevil #181.

Porém… em 1982 Miller explorou em What If? #35 a possibilidade de Elektra não ter enfrentado o Mercenário. O fato de tal conflito não ter ocorrido não impediu a ninja de cair na alça de mira do Rei do Crime, e após um sangrento combate com os capangas do líder criminoso Elektra pediu ajuda para o seu antigo namorado. E aí um fato inesperado ocorreu: Demolidor e Elektra fugiram de Nova York, se mandaram para um praia paradísica e viveram juntos e felizes para sempre! Aqui Miller abandonou o cinismo habitual das suas histórias, mas certamente manteve o altíssimo padrão de qualidade que apresentava em Daredevil, em um dos melhores “O que aconteceria se…” de todos os tempos!

07) O que aconteceria se o Quarteto Fantástico não tivesse ganhado seus poderes?

Titulo Original: What if Fantastic Four had not gained their powers?

Autores: John Byrne (roteiro e arte)

Edição Original: What If? #36 — Primeira Série (1982)

Ultima Edição no Brasil: Quarteto Fantástico por John Byrne #2 — Panini (2021)

Capa de What if? #36, onde um Quarteto Fantástico sem poderes enfrenta uma das criaturas do Toupeira. Arte de John Byrne.

O Quarteto Fantástico estrelou vários “O que aconteceria se…”: em alguns eles tinham poderes diferentes daqueles que os fãs conheciam; em outros a equipe ganhava ou perdia integrantes de forma inesperada; e em uma das histórias mais divertidas de todos os tempos (e que foi publicada em What If? #11) o time que deu origem ao Universo Marvel que conhecemos era composto por Stan Lee, Jack Kirby, Sol Brodsky e Flo Steinberg, integrantes do corpo editorial da Casa das Ideias nos anos sessenta. Mas, e se… antes da viagem cósmica que deu super-habilidades para a equipe Reed Richards atendesse aos conselhos de Ben Grimm e reforçasse a blindagem da nave que os levou para o espaço sideral? Ora, simplesmente Reed, Ben, Susan e Johnny Storm não teriam superpoderes, né?

A partir desta ideia absurdamente simples o roteirista e desenhista John Byrne (um dos principais quadrinistas do Quarteto Fantástico de todos os tempos) mostrou para os leitores que após a bem-sucedida jornada espacial os quatro companheiros ganharam status de celebridades mundiais, e com os bolsos cheios de grana Reed Richards criou um complexo onde ao lado dos seus amigos vivia uma vidinha dedicada a pesquisa científica. Todavia… da mesma forma que ocorreu em Fantastic Four #1 (o gibi de estreia do Quarteto) o Toupeira atacou a Humanidade, e mesmo sem superpoderes os quatro amigos conseguiram rechaçar o vilão. Moral da história: não eram as habilidades sobre-humanas que tornavam Reed, Ben, Sue e Johnny legítimos heróis.

08) Quando os bravos se encontram

Titulo Original: What if Thor of Asgard had met Conan the Barbarian?

Autores: Alan Zelenetz (roteiro), Ron Wilson (desenho) e Danny Bulanadi (arte-final)

Edição Original: What If? #39 — Primeira Série (1983)

Ultima Edição no Brasil: Grandes Heróis Marvel #5 — Editora Abril (1984)

Capa de What if? #39, onde Thor bate de frente com Conan. Arte de Ron Wilson.

Em Thor Annual #8 após um conflito com os Gigantes de Jotunhein o Deus do Trovão caiu em uma encruzilhada temporal, e repentinamente se viu no meio da Guerra de Troia, onde tretou de forma épica com os deuses gregos. Todavia… o que aconteceria se ao invés de parar na Grécia Antiga Thor se encontrasse em um período histórico mais longínquo, tipo a Era Hiboriana? E o que aconteceria se de cara ele trombasse com um certo bárbaro nascido na Ciméria chamado Conan?

Desprovido de sua memória e de seus dons divinos (tanto que qualquer um conseguia erguer o martelo Mjolnir) Thor acabou se aliando a Conan, e um forte amizade se estabeleceu entre eles. E, de tanto ouvir o bárbaro falar de Crom (a principal divindade da Ciméria) o desorientado Deus do Trovão decidiu procurá-lo. Ao ficar frente a frente com a indiferente e brutal deidade ciméria o Filho de Odin recuperou a sua memória, e a partir daí seus problemas de fato começaram, já que o mago Toth-Amon (o maior inimigo de Conan) conseguiu tomar para si Mjolnir.

Thor e Conan empreenderam uma missão de resgate do malho encantado, e no combate que se seguiu tanto o Deus do Trovão quanto Toth-Amon foram mortalmente feridos. Em seu último suspiro o Filho de Odin pediu para Conan que o seu martelo fosse entregue para Crom, como uma demonstração da boa vontade que os deuses devem ter por seus adoradores, e o bárbaro cumpriu a promessa, porém… ele nunca mais caminhou novamente pela Terra. Teria Conan se tornado um deus? Não sabemos. Entretanto sabemos que este “O que aconteceria se…” explora de forma muito interessante os temas da amizade e do senso de dever, e não seria má ideia a Marvel e a Panini republicá-lo.

09) O que aconteceria se os Novos X-Men tivessem morrido em sua primeira missão?

Titulo Original: What if the New X-Men had died on their very first mission?

Autores: Roy Thomas (roteiro), Rich Buckler (desenho) e Sam de LaRosa (arte-final)

Edição Original: What If? #9 — Segunda Série (1990)

Ultima Edição no Brasil: Superaventuras Marvel #99 — Editora Abril (1990)

Capa de What if? #9, onde o Professor X lamenta a morte dos seus pupilos. Arte de Rich Buckler.

Giant-Size X-Men #1 foi um marco na trajetória da Casa das Ideias, já que com o objetivo de atender ao mercado internacional Len Wein e Dave Cockrum conceberam nesta revista uma nova e diversificada formação para a equipe mutante da Marvel. O mote para esta mudança foi a necessidade do Professor X de convocar novos heróis, uma vez que os antigos integrantes do time haviam sido sequestrados por uma entidade conhecida como Krakoa, a Ilha Viva, e naturalmente o resgate dos X-Men originais foi bem-sucedido. Daí em diante o grupo fundado por Charles Xavier teve uma história editorial repleta de sucesso, mas… o que teria ocorrido se todos os heróis mutantes (tanto os antigos quanto os novos) tivessem morrido no embate com a Ilha Viva?

Após a perda dos seus pupilos o Professor X entrou em uma profunda depressão, e o Fera (que não havia participado da luta contra Krakoa) se empenhou na recuperação do seu mestre. Porém, uma invasão ao Norad (uma das principais bases militares dos EUA) empreendida pelo Conde Nefária forçou o único x-man remanescente a reunir as pressas uma equipe, formada por Lupina, Siryn, Feiticeira Escarlate, Mercúrio, James Proudstar e Namorita. Entre um improviso aqui e outro acolá o novo time derrotou Nefária, e uma situação ficou muito clara: os X-Men voltaram a ativa! E o sonho de integração de Charles Xavier continuava vivo…

10) Legado… em preto e branco

Titulo Original: Legacy…

Autores: Tom DeFalco (roteiro), Ron Frenz (desenho) e Bill Sienkiewicz (arte-final)

Edição Original: What If? #105 — Segunda Série (1998)

Ultima Edição no Brasil: Os Heróis Mais Poderosos da Marvel #69 — Salvat (2017)

Capa de What if? #105, que apresentou ao mundo a Garota-Aranha. Arte de Ron Frenz.

Tentem imaginar que o amor de Peter Parker e Mary Jane gerou um fruto, ou sendo mais específico, uma menina chamada May Parker. Tentem imaginar um Sr. Parker na meia-idade e aposentado do trampo de super-herói descobrindo que a sua filha adolescente começou a demonstrar habilidades aracnídeas semelhantes as suas. Tentem imaginar a adorável May encontrando no sótão da sua casa as velhas tralhas heroicas do seu pai. Tentem imaginar o neto de um antigo inimigo do Amigão da Vizinhança sequioso por vingança. E tentem imaginar May Parker se tornando… a Garota-Aranha!

Este “O que aconteceria se…” teve uma enorme aceitação junto aos fãs, e algo inesperado ocorreu: alguns meses depois da sua publicação original a Marvel levou para as comic shops uma série mensal estrelada pela Garota-Aranha. Na esteira do sucesso da filha de Peter Parker a Casa das Ideias lançou a MC2, uma linha editorial composta por revistas mensais e minisséries ambientadas no futuro alternativo da Garota-Aranha, e para finalizarmos precisamos ressaltar um fato histórico e importante: com suas cem edições o gibi de May Parker se tornou a mais longeva série periódica da Marvel protagonizada por uma mulher!

E, como diria o poeta:

E TENHO DITO!

Para saber mais:

Guia dos Quadrinhos: lista de publicações de What if (primeira série) no Brasil

Guia dos Quadrinhos: lista de publicações de What if (segunda série) no Brasil

Grand Comic Database: What if (primeira série)

Grand Comic Database: What if (segunda série)

Wikipedia: lista de realidades alternativas da Marvel

Syfy: What if

Screenrant: coisas que só os fãs sabem sobre What if

Comic Book Historians: entrevista com Roy Thomas

Bleeding Cool: a verdadeira origem de What if

Comic Book Resources: a verdadeira origem de What if

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Claudio Basilio
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Apenas um rapaz latino-americano que gosta de falar de Quadrinhos e Cultura Pop. E de outros assuntos também!