Diário de Campo: Anotação um - introduzindo uma experiência particular
Diário de campo é uma das ferramentas utilizadas por antropólogos para o desenvolvimento de suas atividades de observação e pesquisa. Nesse diário são registrados in loco eventos, ritos, atividades e expressões com relação ao objeto de seu estudo. Através do diário, o antropólogo poderá, à posteriori ou durante o trajeto da pesquisa, levantar hipóteses, construir e reconstruir histórias, fazer associações e através dos seus olhos lê e tenta “traduzir” um mundo.
Nesse jogo de ler e traduzir, vale pontuar o que Roy Wagner, antropólogo americano, analisa, com relação ao método, que não é apenas uma tradução que se faz, mas que é a própria “invenção” da cultura, já que, em última análise, tudo sairá da cabeça do antropólogo.
Com isso em mente, e sendo um cientista social voltado para a antropologia, achei interessante compartilhar, com quem se interessar, o trajeto que irei percorrer durante a criação de um projeto de pesquisa e seu consequente desenvolvimento. Para a realização desse empreendimento e aceitando a “invenção” como inerente à metodologia, vou usar o diário de campo antropológico como apoio, mas destaco que aqui não tentarei ter o rigor da academia. O que tenho em mente por trás desse experimento é trazer para o dia a dia, dentro do que for possível, o caminho pelo qual passarei nesse processo.
Talvez a ideia do diário possa vir a ser diferente, no decorrer, do que apresentarei em algum momento, porque, com certeza, terá muitas particularidades e generalidades, mas se eu tiver a boa sorte de, ao menos, conseguir transmitir em linhas gerais por onde estou caminhando, já me darei por satisfeito.
Indo em direção ao projeto em si, mas apenas para dar um contexto de onde parto para esse caminho, quero que entendam de onde falo. Há muitos anos sempre me senti muito limitado quanto ao trabalho que executo em meu cotidiano. Por ter interesses diversos, foi sempre muito difícil escolher um só tema para estudar e me especializar.
Quando estava no processo de graduação em ciências sociais, sempre me incomodava a falta de diálogo interdisciplinar que eu sentia entre as diferentes áreas. Com a especialização das áreas de conhecimento — humanas, biológicas e exatas, e observando pessoas como Marcel Mauss, Norbert Wiener, Newton, Marx e tantos outros — parecia que o aprofundamento em uma só vertente tirava parte da potência da ciência. Hoje, alguns anos depois, vejo que há espaço para todos, e que a especialização tem importância fundamental no desenvolvimento e crescimento da mesma. Porém, ainda sinto falta de pessoas que conversam com campos diferentes do saber. Entendo que essas pessoas interdisciplinares são também de fundamental importância para que a ciência não fique apenas no ambiente acadêmico, mas que possa ser levada para todos, seja por divulgadores científicos como Carl Sagan, ou aplicados para o entendimento e melhora da sociedade.
Assim, me proponho também a fazer um pouco desse papel, tentando conciliar a ciência de dados e a programação com minha graduação nas ciências sociais ou, no que for possível, com a antropologia.
Atualmente estudo Análise e Desenvolvimento de Sistemas, curso que em breve devo começar a produzir seu “Trabalho de Conclusão de Curso”, e, ao mesmo tempo realizo uma pós-graduação em Machine Learning, que também deverá apresentar um trabalho para sua finalização. Minha expectativa é conseguir relacionar algo dos diferentes mundos e, se possível, fazer com que conversem para o tratamento de alguma problemática que envolvem a sociedade ou problemas inerentes às áreas em estudo.
É verdade que são expectativas altas, talvez eu nem consiga chegar à um terço do proposto, mas, se ao menos contribuir para outros pensarem sobre o tema, mesmo havendo possíveis falhas, novamente digo que dou-me por satisfeito.
Resumindo tudo, farei projetos diferentes de TCCs para diferentes cursos, com o desafio de que conversem com as diferentes áreas do conhecimento. E nesse caminho de realizações, irei sintetizá-los numa espécie de diário de campo registrando o processo, que aqui ficará para que possam entender dúvidas, hipóteses e decisões que surgem e surgirão durante o desenvolvimento.
Seguimos…
