Empreendedorismo e espírito empreendedor…

Deive Leal
Social Dart Science
3 min readJan 2, 2021

Em uma busca rápida na internet, através do Google, atrás da palavra empreendedorismo retorna oitenta e seis milhões e setecentos mil resultados. O espanto inicial ganha outras formas quando relativizamos a ideia que se tem do empreendedor. De maneira geral, uma pessoa que abre seu próprio negócio e tem retorno financeiro positivo. Em uma realidade rodeada de tecnologia em ascensão, inventar seu próprio software ou negócio digital é o que fará da pessoa o próximo Zuckerberg, Jobs, Bezos, Gates e tantos outros nomes de sucesso.

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Associado a tais ícones, visionários com dinheiro para gastar durante várias vidas, o empreendedorismo tornou-se uma ideia sublime. Alavancado pelo capitalismo que se baseia na desigualdade social, e, portanto, na produção de muitos para uns poucos, é a “liturgia” dos novos tempos. A crença de que só se é feliz quando se chega ao topo. Não importando as consequências, se a ideia é boa, o resultado será também.

Mas vamos primeiro criar conexão entre as pessoas. Na virtualidade de um mundo que não pode ser tocado, a moderação é realidade para algoritmos que decidem o que é mais importante. Que decidem o que é ofensivo ou não, transitam de um teclado a outro. De um post a outro. De um stories a outro e ainda assim cumprem apenas o que foram programados. Se a inteligência artificial tem um viés racista, xenófobo ou misógino, sem problemas, trocamos, mas não trocaremos a mentalidade do chefe ou dos programadores. Porque o CEO é intocável, é o empreendedor nato que tornou tudo possível. Mesmo que o “tudo” esteja repleto de problemas.

Photo by Austin Distel on Unsplash

No entanto, a realidade desse pequeno grupo de multimilionários de espírito empreendedor não é o cotidiano em que vivemos. No cotidiano o entregador é um empreendedor em pé de igualdade com a empresa que vende sua mão de obra, ou o querem convencer disso. São microempreendedores que fazem sua hora de trabalho. Têm a liberdade de trabalhar como querem. Não importa se com isso são apenas sobreviventes em um mundo desigual, iguais a qualquer trabalhador assalariado comum, mas sem os direitos garantidos, afinal são empreendedores, portadores do mais genuíno “espírito empreendedor”. A categoria “Empreendedor” transformou uma gama de pessoas sonhadoras em nada menos do que mão de obra barata.

Se por trás do conceito de empreendedorismo há significados diversos e que podem ser aceitos por todos que desejam desenvolver um trabalho, por outro lado, há também aqueles que aproveitaram do termo da moda para a exploração e manutenção do status quo do um por cento mais rico. Repetição histórica e ressignificação já vistos em tantos outros exemplos, Cristo de pele branca, suástica nazista, natal, e assim vamos pontuando numa lista em crescente expansão.

Coitado do espírito empreendedor com sua iniciativa e busca de oportunidades, persistência, comprometimento e tantos outros bons desígnios que podem orientar qualquer um. Ainda será usado pelo sistema e descaracterizado para que cumpra sua função social. Seja ela qual for no tempo em que for empregado.

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Deive Leal
Social Dart Science

Data Engineer, Social Scientist and poetry in free time.