Interface holográfica e uma pitada de comunicação

Deive Leal
Socialidade
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6 min readSep 22, 2020

Para aqueles que acompanham filmes de ficção científica ou fantasia espacial, na linha de Star Wars (1977), não é novidade a utilização da holografia como parte do cenário em que se passa a história. De fato, a ficção científica e seus derivados faz um notável exercício de futurologia em vários quesitos. Nas histórias encontramos as dobras espaciais, para as viagens interestelares, o teletransporte de pessoas entre lugares diferentes, uso de lasers, phasers e
canhões de energia em guerras.
Algumas dessas visões do futuro tornaram-se realidade com o avanço tecnológico pelo qual estamos caminhando. Nesse sentido vale dar um destaque ao telefone celular ou para os tablets, que já haviam sido pensados à algumas décadas antes de grandes empresas ou o mercado torná-los frequentes no cotidiano.
Nesse mesmo sentido, e lembrando a cena de uma certa princesa Leia Organa, em Star Wars, enviando mensagem através do seu dróide, o R2-D2, para Obi-Wan Kenobi, observamos que a holografia, como meio de transmissão, vem sendo desenvolvida através dos anos. Tentativas de tornar a imagem tridimensional capaz de transmitir muito mais do que apenas a imagem, mas todo um conjunto de expressões e interações que avançam o campo das sensações e espaço, vem sendo desenvolvidas e, aos poucos, apresentadas ao grande público.

Caminhando rumo à apresentação de algumas tecnologias de holografia, como parte do avanço das tecnologias de comunicação, acredito ser necessário uma pequena introdução ao conceito de holograma. Assim sendo, me utilizarei de como Pinto apresenta o conceito, por ser um pouco menos tecnicista, mas que garante a acurácia da informação como pesquisador.
Na sua dissertação é exposto que:

Uma maneira não-técnica de expressar o conceito do holograma é que devido à paralaxe, podemos ver a imagem em movimento sem que esta seja produto de uma sequência de imagens pré-determinada, o movimento do holograma sempre dependerá do movimento do observador, e isso possibilita que ele esteja sempre no presente, sempre atualizado. O movimento que vemos num holograma não é um movimento captado em um tempo passado, é algo que acontece no presente, esta é a façanha holográfica que possibilitou fazer isto com um objeto anteriormente gravado, mais um sintoma de que o holograma é mais que uma mera imagem. (PINTO, 2017, p. 33–34)

Ainda é bom elucidar o que é o efeito de paralaxe, por não ser uma terminologia que usamos no nosso cotidiano. Portanto, de uma forma mais simples, paralaxe pode ser entendida como a diferença da posição de objetos quando estes são observados de diferentes pontos de observação. Como exemplo podemos pensar em um viagem, no qual observamos os objetos
mais próximos se movimentando de uma forma “mais rápida”, maior paralaxe, enquanto outro mais distante se movimenta “mais lentamente”, menor paralaxe.

Feitas as devidas apresentações passemos então a apresentar algumas dessas tecnologias que estão em desenvolvimento até idos de 2020. O LightBee é apresentado como um sistema que permite aos usuários conversarem em
tempo real com uma interface holográfica. Ele funciona com um drone cilíndrico que transmite em 3D a imagem da cabeça do usuário remoto que “flutua” na frente dos outros observadores. A movimentação do drone é controlada pelo movimento da cabeça do usuário remoto. O tela é uma folha retrorrefletiva montada em um drone com quatro hélices. São usados quarenta e cinco projetores inteligentes, um a cada 1,3 graus em formato de anel projetando em uma única perspectiva no retrorrefletor, causando um campo de luz que que cria a noção de paralaxe e estereoscopia.
Nesse projeto o usuário remoto tem acesso aos interlocutores através de duas câmeras para observação do local para onde está sendo realizada a transmissão. Pode-se observar que esse tende a ser mais acessível aos usuários do que em comparação com outros que serão apresentados. Porém é interessante visualizar que o usuários remoto ainda necessita de transmissão através de um intrincado aparato para captar os nuances de sua cabeça e posição.

Pode ser visto também que apenas um dos lados usufrui a tecnologia, não tendo o usuário remoto o mesmo dispositivo para interação de igual maneira. O projeto é de 2019, sendo assim podemos aguardar novidades sobre ele em algum momento.
Por sua vez, o The PORTL é um sistema que segue uma outra lógica de interface. Assemelhando-se a uma cabine telefônica inglesa tradicional, com uma altura de dois metros e dez centímetros, um metro e meio de largura e sessenta centímetros de profundidade. Este necessita de um espaço maior para a sua localização e para o ambiente de gravação. Porém vem com uma maior qualidade de imagem e proporciona uma visão de corpo inteiro do
usuário remoto em escala real.

Os criadores destacam que o PORTL pode te levar para “qualquer lugar”. Aqui incluso viagens históricas, onde o produto é capaz de transmitir imagens de personagens da história e interagir com o usuário ao responder questões realizadas. Embora com grande potencial de agradar aos usuários comuns, ele esbarra na questão de preço. É elevadíssimo e quanto mais incrementos de machine learning, mais alto o valor. Tal como o LightBee ele ainda está em
desenvolvimento e promete ter uma versão menor e mais acessível economicamente.
Embora haja outros projetos igualmente interessantes, como realidade aumentada e uso de acessórios para a interatividade, acredito que essa linha acaba fugindo do que é proposto com relação à holografia. No entanto quero falar de um outro projeto que, embora não seja relacionado diretamente à interação via interface holográfica como nos dois anteriores leva para uma linha muito mais próxima do que é apresentado em Star Wars.
Neste projeto, a imagem realmente flutua e pode ser visualizada de qualquer ângulo de visão, é verdadeiramente tridimensional. Nele, pesquisadores japoneses demonstraram a Terra girando sem uma tela de projeção. Para realizar tal feito os pesquisadores utilizaram uma metassuperfície, “uma película com apenas alguns nanômetros de espessura, cuja microestrutura é artificialmente trabalhada de forma a manipular a luz do projetor de maneiras
muito precisas, criando o holograma” (INOVAÇÃO TECNOLÓGICA, 2020).

Embora a imagem projetada seja na coloração vermelha, devido ao tipo de laser utilizado na criação da imagem ser de hélio-neon, a expectativa dos pesquisadores é que consigam, com o desenvolvimento do trabalho, produzir cores variadas. Com o tempo e essa tecnologia tornando-se mais viável, será possível associar a outros meios de transmissão e então criar uma interface holográfica mais próxima do que víamos apenas em filmes ou imaginávamos
com a ficção científica.
Por agora resta esperar para ver qual será a próxima tecnologia que a ficção irá inventar e que nossos pesquisadores irão se debruçar para tornar realidade. Torço pelo motor de dobra ou o teletransporte. Enquanto isso não acontece seguimos acompanhando os passos dados pela holografia em direção à realidade.

Bibliografia
CARNEIRO, Igor Almenara. ‘Cabine de holograma’ projeta pessoas em tamanho real. [S.
L.]: Tecmundo, 2020. Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/ciencia/155987-cabineholograma-projeta-pessoas-tamanho-real.htm. Acesso em: 05 set. 2020.
GLOBE NEWSWIRE (United States). PORTL Hologram Launches HOLOPORTL: the
first single passenger holoportation machine. Los Angeles, Ca, 2019. Disponível em:
https://www.globenewswire.com/news-release/2019/10/11/1928751/0/en/PORTL-HologramLaunches-HOLOPORTL-%EF%B8%8F-The-First-Single-Passenger-HoloportationMachine.html. Acesso em: 05 set. 2020.
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA. Filme holográfico 3D verdadeiro vira realidade. 2020.
Disponível em: https://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=filmeholografico-3d-verdadeiro&id=. Acesso em: 05 set. 2020.
IZUMI, Ryota; IKEZAWA, Satoshi; IWAMI, Kentaro. Metasurface holographic movie: a
cinematographic approach. Optics Express, [S.I.], v. 28, n. 16, ago. 2020. Disponível em:
https://www.osapublishing.org/DirectPDFAccess/D4EAE93A-CA01-45DE-
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Acesso em: 05 set. 2020.
SAMP, Mauri. Holoom: estética do espaço-tempo holográfico no eterno continuum. 2017.
Dissertação (Mestrado em Multimeios), UNICAMP, Campinas, 2017. Disponível em:
http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/330918/1/Pinto_MauricioAugustoSampaio_
M.pdf. Acesso em: 04 set. 2020.
ZHANG, Xujing; BRALEY, Sean; RUBENS, Calvin; MERRITT, Timothy; VERTEGAAL,
Roel. LightBee: a self-levitating light field display for hologrammatic telepresence.
Proceedings Of The 2019 Chi Conference On Human Factors In Computing Systems
(Chi ‘19). Association for Computing Machinery, New York. 2019. Disponível em:
https://dl.acm.org/doi/fullHtml/10.1145/3290605.3300242. Acesso em: 03 set. 2020.

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Deive Leal
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