O que diria Chesterton para Emma Watson?
A “ética da terra das fadas” perante o lobby gay nas histórias Disney
Ao longo de toda a sua vida G. K. Chesterton defendeu, corando apenas de excitado que ficava e com a lucidez impressionante que já conhecemos, os contos de fada contra os modernosos e as suas ideologias. Isso foi há quase cem anos. Hoje em dia… bem, hoje em dia, como diria Reinaldo Azevedo, o inimigo é o mesmo.
Vamos combinar algo aqui, sim?
Já deu no saco ouvir falar de ideologia.
É ideologia pra lá, pra cá e além-mar. É ideologia na fila do pão e no videogame. É ideologia na hora H e no altar. É ideologia no útero e no túmulo. O Oscar, segundo o bafafá que por aí rola, não é mais sobre filmes: é sobre ideologia. Problematizam-se ideologicamente as cantadas. Os irmãos não brigam mais por causa da louça — estapeiam-se por “divergências ideológicas.” Até a roubalheira dos políticos, diabos, antigamente era mais simples: roubavam, sim, à la Maluf, e faziam pontes e botavam “rrrota na rrrua” — mas não faziam ideologias.
Quando a Disney, mãe espiritual de muito marmanjo por aí (admite, vai), anunciou que no seu remake de A Bela e a Fera haveria de incluir um personagem gay, o establishment ficou em polvorosa e parecia mesmo que o Universo convulsionava purpurinescamente e as estrelas ensaiavam um I Will Survive. Teve gente à farta por aí ficando B-E-G-E vez que, enfim, a odiosa hegemonia heterossexual perpetrada maquiavelicamente por meio de estereótipos patriarcais estava a cambalear, ferida de morte pelo arco-íris LGBT.
Isso tudo, claro, sem falar na patacoada feminista da insossa Hermione pós-púbere, a srta. Emma Watson, e toda a polêmica histérica que se lhe seguiu em torno de quão autêntico era seu manifesto artístico anti-machista.
E, em meio a toda a zorra pós-moderna de praxe, é lícito perguntar: mas e a história, onde fica?
Deveria ficar onde estava, é a resposta de G. K. Chesterton. Pertinho de suas raízes, aos pés da veneranda Tradição Humana:
“Os contos de fada… são tão normais quanto leite ou pão. Civilizações vêm e vão, mas os contos de fada permanecem. Conquanto alguns de seus detalhes possam parecer-nos estranhos, o espírito que lhes dá vida é o espírito do folclore; e ‘folk-lore’ é bom-senso em alemão.”
Por óbvio, Chesterton não assistiu à adaptação da história feita pela Disney. Quando falava em contos de fada, estava a falar sobre os contos originais dos Irmãos Grimm, de Hans Andersen, de George MacDonald e, no caso de A Bela e a Fera, de Jeanne-Marie Leprince de Beaumont.
Mas a lição é a mesma. Os Contos de Fadas são assim salubres, assim cruciais para o desenvolvimento moral da imaginação e forma espiritual última do homem pois são UNIVERSAIS. Apelam a negros tanto quanto a brancos; a ricos não menos do que a pobres; a instrumentistas clássicos bem como a funkeiros (sim, eles mesmos). O essencial de A Bela e a Fera é, como disse o próprio Chesterton, que temos de amar algo ANTES de ele ser amável.
O problema com os modernos que têm problemas com as fadas é que, não sabendo mais diferenciar o “eterno e normal” do “anormal ou acidental”, metem os pés pelas mãos e, ou não entendem bulhufas do fim moralizante último das histórias, ou entendem-no muito bem e por isso mesmo dão chiliques, querendo corrompê-lo à força. Assim fez Gramsci ontem, assim fazem as feministas e demais justiceiros sociais hoje.
A depender de uns e outros universitários e demais inteligentões por aí, a Bela teria de balangar um órgão viril entre as pernas, a Fera ser um Boi-Bumbá lutador de capoeira, os objetos mágicos uns Guarani-Kaiowá explorados pelo capitalismo e o Gaston… bem, o Gaston fica como está mesmo. Um vilão cis, branco, misógino e privilegiado pela sociedade.
Assim, pois, cabe a nós proteger os contos que vêm sendo contados desde que a Sabedoria passeia pelo jardim do Mundo e vinha bater um papo com Adão e Eva. Honrar as velhas histórias é uma variação do Quarto Mandamento e o pilar mesmo da democracia: é honrar os nossos pais e dar voz aos mortos.
Dentro em pouco o feminismo será carcomido pelo tempo. O gayzismo cairá morto ao lado de tantas outras modas que eclipsaram a razão noutras eras. Secar-se-á toda a memória da histeria de ora e a História continuará o seu curso. E ali, em meio aos destroços de ideologias vencidas, uma mãe estará a ler A Bela e a Fera para seus filhos e ensinar-lhes que o amor não se prende a aparências.