Já faz um ano

Há um ano que resolvi revelar-me

The Question
Sociedade dos Filósofos Bêbados
3 min readSep 11, 2017

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Hoje, 11 de setembro é meu aniversário, vinte e dois anos de uma existência terrena, também é o aniversario do atentando as torres gêmeas, dezesseis anos de atentado, mas essa data nem de longe me é importante mais por causa do meu aniversário ou por causa dos atentados, ela ganhou um novo significado pra mim, no dia 11 de setembro eu resolvi contar para meus pais, que eu sou gay.

Por que eu escolhi justo o dia do meu aniversário para contar ? Bem, por que eu queria que esse dia, independente dos resultados, ficasse bem marcado na minha vida, qualquer outro dia ficaria marcado, mas esse dia traria uma dupla marcação, me entende ? Outra, por razões práticas, esse seria um dos poucos dias do ano que meus pais se reuniriam comigo para me falar algo, ou seja, eu teria nesse dia uma chance de já contar para os dois.

Por que eu resolvi contar? Bem, digamos que eu já havia contado para amigos, antes dos amigos, eu contei para mim mesmo, eu levei quatro longos anos pra me aceitar, pra me olhar no espelho e falar pra mim mesmo ‘’Sou gay’’, sem me desmanchar de chorar, ou me sentir errado, ou sentir medo do inferno, eu passei por estas etapas, então a última que me restava era contar para os meus pais, por que eu já não aguentava mais viver uma vida dupla, ficar dando desculpas pra quando ia sair, e no fundo, como sempre dizem e minha mãe fala, ela meio que já sabia.

Senti medo ? Sim, muito medo, eu já esperava rejeição, como já disse, eu cresci numa família evangélica muito rigorosa, se me expulsassem de casa, fazia parte, meu medo mesmo era a violência física, que poderia vir do meu pai, então eu senti muito medo, acordei cedo, bem cedo, e fui tomar café com eles na mesa, então eu comecei a falar, nossa, eu nem sei como me deu coragem, ou de onde eu tirei essa coragem, eu não precisei falar , eu sou gay, por que minha mãe completou a frase sabe, depois disso veio as reações, ouvi todo tipo de coisa, da minha mãe ouvi: isso é coisa do demônio, isso vai contra a bíblia, como você pode fazer isso, que decepção, que não deveria ter me deixado andar com meus amigos que ela acha que são gays, sugeriu que meu pai me batesse. Do meu pai eu não ouvi quase nada, foi mais ele achando que eu estava brincando. Eu estava esperando essas reações, eu não espera aquela linda em que os pais abraçam o filho, choram juntos, e aceitam, de maneira alguma eu esperava isso deles.

Mas mesmo assim, eu sofri com isso, saber da rejeição deles, não minimizou os efeitos sabe, por que no fundo, eu esperava que isso não fosse significativo pra muita coisa sabe, minha sexualidade não define meu caráter, ou outras coisas. Logo após contar, eu vi que o meu mundo até ali tinha mudado, depois de contar, eu corri para o quarto, eu tive reações físicas a isso, eu me tremia toda, sentia frio intenso, me senti exausto, tentei me levantar da cama, cai no chão me tremendo, assim eu me senti nesse dia.

Agora , um ano depois, eu já não me sinto assim, minha família não me aceita, isso é claro, eu não sinto que a casa onde moro é meu lar, mas isso não me afeta tanto mais, por que eu posso finalmente ser uma pessoa só, sem ter que ficar tentando conciliar uma vida dupla, há um ano atrás o meu mundo mudou mesmo, deixei todo o papel que eu representava para trás.

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