Vômito cultural

A cultura molda o povo, o povo define a cultura.

Palhaço Diógenes
Sociedade dos Filósofos Bêbados
3 min readMar 16, 2019

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A moral serve ao ego tal como o cavalo serve ao cavaleiro. Pela moral nosso “eu ideal" se aflora. É o mesmo sentimento de vestir se com a melhor roupa e se olhar no espelho, se ver como ser digno de idolatria, ser supremo, vislumbrado, amado, desejado e invejado. O reflexo encanta a si próprio, assim como fez com Narciso. Este sentimento de vislumbre próprio é parte do seu ego, algo que só você vê e deseja.

Se a moral pudesse ser vista a olho nu, certamente não iríamos nos enxergar, pois tudo que iríamos ver seria a moral, uma parede para nós humanos, uma redoma. Ainda que não a vejamos, a única coisa que sinceramente não enxergamos diante do mundo que nos cerca é o próprio ego.

Através da moral, um padre se torna santo e satisfaz seu ego que anseia por ser visto como divindade. Através da moral para nos possarmos por seres absolutos aplaudimos quando queremos vaiar. Sabe aquele “q" de falsidade? É do ego. A moral serve de cenário e palco para o ego se mostrar. Tantas máscaras, tantos palcos e palanques que o ego se frustra por não ser o centro das atenções em locais distintos. A moral é um redoma, onde uma vez inserido, faz com que perceba seu ego fluir, seu eu ideal de forma singular e única. Se ages de forma diferente em decorrência do ambiente ou grupo, é por que és moralista. Em família desejas ser o primogênito. Na igreja desejas ser o devoto. No velório desejas ser o mais triste. Na zona, o alfa.

Assim nos prendemos à sociedade, redoma maior da moralidade, assim também nos enclausuramos em jaulas invisíveis, e por isso desenvolvemos doenças e nos matamos como espécie. São tantos os shows da vida que a disputa por atenção do ego transcende a da vida.

Há quem se liberte sendo vil, devasso, sincero, metafísico e por isso talvez seja visto como louco. Afinal, aqueles que não se enquadram nas normas, à mora, à moral são vistos como seres dignos de manicômios, jaulas físicas, para aqueles que ignoram as imaginárias, a moral, poderem se refugiar.

Há quem se liberte por não ver meio de sair da redoma, e por isso, põe fim a sua história tomando o suicídio como alternativa. Pois se não é possível se apresentar nos palcos da vida, que sentido tem estar vivo? Assim o ego, protagonista indaga.

Há quem se liberte tentando quebrar a redoma, portando armas e assassinando inocentes sob o pretexto do ódio e da intolerância acreditando que seu reflexo no espelho é resultado da moral. Que sua pequenez é culpa da sociedade.

O homem se perde dentre os diversos fios de ideia que tece. Se entrelaça e se enforca nelas próprias. São muitas as possibilidades para acreditar que apenas uma é a correta.

Ao se ver na sociedade, se sente menor, insignificante, afinal a infinidade de variáveis diminui ainda mais seu reflexo no espelho.

Há quem se liberte entrando em uma redoma menor. Mais controlada, em busca de ilusões, que por se sentir ínfimo e enfermo, busca a massa, seus correligionários, de ideais idênticos, de propositos iguais, dessa forma, se identificam como algo único, específico, de desejos e normas próprias, e então criam sua própria moral, sua redoma, seu casulo.

Criam mais uma redoma para o iludido ilusionista que se perde diante das infinitas máscaras, palcos e cenários, mas que nessa, ele se sente bem. Quando nela, o individuo perde a potência, deixa de desejar outras jaulas, não existe mais o desejo de participar de qualquer outra redoma, mesmo que seja da maior, da sociedade. Assim surgem as ceitas, religiões, congregações, agremiações, irmandades e etc. Não pelo líder, mas pelo que o indivíduo representa na massa, não pela ilusão, mas pela alusão de ser um ilusionista do mundo, dono do próprio palco, onde se apresentará usando sua máscara idêntica a de cada integrante da platéia. Pobre ilusionista iludido. Por não se sentir bem diante do todo, da sociedade, se apequena em grupos.

Este iludido é a maioria, que abandon o ser, o humano, a liberdade para fingir um roteiro manjado por todo o resto.

Moralistas. De ego fraco. De espelho grande, mas com reflexo difuso, turvo e pequeno.

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Palhaço Diógenes
Sociedade dos Filósofos Bêbados

Não quero ser introjetado em outrem, não me importo para que outros não me importem. Prefiro ser único: sujo, devasso, errante, eloquente, vil, ímpar, negado.