Ex-ET: Um mundo onde a diferença te torna um indesejável

Estes dias, navegando pela internet, coletando material para minhas aulas e palestras sobre Comportamento Humano e do Consumidor, me deparei com um vídeo que me deixou fascinado e, ao mesmo tempo, pensativo e pesaroso: Ex-ET

Antes de fazer minha análise, que pode conter meus próprios filtros e, com isso, enviesar a sua interpretação do vídeo, convido você a assistí-lo:

Agora, me diga: O que você acha que vai acontecer com o nosso amiguinho, que, enjeitado em seu planeta de origem por ser diferente, é enviado a Terra, onde nós somos tão intolerantes à diferenças quanto os habitantes do seu planeta de origem?

Seguem minhas interpretações acerca do vídeo e do seu significado para mim, enquanto Educador, Pai e estudante do Comportamento Humano, Neurociências, Psicologia e Psicanálise.

No planeta de origem do nosso protagonista, toda a vida é absolutamente ordenada e regulada. É uma sociedade baseada na ordem, na sincronicidade e na padronização. Não existem diferenças, não existem divergências, não existem conflitos. Tudo e paz, ordem e padronização. E eles — supostamente — são felizes assim.

Nessa sociedade tudo funciona de forma metódica e padronizada: todos trabalham , se locomovem, se divertem, se relacionam, se exercitam e se comportam da MESMA FORMA. Inclusive, não por acaso, percebe-se que todos tem a cabeça "quadrada". Exceto nosso pequeno protagonista "fora da caixa", que tem formas mais redondas. Desde o começo do vídeo fica claro que nosso pequeno amiguinho redondo é diferente, uma vez que ele não aceita "brincar" como os demais pequenos do grupo, no que parece mais uma sessão de castigo em massa do que diversão. Nosso pequeno protagonista, definitivamente, não se encaixa nas regras. E isso, como fica bem claro desde o começo, gera insatisfação dos demais adultos e constrangimento para os pais, uma vez que seu filho, por ser o "diferente" acaba servindo de "mau exemplo" para as demais crianças, "saudáveis e bem ajustadas".

Bem, ocorre que, no vídeo, nosso pequeno amiguinho roxo é completamente diferente dos demais colegas, não apenas por sua forma física, mas pelo seu comportamento, considerado pelos demais como "errado", uma vez que ele não age como os outros, e isso é uma afronta aos códigos sociais daquela comunidade, tão organizada, tão ajustada, tão síncrona… E tão chata!

A agitação característica do nosso amiguinho, protagonista da história, poderia ser diagnosticada, aqui em nosso planeta, em nossa sociedade contemporânea, como Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Provavelmente, se fosse um criança humana, nosso amiguinho seria — provavelmente — medicado com Ritalina, Concerta ou outra droga equivalente, na busca pela "normalidade" aceita pela sociedade.

Toda unanimidade é burra
- Nelson Rodrigues

Porém, no planeta de origem do nosso protagonista bagunceiro, o que vemos não é muito diferente do que aconteceria se ele fosse uma criança humana: Após causar indignação nos adultos e constranger seus pais e a comunidade com seu jeito de ser diferente e agitado, nosso amiguinho é levado ao médico. Afinal, ele só pode estar doente, não é mesmo? Ninguém diferente pode ser são! Deve haver alguma coisa errada! Então, nosso protagonista é levado para uma espécie de avaliação médica, que consiste de uma série de "testes de normalidade".

No primeiro teste, o nosso amiguinho recebe um cubo mágico, já resolvido. Não fica claro o que se espera dele, mas aparentemente, espera-se que ele não reaja aquilo, já que, de acordo com o comportamento social daquelas pessoas (ou seriam ET's?) não há nada que ser feito com o cubo. Mas, nosso amiguinho "fora da caixa" acaba criando uma estranha forma com o cubo, contrariando todas as expectativas (como sempre).

Na sequência, entrega-se ao nosso amiguinho uma espécie de caderno com tintas, esperando-se que ele preencha cada um dos quadrados coloridos com as respectivas cores. E ele faz isso! Opa! Será que estamos vendo uma possibilidade de retorno à normalidade? É, parece que não foi desta vez: nosso amiguinho, após preencher diligentemente os quadrados com suas respectivas cores fecha o caderno impetuosamente e mistura todas as cores, alegremente, jogando tintas para todos os lados e chocando os nobres doutores. Mais uma vez.

Finalmente, os "especialistas em normalidade" chegam à conclusão de que existe patologia diagnosticada, então, os "médicos" resolvem medicar o garoto, na busca pela sua "normalização", fazendo com que ele volte ao "normal" e volte a ser igual aos outros outros garotos-ET de sua comunidade. E o remédio realmente acaba tendo o efeito desejado, pelo menos por um tempo.

A “droga da obediência” acaba por atingir o efeito desejado: o nosso amiguinho começa a se comportar como o esperado pela sociedade, brincando e se comportando de forma metódica e sistemática, assim como os outros. Ele se "ajusta" ao comportamento social aceitável e esperado. Seus pais — obviamente — ficam felizes e orgulhosos em ter um filho "normal", uma vez que, dessa forma, não sofrem constrangimentos e nem julgamentos por parte dos demais adultos. Tudo está indo como deveria. Ocorre que nosso amiguinho passa mal, e com isso vomita a medicação e acaba voltando a se comportar como antes: pula, corre, faz bagunça, trazendo novamente o “caos” para aquele ordeiro (e entediante) planeta.

O resultado do retorno desse comportamento "irremediável" é previsível e lamentável: Assim como fazemos em nosso planeta com aqueles que julgamos diferentes, nosso amiguinho — com o consentimento de seus pais — é afastado de sua comunidade, sendo expulso de seu planeta. Qualquer semelhança com o que fazemos com nossas crianças NÃO É MERA COINCIDÊNCIA!

Ele é colocado numa pequena nave espacial, para ser enviado para um planeta distante (neste caso, a Terra), onde renascerá como um de nossos bebês. Provavelmente, mesmo nesse novo planeta, em face à uma nova sociedade e novas regras, ele crescerá e voltará a agir com seu jeito peculiar de ser. E, novamente e infelizmente, é bem provável que tudo volte a se repetir e toda a espontaneidade e criatividade manifestadas pelo nosso amiguinho ET (agora um garotinho), sejam novamente entendidas como comportamentos anormais passíveis de serem medicalizados. É, talvez o planeta retratado pelo filme não seja assim tão diferente do nosso.

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🎯 Renatho Siqueira MBA™®🎓
("…Opinião…")! : Renatho Siqueira

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