O carbono não é o poluente mais prejudicial à saúde nas grandes cidades. Entenda!

Sofia Lisboa
Sofia Lisboa
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4 min readJul 1, 2022

A poluição atmosférica é um problema que afeta o mundo e tem seus efeitos mais agravantes nas grandes cidades. A queima de combustível no Brasil é o maior produtor de substâncias nocivas para a saúde. Assim, os altos índices de poluentes no ar estão diretamente relacionados ao alto fluxo de automóveis nas grandes metrópoles, como São Paulo e Rio de Janeiro, que produzem a queima de diesel e gasolina em grande escala.

As substâncias que são liberadas no processo de combustão pelos veículos são: dióxido de carbono, monóxido de carbono, dióxido de nitrogênio, enxofre, ozônio e material particulado. Doenças como gripe, resfriado, rinite, asma, bronquite, pneumonia, doenças cardiovasculares, degenerativas no cérebro, problemas no aparelho reprodutivo, doenças de pele, depressão e ansiedade são alguns dos impactos da alta exposição a essas substâncias nocivas diariamente.

Sobre estes poluentes presentes no ar, conversei com a pesquisadora científica do Estado de São Paulo (PqC VI) e chefe responsável do Laboratório Poluição Atmosférica Experimental, Mariana Veras, que explicou todo o processo dos poluentes no nosso organismo, os distúrbios causados e as possibilidades para se obter uma melhora nas condições do ar no Brasil.

Sofia — Comumente ouvimos falar que a poluição do ar é causada apenas pelo dióxido e monóxido de carbono, porém há outros poluentes presente no ar. Como o afamado carbono age dentro do nosso corpo?

Mariana Vera — O carbono tem um impacto na saúde, mas hoje, sabemos que ele não é o maior problema. Dentro do nosso organismo, ele compete com o oxigênio pela ligação com a hemoglobina e acaba tendo um poder de fixação maior do que o oxigênio. Então, como a célula fica ocupada segurando o carbono e não leva o oxigênio para onde ele tem que ir, o nosso corpo fica em estado de dispneia, ou seja, falta de ar — como se estivéssemos em altitudes extremas, onde a concentração de oxigênio é baixa. Portanto, em um período curto de tempo em exposição com ele, você pode ter um mal-estar e dor de cabeça — esses sintomas são reversíveis, assim que você vai para um local com o ar melhor os sintomas vão passar.

S — Você afirmou que o carbono não é tão prejudicial para saúde quanto outros poluentes. Quais seriam esses poluentes?

M — Em termos de poluentes, o gás ozônio e material particulado são os mais prejudiciais para a saúde nas grandes cidades, em especial o particulado -o conhecemos como a fuligem preta que sai do carro. Ao inalar essa substância, ela vai entrar no pulmão e vai transpassar todas as barreiras do nosso organismo — como ela é muito pequena, não há defesas no nosso organismo para ela.

S — Ainda sobre o material particulado, como ele interage no nosso organismo?

M — Bom, ao entrar no nosso organismo ele se deposita em diferentes partes do nosso corpo, principalmente do pulmão, e então, você não vai conseguir eliminar esse material. Ao conviver com isso, no pior cenário você irá desenvolver um câncer de pulmão que vai aparecer daqui a 30, 40 anos.

S — Além do câncer de pulmão, existe outras doenças que esse material pode causar?

M — Como esse poluente percorre todo o nosso organismo ainda há pesquisas para saber quais são os impactos dele em cada órgão do corpo. Há estudos que estão observando os efeitos dela no coração, nas paredes das artérias, no sistema nervoso central, nos rins e até no cérebro. Ainda não podemos dizer com certeza quais são as doenças desenvolvidas a partir do material particulado.

S — Você citou vários órgãos que podem ser impactados ao contato contínuo com esse poluente, dentre eles o cérebro. Como o material particulado chega até o cérebro e quais são as possíveis doenças que ele pode desenvolver no indivíduo?

M — Desde o início do século XX há estudos sobre os impactos do material particulado no cérebro e como ele chega até lá. Nas pesquisas foi descoberto que ele chega até a massa cefálica via nasal e oral apenas pela respiração, indo até o cérebro direto e se alocando nele. As doenças que podem ter sido intensificadas por ele são as doenças degenerativas, como Alzheimer e Parkinson.

S — Ainda sobre o material particulado, a presença de áreas arborizadas pode amenizar ou diminuir a presença dele na região?

M — Infelizmente as áreas verdes não ajudam no controle nem na diminuição desse material. As presenças dessas áreas ainda sim são importantes para uma melhor qualidade de vida e para a umidade do ar, mas não quer dizer que irão absorver esse poluente.

S — O que podemos fazer então para diminuir a presença desse material nas grandes cidades?

M — Bom, a emissão desse poluente está estritamente relacionada a queima de combustíveis realizada em sua maioria por automóveis no Brasil, especificamente. Assim, para ter uma queda da presença dele nas cidades, precisamos repensar a mobilidade da cidade e trocar a motriz da locomoção atual nos grandes centros, como, por exemplo, o aumento do uso de transportes públicos pela população.

S — Existe alguma medida imposta pelo governo para diminuir este poluente?

M — Existe sim. Temos os programas de inspeção veicular exatamente para isso, pois um motor bem regulado emite muito menos. A questão da qualidade do combustível também faz diferença, pois sendo de boa procedência irá soltar menos o material particulado também.

S — Existe algum dado que comprove que com a diminuição de automóveis irá reduzir a presença do particulado no ar?

M — O dado mais empírico e atual que comprova a tese de que temos que repensar a mobilidade da cidade foi a greve dos caminhoneiros em 2018. A greve foi um experimento natural, pois a poluição da cidade de São Paulo sumiu. Você tirou os carros de circulação e a poluição diminuiu 70%.

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Sofia Lisboa
Sofia Lisboa

Uma Jornalista que se aventura no mundo tech e que busca contar histórias vividas fora da frente da tela do computador