Pandemia das sombras | Por: Carolina Harrop

Covid-19 e seus desdobramentos na vida das mulheres.

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4 min readMay 16, 2020

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Mais um texto — entre tantos — que fala sobre o impacto negativo da pandemia do coronavírus no que toca à violência contra as mulheres, principalmente no ambiente doméstico.

Começo com algumas perguntas: você tem acompanhado as notícias sobre o assunto? Tem prestado atenção nas situações que te rodeiam? Ou essa realidade está alheia às suas preocupações?

Me chamo Carolina Harrop, sou estudante de Direito e fui convidada pelo Time Fora da Caixa para escrever um pouco sobre esse assunto tão importante, e agora mais atual do que nunca.

Trago, logo de cara, a manchete da matéria veiculada em abril deste ano pelo G1: “Como a pandemia do coronavírus impacta de maneira mais severa a vida das mulheres em todo o mundo.

Se você tinha dúvidas, eu nunca tive.

Segundo o jornal, as mulheres estão mais expostas ao risco de contaminação e às vulnerabilidades sociais decorrentes da pandemia.

Eu atribuo parte desse impacto à suposta “habilidade” feminina de multitasking (em português: fazer várias coisas ao mesmo tempo), que retrata nada mais nada menos do que uma sobrecarga de funções.

Na pandemia, muitas mulheres se veem tendo que conciliar ainda mais atividades, como por exemplo:

· Emprego (seja ele em sistema de homeoffice ou fora de casa);

· Trabalhos domésticos;

· Assistência aos filhos (e isso inclui tanto os cuidados habituais, quanto à educação escolar em casa — visto que as escolas estão fechadas);

· Assistência à idosos da família.

Essa é uma lista que considero limitada sobre os papéis desempenhados pelas mulheres durante a quarentena. Digo isso porque cada mulher tem a sua realidade, e seria muito simplista de minha parte não tentar englobar as mais variadas funções desempenhadas por nós.

Em tempos normais, existe toda uma rede de apoio e de serviços que nos ajudam a “dar conta de tudo”. Mas não agora, em que a vida está completamente diferente e nós temos que lidar com diversos tipos de desafios.

Imaginemos, então, todas essas funções que tentei listar acima, somadas a algum tipo de abuso ou violência dentro de casa.

Um verdadeiro pesadelo. Que, em pleno século XXI, continua sendo a realidade de várias mulheres.

Na China, por exemplo, o registro de casos de violência doméstica triplicou durante o período de isolamento social — entre janeiro e começo de abril. Segundo dados da ONU e OMS.

A boa notícia é que esse aumento numérico não ocorreu em todos os países e regiões.

Epa. Mas será que é mesmo uma boa notícia? Não há como ter certeza.

Nem sempre os dados que nos são disponibilizados retratam a realidade.

Assim como não são todos os casos contaminados pelo Covid-19 que são registrados, não são todos os casos de violência doméstica que são contabilizados para fins estatísticos.

Chamamos esse fenômeno de SUB-NOTIFICAÇÃO.

E ele é péssimo em ambas as hipóteses. Pessoas infectadas e pessoas violentadas.

Durante a pandemia, estamos tendo que lidar com um vilão ainda desconhecido, em que não há prognóstico certo. Que é o vírus.

É diferente para os casos de violência doméstica. Na maioria das vezes a mulher sabe muito bem quem é seu agressor. O vilão é muito bem definido. Mas nem sempre a informação é compartilhada.

E é por isso que a ONU Mulheres afirma: em meio à pandemia do Covid-19, a pandemia da violência contra as mulheres e meninas age nas sombras e nos silêncios.

A violência doméstica NÃO pode ser ignorada. Principalmente se temos o poder de mudar o desfecho da situação.

Você tem noção que a sua vizinha pode estar sendo vítima de violência nesse exato momento?

A sua colega de trabalho. A sua prima. Ou até aquela amiga que você fala todo dia com ela.

No início do texto fiz algumas perguntas. Se você, assim como eu, respondeu não para as duas primeiras e sim para a última: mude. Faça diferente. Leia sobre o tema. Preste atenção no que acontece ao seu redor. Não é porque nunca aconteceu comigo que tais situações não acontecem com outras mulheres, todos os dias.

Agradeço bastante a Laís Agra e Giovana Brito não apenas pelo convite, mas principalmente por me tirarem da zona de conforto e me fazerem pesquisar mais sobre o assunto. Sinto que tenho uma responsabilidade imensa ao escrever.

Por esse motivo, resolvemos, JUNTAS, listar algumas maneiras que você, mulher, poderá recorrer caso esteja sofrendo algum tipo de violência:

· Emergência 190: aciona a polícia militar para condução da vítima a hospital ou delegacia;

· Disque-denúncia 180: na central, além de orientação às vítimas, os funcionários encaminham os casos para os Ministérios Públicos Estaduais;

· ISA.bot: robô desenvolvida pelo Facebook, Google, ONU Mulheres e Think Olga. Para ativar, basta chamá-la no Messenger da Página IsaBot no Facebook;

Além disso, mesmo nesse período de pandemia, as emergências hospitalares estão SIM funcionando para te atender. Destaco também que QUALQUER PESSOA pode denunciar um caso de violência doméstica. Independente de ser vítima ou não.

Ah, e válido esclarecer que a violência contra a mulher pode se manifestar de diversas formas, dentre elas: física, moral, psicológica, sexual, patrimonial e econômica.

Por fim, mas não menos importante, convido vocês a assistirem comigo dois vídeos sobre o assunto. Primeiro, o discurso de 2min do secretário-geral da ONU, António Guterres. E segundo, a campanha de combate à violência doméstica divulgada pelo Instituto Maria da Penha (IMP) que é simplesmente impactante.

Vamos juntas nessa luta? #IsoladasSimSozinhasNão

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