Quem tem medo do feminismo negro?” — Djamila Ribeiro | Por: Maria Eduarda Oliveira

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3 min readMay 23, 2020

Apesar de sempre me intitular como feminista, nunca tinha parado para ler ou estudar sobre o tema. Tudo o que sabia era através de postagens ou textos soltos que havia lido na internet.

Quando me deparei com o livro de Djamila Ribeiro, através da Fora da Caixa, achei que era a hora certa para começar a me envolver em um assunto intrínseco à minha existência.

O feminismo negro não é meu lugar de fala e, por isso, tenho muito cuidado para não o usurpar. Não quero tomar o lugar de quem sente isso na pele, mas quero, através do meu lugar de privilégio branco abrir um espaço para discussão anti-racista. Tal privilégio existe porque a estrutura da nossa sociedade se configurou nesse modelo desde o processo de formação colonial e esse espírito da colonialidade ultrapassa o tempo histórico.

“Quem tem medo do feminismo negro?” é uma coletânea de artigos publicados por Djamila acerca da vivência de opressão em questões negras muitas vezes minimizadas. Ela traz também uma narrativa individual de quem ocupa esse lugar de fala. Muitas vezes além de presenciar, ela vivenciou o racismo, o que de alguma forma mata parte de sua essência.

Djamila mostra como lidamos com naturalidade com o racismo, e como ele é utilizado de forma recreativa em diversas situações do dia-a-dia. Muitas vezes essas questões passam despercebidas e são invisibilizadas, por já estar enraizado na estrutura comportamental da nossa sociedade.

A autora relata sobre seu lugar de fala, quando começou a entender o porquê sua mãe — empregada doméstica — batalhava tanto para que ela estudasse e pudesse romper com o ciclo (vicioso) da sociedade que não aceita mulheres negras em ocupação de relevância intelectual.

Outra reflexão fundamental do livro é sobre a hipersexualização do corpo negro. Falando um pouco sobre como as mulheres negras sempre tiveram os seus corpos vistos como corpos de “mulheres quentes”, porque existe uma leitura do corpo feminino negro fixada à imagem mulher sensual.

Djamila traz muito forte em sua fala como estruturalmente a sociedade está acostumada a compreender quem está oprimindo, e não quem está sendo oprimido. Desta forma, é sempre a mulher negra que precisa entender que tudo trata-se de uma “brincadeira”, e nunca quem faz a brincadeira que deveria perceber que se trata de racismo. Em outras palavras: vivemos em uma sociedade de racismo estrutural, que traz consigo comportamentos enraizados em sua essência.

A bandeira levantada por Djamila não é o meu lugar de fala, e esse lugar deve ser ocupado e afirmado por mulheres negras. A fala tem que ser de vocês, que trazem em seu DNA a luta pela valorização dos seus corpos, traços, marcas, identidade, para todas nós aprendermos. Mulheres que precisam ser reconhecidas pela potência que são.

Certa vez, Angela Davis, filosofa e negra disse: “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”. E foi com a ideia de movimento que o texto foi escrito, para que fosse aberto um espaço para discussão anti-racista de pessoas negras e não negras. E que esse reconhecimento da potência da mulher negra seja cada vez mais natural e inerente.

“A construção da mulher negra como inerentemente forte era desumana, Somos fortes porque o Estado é omisso, porque precisamos enfrentar uma realidade violenta. Internalizar a guerreira, na verdade, pode ser mais uma forma de morrer. Reconhecer fragilidades, dores e saber pedir ajuda são formas de restituir as humanidades negadas. Nem subalternizada nem guerreira natural: humana.”

― Djamila Ribeiro

Texto por Maria Eduarda Oliveira

Quem Tem Medo do Feminismo Negro? de Djamila Ribeiro foi o livro enviado na nossa 4ª edição de da Fora da Caixa, em novembro.

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