De 0 a 3000 estudantes

O que aprendi sobre educação com a (breve) história da Tera

Leandro Herrera
Somos Tera
Published in
7 min readMay 7, 2019

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A Tera nasceu em 2016, dentro de um pequeno quarto na minha casa.

Foi ali que desenhei as diretrizes para uma nova metodologia focada no ensino de competências digitais. Ali montei o nosso primeiro site, mapeei as áreas com maior carência de profissionais, pesquisei sobre bootcamps (cursos presenciais, rápidos, alta imersão) e estudei dezenas de relatórios sobre o futuro do trabalho. Foram meses caóticos.

Durante meses, passava meus dias projetando a Tera sobre esta mesa.

Eu havia largado um emprego que adorava, na Geekie, para empreender. Tinha confiança e conhecimento sobre o que poderia criar, mas nenhuma certeza que a Tera iria vingar.

Fui otimista e irracional, como todo empreendedor é e precisa ser.

Naquele início, fui desencorajado por muita gente. Elas me diziam que meu modelo não era inovador, seria pouco escalável e facilmente copiável. Eu discordava. Segui em frente.

Os primeiros telefonemas

Com a ajuda de @Bob Wollheim, sócio-investidor e advisor, organizei a primeira turma do bootcamp em UX Design, em uma parceria com o Cubo — primeiro parceiro que abriu as portas para meu sonho.

Criei um processo seletivo em que as pessoas interessadas em participar do bootcamp agendavam uma entrevista “com um dos consultores da Tera”. O consultor, no caso: eu (rs).

Cheguei a passar até oito horas por dia ao telefone. Perguntava aos profissionais sobre os desafios que estavam enfrentando, as competências que gostariam de desenvolver e qual formato de curso os atrairia.

Queria conhecer profundamente o público e garantir que teríamos apenas pessoas 100% alinhadas com o que o programa ofereceria. Apostei na premissa de que a educação só é boa quando é feita em conjunto, quando acontece de pessoa para pessoa.

Como empreendedor, os telefonemas também me ajudaram a saber se o modelo de educação que estava arquitetando na minha cabeça seria viável, atrativo e condizente com os desafios da economia do século XXI.

Não sabia onde poderia chegar, mas queria garantir que começaria do jeito certo.

Os primeiros 3000 estudantes

Três anos após começar a construir o projeto, a Tera atingiu a marca de 3,5 mil horas de educação. O que isso significa na prática?

Significa que 1,2 mil estudantes passaram por um dos nossos bootcamps em User Experience Design, Data Science, Product Management ou Growth Marketing. Até o final de 2019, serão 3 mil formados.

Significa também que validamos algumas teses de ensino e aprendizado e construímos pilares que podem inspirar outras instituições, empreendedores e profissionais a trabalharem pela transformação do setor.

Vou compartilhar três desses pilares com vocês. Educação, afinal, é troca. Ninguém transforma um sistema sozinho.

#Pilar número 1

A experiência do estudante como centro de todas as decisões.

Logo nos primeiros telefonemas, percebi um triste padrão. Muitas pessoas demonstraram frustração com a experiência que tiveram na graduação e, principalmente, na pós-graduação. A frase que mais ouvia delas era: “só fiz até o fim para pegar diploma”. Na maioria das vezes, pagamos um valor altíssimo e precisamos assinar um contrato de longo de prazo (18 a 48 meses) antes do curso começar. Desistir no meio do caminho é o pior dos mundos. Saímos perdendo dinheiro, pagando multa, sem diploma para mostrar no mercado. O fracasso é exclusivo do estudante.

Inverter este cenário foi uma das nossas prioridades.

Colocamos o estudante no centro de todo o processo. Queremos que eles tenham um papel ativo durante os encontros dos cursos, aprendendo, trocando experiências e, por que não, ensinando o/a expert.

Nos esforçamos para que esse processo seja divertido, prazeroso e acolhedor — porque adultos adquirem conhecimento falando, refletindo, chegando às suas próprias conclusões e trabalhando em projetos que considerem relevantes.

As apresentações de projetos se transformaram em eventos com alta energia e tom de celebração — nesta foto, projetos de UX Design apresentados no auditório do Google Campus.

Dentro da Tera, somos obcecados por feedback e solicitamos a opinião dos estudantes em cada micro-momento do curso. Se um deles sente falta, por exemplo, de case de determinado segmento, convocamos nossos experts e mudamos o planejamento na hora. Precisamos corrigir a rota imediatamente, enquanto os estudantes estiverem ali — não deixar para mudar apenas na próxima turma.

Como parte do processo, desenvolvemos o Teraway, um guia prático com mais de 30 páginas sobre como funciona esta metodologia de ensino experimental e sempre em evolução. Cada micro momento da experiência foi mapeado. O material ainda tem uso apenas interno, mas vamos abrir para o mundo em breve.

Teraway, nossa metodologia de aprendizagem. Aqui temos a visão dos micro momentos dentro de uma aula.

Foi esta obsessão pela experiência do estudante que nos levou a criar o Learning Experience System (LXS), uma plataforma digital para potencializar a experiência de aprendizado. Ela está sendo utilizada por todos as estudantes desde o início de 2019.

#Pilar número 2

A criação de comunidades de aprendizagem

Nossa comunidade, que reúne alunos, ex-alunos e experts de 40 empresas, troca atualmente cerca de 35 mil mensagens por mês em uma rede online. Essa comunidade, porém, não surgiu no mundo virtual. Foi formada e cultivada a partir de encontros presenciais, eventos e aulas realizadas em nossos espaços temporários (cinco unidades do WeWork).

Só em 2018, foram 34 turmas de alunos e 850 aulas realizadas. Encontros reais que geraram, posteriormente, trocas online. Mais do que aprender um conhecimento, as pessoas querem conhecer outras pessoas — e aprender com elas.

A partir de agora, também queremos estimular o outro lado dessa troca. No LXS, os estudantes terão acesso a um ecossistema completo, reunindo empresas, mentores, coaches e conectando-os a oportunidades profissionais.

Comunidades fortes geram fortes aprendizados — e mais oportunidades para todos.

#Pilar número 3

Horizontalidade de dentro para fora

Costumo dizer que tudo acontece por continuidade. Se a instituição de ensino trabalha internamente com rigidez e hierarquias dificilmente será capaz de criar um espaço de educação flexível e horizontal. Será praticamente um choque de culturas. E, pode ter certeza, que os estudantes vão sentir.

Por esta razão, o modelo de gestão da Tera é inspirado em novos modelos de gestão, como sociocracia e holocracia.

Estimulamos a transparência de informações para a tomada de decisão e a realização de rituais para as pessoas discutirem seus papeis e responsabilidades, de forma aberta. Como líder, acredito que esse modelo garante maior confiança aos colaboradores para encararem desafios novos, diminui o ego da organização e torna a empresa mais adaptável a mudanças externas e internas.

As organizações do futuro não serão aquelas que têm as respostas certas, mas aquelas que têm capacidade de criar, diante de uma situação inédita, uma nova resposta. De forma rápida e, também, coletiva.

Tudo isso transborda para o momento do ensino e aprendizado, criando uma atmosfera em que as pessoas se sentem seguras e empoderadas para aprender. Reflete-se também na satisfação das pessoas após a jornada de aprendizado.

A Tera já acumula cerca de 1000 avaliações, com um NPS consolidado de 87.

Daqui para a frente, temos apenas uma opção: continuar aprendendo

Já faz alguns anos que não estou sozinho na sala da minha casa, fazendo telefonemas. Nesse processo de construção da Tera, contei com a ajuda importantíssima dos meus sócios e, atualmente, tenho ao meu lado 30 colaboradores — um time diverso, composto por mais de 50% de mulheres.

Nosso objetivo atual é levar esses pilares de uma nova educação para um número maior de pessoas, dar oportunidade àqueles que estão à margem da economia digital.

Nosso caminho segue na direção da integração de tecnologia no processo de aprendizagem. Através do LXS, estamos colocando em prática um modelo híbrido, que abre espaço para personalização e profundidade do aprendizado.

Vamos criar novos bootcamps, expandir o volume de empresas que ajudamos no processo de transformação digital (já são mais de 40 clientes, de scale-ups a grandes companhias) — e criar um modelo em que a pessoa se sinta desafiada a aprender por toda a vida, já que a tecnologia continuará transformando o trabalho e as organizações.

Queremos ganhar escala sem perder qualidade — um dilema ao qual nenhuma instituição de ensino inovadora escapa.

Não temos respostas prontas e não vamos replicar fórmulas. Todo mundo espera uma disrupção na educação, mas a verdade é que ninguém sabe dizer como essa disrupção ocorrerá.

O que podemos — e devemos — fazer como instituição de ensino é tentar, arriscar e criar experiências que permitam às pessoas estarem mais preparadas para os novos desafios. E, se possível, inspirar transformações em todo o sistema.

Para saber mais sobre a Tera, acesse www.somostera.com

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