Como a evolução da tecnologia impacta a estratégia de produto?
Especialistas de Produto falam sobre o desafio de lidar com novas tecnologias, na Digital Product Week 2019.
No primeiro encontro da Digital Product Week 2019, transmitido ao vivo pela Tera, especialistas da área de produto discutiram como a evolução da tecnologia impacta a estratégia de negócio e produto. Veja os destaques!
O tema do primeiro dia da Digital Product Week 2019 foi “O próximo salto — como a evolução da tecnologia impacta a estratégia de produto”.
Leticia Gimenez, Product Lead do Creditas, e Paulo Floriano, Design Director do Grupo ZAP, trocaram ideias sobre como antever as tendências de mercado e as novas possibilidades da tecnologia para alavancar e redirecionar uma estratégia de Produto. A mediação da conversa foi de Manuella Ferreira, do time de Learning Experience da Tera.
Da ansiedade à aterrissagem
Como Manuella afirmou no início, o primeiro debate da Digital Product Week introduziu um tema mais abrangente, que permeia todo o conjunto de profissionais que lidam com algum tipo de tecnologia digital.
“Precisamos refletir sobre as grandes ondas atuais da Economia Digital, para que possamos surfá-las ao longo do desenvolvimento da estratégia de negócio e produto.”
O bate-papo começou já com uma pergunta desafiadora.
Manuella lembrou que a apresentação do Leandro Herrera sobre as tendências e novidades que acompanhou na SXSW em 2019, menciona mais de seis mil eventos acontecendo na mesma conferência: como sair desse contexto de constante ansiedade, quando estamos expostos a muitas e muitas tendências e buzzwords novas a todo momento? Como “aterrissamos” no que realmente importa?
Leticia Gimenez começou destacando a importância do que ela chamou de gestão da ansiedade.
“É muita coisa acontecendo o tempo todo, precisamos entender qual é o foco. No meu caso, costumo focar em quem é usuário e no momento presente. Isso ajuda a combater a ansiedade. Do que meu usuário realmente precisa? O que fará a diferença na jornada dele? O que a companhia está pronta para desenvolver? Essas perguntas são as armas que combatem a ansiedade.”
Primeiro o comportamento, depois a tecnologia
Para Paulo Floriano, o entendimento do propósito é fundamental:
“Precisamos nos perguntar porque queremos incorporar uma tecnologia no produto que estamos desenvolvendo. É por que queremos parecer inovadores para o mercado? Ou porque de fato aquilo resolve uma dor?”
De acordo com ele, este é um bom jeito de filtrar aquilo que vem de fora:
“Como designer, primeiro observo o comportamento dos usuários para depois pensar em como a tecnologia pode torná-lo mais rápido ou potencializar o valor do produto ou do serviço que estamos entregando”.
Leticia também destacou a importância de “separar o que já é óbvio e padrão, como digital e mobile, daquilo que é tendência”.
Para ela, um exemplo de tendência é a Inteligência Artificial. “Ao menos no Brasil, onde ainda não vimos um produto ou serviço que tenha usado isso de forma expandida, talvez porque nosso usuário final não esteja pronto para isso”.
O que já está acontecendo
A seguir, Manuella perguntou aos participantes sobre as tecnologias que já estão impactando seus negócios e influenciando a tomada de decisão em relação aos produtos.
Leticia contou que acabou de assumir o time de Customer Success da Creditas.
“Estamos olhando muito para bots e para inteligência artificial no sentido de prever o que o usuário quer. Se eu conseguir prever melhor o que ele precisa, se eu conseguir antecipar algo sem que ele tenha que entrar em contato com a gente, acho que estou resolvendo um problema muito mais importante.”
Paulo mencionou a volta dos QR Codes.
“Empresas estão voltando a usar a tecnologia [dos QR codes] para aplicações super relevantes e que consigam atingir uma parcela muito grande da população”, disse.
Ele também alertou para o fato de que estamos em uma bolha, em São Paulo e no Rio, com produtos e serviços endereçados a pessoas maduras digitalmente, e disse que “não olhamos para o quanto a tecnologia poderia impactar pessoas em outros lugares”.
O Design Director do Grupo ZAP trouxe também que a empresa está olhando muito para machine learning.
“Como criamos mecanismos de recomendação em tempo real? Como prevemos comportamentos dos nossos usuários usando dados de comportamento? É o tipo de tecnologia que tem impacto muito grande para nós”.
Como funciona na prática?
Pegando esse gancho, Manuella Ferreira perguntou a Leticia e Paulo sobre exemplos do dia a dia: “Tomando um produto específico: o que vocês perceberam e a qual conclusão chegaram sobre a melhor tecnologia ou processo para atender a um ponto em particular? Como funciona esse processo dentro das empresas de vocês?”
Paulo afirmou que passou por realidades diferentes.
“Trabalhei em empresas que tinham uma célula olhando exclusivamente para tecnologias. Mapeando tendências, usando sandbox de tecnologias para tentar alimentar pipeline de produto. Essa é uma abordagem que pode funcionar, dependendo do contexto eda maturidade da empresa.”
De acordo com ele, o ZAP funciona um pouco diferente.
“Não acreditamos muito em times apartados em inovação. Cremos que experimentar e testar coisas novas têm que estar no DNA de todos os times e de todos os papéis”.
Como fazer isso? “Por meio de cerimônias para tentar gerar esse tipo de cultura de colaboração e teste. Como hack weeks, por exemplo.”
Leticia contou que trabalhou em uma empresa que conseguiu implementar a metodologia dos 20% do Google. Mas havia a premissa de o time estar rodando muito bem, já maduro, “entregando, há dois ou três quarters, num ritmo legal”.
A partir disso, foi possível separar um dia por semana para fazer um hack day, focar no conhecimento de uma tecnologia nova.
“Isso gera um outro tipo de engajamento com a empresa. Tendo a contrapartida de que os times estão maduros, você consegue trabalhar com tecnologias novas”.
Incorporando a cultura da inovação
A Product Lead também mencionou que a Creditas tem uma cultura de inovação e de experimentação muito forte.
“É muito mais genuíno quando uma ideia emerge do time. E as ideias são testadas de forma rápida e barata. Às vezes, é muito mais proveitoso colocar a ideia pra rodar com pouca tecnologia. Tendo esse mindset, no meu time estamos trabalhando com três ideias, que surgiram dentro da companhia a partir da observação de mercados mais maduros. A Creditas dá essa abertura para testar e errar.”
O Grupo ZAP tem um mindset semelhante de discovery, de acordo com Paulo.
“Nós temos um processo colaborativo entre Product Managers e Designers no qual não importa de quem é a ideia, o time tem a prerrogativa de decidir se aquilo deve ou não ir para a frente, baseado em dados e evidências. Temos exemplos de ideias que, para boa parte da empresa, seriam novas fontes de receita, mas que foram invalidadas por conta de evidências.”
Ele destacou que, antes do processo de discovery, é essencial um time de pesquisa cuja principal missão é mapear jornada.
“Temos, dentro dos atores, o consumidor final, os imobiliários e corretores, os incorporadores; temos o mapeamento da jornada desses usuários para entender onde estão as maiores dores e onde deveríamos atuar no próximo sprint, ou na próxima etapa de produto. Isso dá uma clareza sobre onde deveríamos investir nossos esforços, e onde de fato podemos incorporar tecnologia”.