Estudo de Caso de UX — Transparência Brasil

Danielly
Somos Tera
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6 min readJul 27, 2019

Chega um momento que começamos a nos questionar se o que estamos fazendo agora é exatamente o que queremos fazer pelo resto da vida. Como uma publicitária que foi para a área de criação/design, comecei a sentir que fazer layouts bonitos já não me bastava, faltava algo.

Foi quando me deparei com a profissão do momento: UX Designer.

Nome bonito, mas que uma pesquisa rápida no Google não é o suficiente para explicar tudo que envolve essa área. A única certeza que fica é que quanto mais você pesquisa, mais dúvidas e incertezas aparecem.

Curso online? Textos no nosso querido Medium? Entendi a teoria, mas… como aplicar no dia a dia?

Bora para um curso presencial!

Dessa necessidade de encontrar mais respostas, decidi me matricular no Bootcamp de UX Design da Tera, que tinha uma proposta bem legal com visitas técnicas a empresas moderninhas, um case real para os alunos trabalharem e cada aula com um professor diferente que atua no mercado.

Então, me vi em uma sala com 30 alunos tão sedentos por conhecimento quanto eu. Todos ansiosos, pois iríamos ser divididos em grupos de 6 pessoas e seríamos apresentados aos nossos clientes. Será que eu cairia em um grupo legal? Como vai ser o meu projeto?

O nosso cliente foi a Transparência Brasil, uma ONG que tem como objetivo criar uma plataforma clara e de fácil assimilação, que mostre dados sobre o investimento na educação básica e pública no Brasil. Para criar a plataforma, nos foi mostrado vários códigos no Github com gráficos, números e um conteúdo um tanto desafiador para designers que fogem do Excel.

A ativista que existe dentro de mim, achou incrível e pertinente uma plataforma sobre educação em um momento tão crítico em que nosso país está passando. Mas é nesse momento que bate o frio na barriga, parece que é difícil se conectar com um projeto que parece tão frio e pragmático (e tão difícil de entender).

Github? É de comer?

Matriz CSD

Para colocar um norte em nosso caminho, começamos a fazer a matriz CSD, em que colocamos nossas certezas, suposições e dúvidas em relação ao projeto. A partir dela, criaríamos o nosso roteiro de pesquisa para entrevistar os possíveis usuários da plataforma.

Pesquisa

O público-alvo que nos foi apresentado foram jornalistas, políticos, empresas e o “cidadão comum”.

Pesquisa qualitativa

Começamos entrevistando dois jornalistas, um cientista político e um professor de jornalismo de dados. A sensação ao entrevistá-los é que parecia que nós é que estávamos sendo entrevistados, pois são pessoas que gostam muito de falar, responder perguntas e questionar.

A cada entrevista ficava mais claro do que se tratava o projeto e comecei a entender como era o trabalho de quem disponibilizava, consumia e interpretava dados.

Pensamos que tínhamos achado a nosso público-alvo, mas descobrimos que esse perfil já sabia exatamente onde encontrar as informações que precisava, através da Lei de Acesso à Informação. Eles não precisavam necessariamente de outra plataforma de dados brutos.

Está escrito: A gente já sabe de cor que tipo de dado está disponível e que tipo de dado que a gente vai precisar.

Pesquisa de Guerrilha

Então nos voltamos para os “cidadãos comuns”. Mas o que é um cidadão comum? Através de pesquisa de guerrilha realizada com 9 pessoas, descobrimos que elas sabem da importância dessas informações da educação, mas não enxergam como um problema ou necessidade na vida delas.

Pesquisa Quantitativa

Realizamos também uma pesquisa quantitativa com 223 pessoas. A maioria tem interesse em saber sobre a educação no Brasil, mas apenas metade diz que pesquisa sobre isso e dessa metade, a maioria não acha os dados com facilidade.

Então, como criar o interesse nas pessoas e entregar informações de fácil entendimento?

“É preciso encontrar as pessoas certas e plantar sementes para o futuro. É improdutivo conversar com todo mundo. Precisa ser pessoas que querem engajar. Dentro desses perfis existem, por exemplo, pessoas que engajam apenas para discutir ou para trollar. Às vezes, é preciso contar com esse público só para eles fazerem barulho mesmo, espalhar a ideia para o público certo conhecer” (Resposta do professor jornalista de dados).

Personas

A partir das pesquisas, conhecemos nossas personas, o Carlos e a Catarina.

Carlos: 35 anos, enfermeiro. É preocupado com a educação dos filhos e cenário político, mas tem uma ação mais passiva em relação às informações que tem acesso, consumindo mais em redes sociais.

Catarina: 24 anos, estudante de Geografia em universidade pública. Se envolve em assuntos políticos, causas sociais e gera debates em redes sociais e presencialmente.

Jornada do Usuário

Com as personas definidas, começamos a criar uma jornada para elas.

A jornada de Catarina começa em grupos de discussão em redes sociais, onde tem contato com os posts (abaixo) sobre o investimento em educação em algumas regiões do Brasil.

Posts nas redes sociais como Facebook e Instagram

Ela acessa a plataforma, pesquisa pela cidade de interesse e o ano, e encontra os dados de sua cidade. Lá ela tem acesso a algumas categorias como custo por aluno, materiais, merenda e transporte. Além das explicações, botões de positivo e negativo ajudam a entender a falta de investimento em cada setor e tem um resumo no final para o usuário ter uma visão geral do investimento.

Ao ser impactada pelas informações, descobre que na plataforma tem como enviar um e-mail para os políticos responsáveis, já com um texto pronto, para questionar quanto ao investimento em educação. O ato de enviar um e-mail, já com um texto sugerido é o mínimo esforço que o usuário faz para conseguir uma “mudança” na educação.

Após isso, decide compartilhar no Facebook e Instagram sua descoberta e convida seus amigos na causa.

Onde acaba a jornada da Catarina, começa a do Carlos, que vê o post, acessa a página com os dados da cidade e ele pode enviar um email, compartilhar ou não fazer nenhum dos dois (pode não ser do seu feitio), mas o mais importante é o controle social que ele ganhou sobre uma informação que ele não tinha acesso de uma maneira didática.

Sugestões

Além da plataforma, também seria interessante criar um chatbot que facilitaria o acesso e recebimento de informações. O usuário informa a cidade e o ano e consegue o dados que precisa de maneira fácil e rápida. Nesse caso, criamos o Edu.

Também é possível compartilhar as informações nas redes sociais com vários cards atrativos, que o Transparência Brasil pode fazer em sites como Canvas, já que não possuem um designer gráfico na equipe.

É importante também investir em estratégias de marketing digital para que a Jornada do Usuário seja um ciclo, para que a Catarina e o Carlos continuem acessando a plataforma e se informando e ajudando a informar outras pessoas também.

Conclusões

Apesar da temática difícil, os dois meses do Bootcamp de Design UX possibilitaram uma imersão nessa pauta tão importante. É muito satisfatório ver todas as incertezas e dificuldades, aos poucos, se tornando claras e concretas. Além do projeto, também foi um desafio apresentá-lo no Campus Google e na frente de especialistas e da responsável pela Transparência Brasil — mas foi muito bom receber os feedbacks e perceber que o caminho sugerido é muito possível.

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Danielly
Somos Tera

Designer de Estratégia que ama escrever e pesquisar. Faixa marrom de karatê e pole dancer ❤