Mudar de carreira é o novo normal

Leandro Herrera
Somos Tera
Published in
3 min readApr 8, 2020

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A fluidez nas relações de trabalho exige novas formas de aprender para ter sucesso na economia digital

Publicado originalmente em Época Negócios.

Hoje, as carreiras não são mais previsíveis e lineares como eram antes.

Primeiro, porque as profissões que movimentavam a economia há alguns anos estão gradualmente cedendo espaço para outras, com as mudanças trazidas pela tecnologia digital. As empresas vêm substituindo antigos papéis por outros bem diferentes, no processo que vem sendo chamado de “transição digital”. Quando as pessoas que vivem essa transição começam a ver seu papel original perdendo importância na organização, sua melhor opção é migrar para uma carreira nova.

Na pesquisa Re:Trabalho 2020, que investigou como as pessoas e organizações da “transição” estão lidando com o impacto da tecnologia, descobrimos que 63% das pessoas já mudaram de carreira e 48% pretendem mudar de carreira nos próximos 12 meses. Dessas pessoas, 70% dizem que querem uma carreira mais alinhada a seus interesses e propósito de vida.

Ou seja: a relação das pessoas com a carreira hoje é completamente diferente da que as gerações passadas tiveram. Elas estão menos preocupadas com estabilidade e mais dispostas a experimentar novos caminhos a partir de seus próprios históricos e interesses.

Essa busca faz com que as pessoas também mudem de empresa com mais frequência: 53% das pessoas pretendem mudar de empresa nos próximos 12 meses, o que nos indica que tem mais gente querendo mudar que gente querendo ficar. E de novo aqui a transição digital tem um papel central: nesse grupo de pessoas que quer mudar de empresa rápido, a maior parte delas trabalha hoje em empresas com baixa cultura digital.

A pesquisa indicou também que as principais carreiras emergentes na área digital hoje, especialmente quando olhamos para a região sudeste, são: Liderança de Produto, Analista de Dados, UX Designer, Scrum Master e Cientista de Dados. Nenhuma delas surgiu como um curso extensivo tradicional de graduação, mas de necessidades específicas que empresas digitais estão percebendo no dia a dia. São também carreiras em alta demanda, com poucos profissionais preparados no mercado — a pesquisa indicou que 1 em cada 4 pessoas que trabalha na área de Liderança de Produto (Product Management) ganha acima de R$ 15 mil por mês.

Nesse contexto, as pessoas buscam novas formas de aprender e se atualizar de maneira contínua e querem trabalhar em empresas que as ajudam a aprender: 34% buscam uma nova empresa pelo potencial de aprendizado que ela oferece.

Mas para entrar nas empresas, muitas vezes a vontade de aprender não é suficiente: as pessoas precisam encarar um processo de atualização (upskilling) ou aquisição de novas habilidades (reskilling). Cada vez menos a pós-graduação tradicional supre essa necessidade, como ficou claro na resposta de 84% das pessoas, que acreditam que uma pós-graduação não ajuda a se preparar para a Economia Digital. O que 79% das pessoas vêm fazendo é correr atrás de cursos, mentorias e novos projetos para se preparar para o mercado.

Essas pessoas que já estão correndo atrás de modelos alternativos de aprendizagem para se atualizar estão propondo novos contornos para suas carreiras e, ao mesmo tempo, definindo quais serão as carreiras do futuro.

É um movimento fluido, que a cada dia transforma um pouco mais o perfil de uma nova força de trabalho, desafiando empresas a repensarem seus modelos de gestão e liderança. Assim como na biologia, aqueles que sobrevivem “não são os mais fortes nem os mais inteligentes, mas os mais adaptáveis à mudança”.

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