Novo(a) em UX? Cuidado com estas 5 armadilhas!

Felipe A. Carriço
Somos Tera
Published in
6 min readJan 6, 2020

Se você é iniciante no mundo de UX, talvez esta lista ajude você a não cometer alguns erros básicos da profissão.

Aqui não vou falar sobre métodos, heurísticas, usabilidade etc. Trata-se apenas de 5 dicas que eu gostaria de ter recebido no início da minha carreira, mas que certamente não representam todas as armadilhas do nosso dia a dia dentro das empresas.

Se você possui outras dicas para quem está começando, não hesite em comentar!

1. Medo de estar errada/o

Quando éramos bebês, nós não tínhamos medo de errar. Foi errando centenas de vezes que aprendemos a mover nossos braços e pernas para engatinharmos. Foi caindo que descobrimos como nos equilibrar e ficarmos em pé, para então começarmos a dar os primeiros passos. Foram os erros que pavimentaram as nossas primeiras descobertas!

Gabarito

Até que veio a escola e nos apresentou o gabarito — ou você diz exatamente o que o professor quer ouvir, ou você está errado. Desde então tememos erro, pois talvez não passaremos de ano, não seremos aceito pelo grupo ou perderemos o emprego.

Diz a história que Thomás Edison fez inúmeras tentativas antes de conseguir fazer sua lâmpada elétrica funcionar. Foram tantos erros que um dos seus auxiliares sugeriu que ele não perdesse mais tempo e desistisse, já que após 700 tentativas eles não haviam avançado nem um passo. No que ele respondeu:

“O quê? Não avançamos um só passo? Avançamos 700 passos rumo ao êxito final! Sabemos de 700 coisas que não deram certo! Estamos para além de 700 ilusões que mantínhamos anos atrás e que hoje não nos iludem mais. E a isso você chama perda de tempo?”

Esta frase por si só já diz muito sobre o universo exploratório do UX. Nosso trabalho tem muito mais a ver com a geração de muitas hipóteses e boas perguntas do que com respostas certeiras e imediatas.

Em todo caso, vale ressaltar que os erros devem ser celebrados APENAS quando eles nos levam a aprender algo. Além disso, assim como uma criança que aprende a andar e engatinhar, estar amparado por colchões e o olhar atento de um adulto faz toda a diferença. Sendo assim, nós precisamos nos cercar de evidências que tornem nosso caminho mais prudente e respeitar cada um dos nossos erros e acertos como fruto de um infinito aprendizado.

2. Viés de confirmação

Talvez com efeito do medo de errar que nos foi ensinado ao longo dos anos, surge o viés de confirmação: uma falácia lógica que inconscientemente propagamos. Resumidamente, trata-se da tendência de nos lembrarmos, interpretarmos ou pesquisarmos informações de maneira a confirmar nossas crenças ou hipóteses iniciais; é o gabarito que nós mesmos formulamos, baseados no que nos fez ser aceitos nos grupos onde convivemos, fazendo dele uma armadilha perigosa para nós, UXs.

Jakob Nielsen, um dos nomes mais importantes do Design de Experiências do Usuário, senão ‘O’ nome mais importante, disse a frase que resume muito bem o coração da nossa profissão:

Você não é o usuário.

No geral, sua realidade, suas crenças e suas experiências não representam aquilo que seu usuário vive, acredita ou experiencia. É por isso que nós precisamos ter muita humildade e admitirmos que não somos os donos da verdade do nosso usuário.

Empatia: Ande uma milha nos sapatos do outro.

Podemos até ter boas referências e formular hipóteses certeiras sobre o nosso usuário, mas precisamos colocá-las à prova a fim de extrairmos a verdade que existe naquilo que acreditamos.

Ou seja, respeite as suas dúvidas e procure não tropeçar no próprio ego. Sempre que possível, teste com seu usuário a solução que está em desenvolvimento. Caso não seja possível, lute com todas as suas forças para que seja (ou pelo menos dê um toque amigável nas pessoas que podem tornar o teste com o usuário uma realidade 😉).

3. Solitude

Nossa profissão, apesar da idade, ainda não nasceu para muitos nichos de mercado. Uma boa analogia é um bebê de elefante, que fica 2 anos na barriga da mãe — a gestação mais longa da natureza — e, quando nasce, é desengonçado e precisa de ajuda para ficar em pé e caminhar.

Muitas vezes, somos contratados porque as empresas “ouviram falar” que o UX pode transformar seus negócios, levando-os a contratar alguém para uma posição que antes não existia, cujas responsabilidades são desconhecidas para 99% das outras pessoas que trabalharão com vocês. Essa realidade nos faz entrar numa espiral de solitude, a qual devemos romper imediatamente.

Enquanto a palavra Solidão significa estar só, Solitude é tratada como uma “virtude moderna”, e significa basicamente não precisar de ninguém. Solidão é uma realidade que precisa ser compreendida num mercado inexperiente como o Brasileiro, mas Solitude não. Precisamos das pessoas!

Uma andorinha só não faz primavera. — Aristóteles

No sentido original, quando essa frase levava o termo Primavera, ela queria dizer que ninguém pode ser julgado por um ato isolado. Já na versão mais popularmente conhecida, com a palavra Verão, uma pessoa só não pode lá grandes coisas. Ou seja, independente da estação, um UX só não é um bom UX.

A única maneira de vencermos os nossos vieses (1) é colocando aquilo que acreditamos nas mãos de outras pessoas; é entregar a cria para que o mundo a julgue, sem medo de errar (2).

Se este é o seu caso, desenvolva sua habilidade de educar aqueles que estão ao seu redor sobre a realidade de UX. Crie workshops, use ferramentas visuais, compartilhe textos e links interessantes, pregue a palavra (!) mas sempre com muita empatia e simancol.

4. Advogado do Diabo

https://www.oversodoinverso.com.br/o-advogado-do-diabo/

Nós somos os responsáveis por defender a visão do usuário dentro das nossas companhias. Isso significa que teremos que “brigar” pela nossa posição, a fim de entregarmos a melhor experiência para as pessoas que serão impactadas pelos produtos e serviços que desenvolvemos.

Porém existem maneiras e maneiras de lutar pela sua posição. Não podemos chegar com os dois pés no peito da gerência, do marketing, do rh ou seja lá de quem for. Nossa profissão requer, mais uma vez, Empatia e Simancol, senão seremos reconhecidos como os Advogados do Diabo, os quais sempre jogam um balde de água fria nas ideias dos outros. E uma vez que sua reputação foi formada, dificilmente ela será revertida.

Lembre-se sempre que, da mesma forma que seus pares podem estar errados, talvez você também esteja (1 e 2). E você precisa ser capaz de mostrar para todos que está tudo bem com isso (3)!

As dúvidas e hipóteses precisam ser respeitadas e investigadas por todos. Quando você atingir este ponto, você será considerado o “Advogado do Usuário” e respeitado pela sua posição.

5. Pontificação dogmática

Estava procurando um bom nome para esta dica, mas como não encontrei outra forma que não fosse “não seja um c*zão”, fui atrás da raiz das palavras para cunhar um termo menos chocante.

Pontificar, além do sentido papal, é o ato de falar de maneira pomposa, de forma que apenas esfregue sua autoridade na cara dos outros. Já dogmatismo é acreditar e falar como se a sua verdade fosse incontestável perante as demais, muito mais pela sua crença do que com estudos e provas.

É sério, não seja.

Logo, Pontificação Dogmática é se autoconsiderar uma entidade, dona da razão e da palavra final, sem dar ouvidos às opiniões dos outros.

É ter mais certezas do que dúvidas (1), alimentando os próprios vieses de confirmação (2), acreditando que você é suficiente (3) para falar em nome do usuário, mesmo que isso passe por cima da opinião dos outros (4).

Respeite a dúvida, seja amoroso, empático e agregador, e, acima de tudo, não seja um c*zão!

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