O que aprendi em 3 meses de trabalho na Tera

Daniel Prata
Somos Tera
Published in
9 min readSep 23, 2019

Set/2019

Trabalho não é guerra

Precisamos repensar e ressignificar urgente nossa relação com o trabalho e com a educação. A velocidade da inovação digital e do desenvolvimento tecnológico hoje é ditada pelas necessidades das empresas, não pela pesquisa acadêmica — é tudo muito rápido.

A Tera nasceu com o propósito de iluminar essa lacuna com um novo modelo de educação para o trabalho — e se esforça como organização para manter uma cultura que seja sempre incompatível com o sentimento de guerra.

Não é tarefa fácil. O Ernest Hemingway dizia que:

“As melhores pessoas possuem sentimento de beleza, coragem de assumir riscos, disciplina para contar a verdade e capacidade de se sacrificar. Ironicamente, suas virtudes as fazem vulneráveis.”

Far Side — Gary Larson

É preciso muita coragem para se manter vulnerável e ajuda muito ter um rico núcleo de pessoas - gente do Design, da Engenharia, da História, da Obstetrícia, do Direito, da Psicologia. Gente de São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Piauí. Você conversa com um, ele discute uma ideia mostrando um discurso do Carl Sagan sobre o tamanho do universo. Conversa com outra, entende as relações entre o Marketing e a Engenharia Bioquímica. Em uma reunião despretensiosa termina analisando o plano estratégico da Missão Apolo. Blockchain. Corais.

É uma verdadeira pororoca de gente curiosa e corajosa encontrando seu lugar na educação e criando as regras desse jogo colaborativamente. Assim fica mais fácil que alguém chegue de um contexto totalmente diferente e sinta que está no lugar certo.

“Em cada enxadada uma minhoca” — Walter, da infra

A partir desses encontros, produtos nascem, projetos acontecem e uma escola se desenrola: já são mais de 2000 estudantes formada(o)s.

Com o crescimento acelerando, surgem dois grandes desafios para manter essa pororoca de gente produzindo junto. O primeiro tem a ver com encontrar novos talentos (quer se candidatar?) e métodos eficientes de gestão e organização — rituais, cuidados com o grupo, acordos. A Tera (por enquanto) acredita que modelos de autogestão são o melhor caminho para seguir e a Target Teal vem ajudando nessa jornada.

Organizações Orgânicas — Modelo de Autogestão proposto pela Target Teal

O segundo desafio tem a ver com comunicação: reconhecer a história que está sendo criada e disseminá-la através das pessoas que fazem parte dela — estudantes, experts, colaboradores, parceiros.

É nessa parte que eu chego para ajudar. Na contramão do Dali e do Chacrinha, meu papel envolve diminuir a confusão — encontrar pontes de sentido para conectar pessoas de maneira mais direta, verdadeira e profunda com o conhecimento que é útil neste momento.

Não somos abelhas

Enquanto abelhas constroem suas colmeias com a mesma arquitetura há milhares de anos, a humanidade está fazendo salto livre na estratosfera e inventando robôs que adivinham qual é o próximo filme que você quer ver.

Far Side — Gary Larson

Diferente das abelhas, nosso trabalho surge a partir de uma insatisfação constante com o estado atual do mundo. Acreditamos que ele sempre pode ser melhor para nós e para quem está está em volta — e trabalhamos para resolver essa lacuna a partir das nossas ideias e mãos na massa.

Há alguns anos, trabalhar não parecia tão complicado: você escolhia uma profissão, se especializava nela, treinava alguém para ocupar seu lugar e se aposentava. Até que uma ideia especialmente valiosa e potente mudou tudo: inventamos uma forma instantânea de nos comunicar e interagir, que alcança quase todos os lugares do planeta.

Aí tudo acelerou e o trabalho humano começou a mudar de lugar rapidamente. Mas não é que ele mudou e parou: é que ele não vai mais parar de mudar. Na curva que vai do Da Vinci ao robô, todo trabalho começa criativo, vira uma técnica especializada, torna-se rotineiro e, por fim, é terceirizado para algoritmos incansáveis.

No meio de tanto zum zum zum digital, uma coisa é certa: haverá sempre pessoas sendo substituídas por máquinas — e haverá sempre ideias que as máquinas não foram capazes de ter. Para aproveitar ao máximo essa relação e manter cada um no seu lugar, os humanos precisam, mais do que nunca, botar a mão na massa digital.

A educação é o melhor caminho para acelerar esse processo de empoderamento das pessoas ante a volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade características da Economia Digital. É para isso que a Tera desenvolve jornadas de aprendizagem com foco na aplicação prática do conhecimento e na criação de conexões com a realidade atual do mercado.

Antigamente, para fazer uma cadeira, você precisava de um marceneiro, uma árvore e muitos dias de trabalho duro. Hoje, com uma equipe engajada e alguns post-its, é possível oferecer ao mundo coisas como um serviço de assinatura de cadeiras do Game of Thrones para eventos. Se as pessoas entenderem o que você está oferecendo e isso fizer sentido como negócio, parabéns: você acabou de criar uma nova rota no labirinto do trabalho na Economia Digital. Se essa rota for clara e valiosa o suficiente para atrair boas artesãs e artesãos de Experiência de Usuário, Análise de Dados e Growth Marketing, por exemplo, suas possibilidades de crescimento são gigantes: a nuvem é o limite.

Mas decidir O QUE fazer é só uma parte da jornada. É importante saber POR QUE e COMO fazer. A Tera, como um ponto de encontro para quem quer enxergar além dos limites e evoluir continuamente seu papel na Economia Digital, se propõe a ajudar na equação desse círculo de ouro: inspirando mais consciência, responsabilidade e coragem nas pessoas que lidam frente a frente com a tecnologia em transformação.

Não sei qual destino anda mais incerto, dos humanos ou das abelhas. Mas sinto que a Tera pode contribuir para os dois, preparando uma nova geração de profissionais que resolve problemas do presente ao mesmo tempo em que cria um futuro melhor para todos.

Neste momento da Tera, com fome de empresa grande e corpinho de Start-up, em pleno estirão, me pergunto o que pode ser feito para ajudar quem vem chegando a zelar por uma cultura que, mesmo entendendo as automações que precisa fazer, não entre na espiral de massificação da informação e coloque a verdade e as percepções das pessoas sempre em primeiro plano. Em um novo tipo de escola para o século XXI, essa questão é especialmente relevante.

Trabalhando para a Endeavor, conversei com muitos empreendedores e empreendedoras faixa preta, ajudando a entender e traduzir suas histórias. Adivinha o que eles tinham em comum? Não era a descoberta de qual videogame ou snack grátis agrega maior valor ao escritório nem a invenção de uma bala de prata da gestão que faz tudo acontecer com eficiência.

Era outra coisa, um certo tipo de brilho no olho de quem não está em uma guerra, mas em um tipo de dança ou brincadeira, onde essas pessoas vão se desenvolvendo e servido às outras. Essa turminha do barulho não movimentou boa parte da economia do país seguindo apenas tendências ou planos de negócio meticulosos — fizeram isso mobilizando profundamente as pessoas.

Ouvi do Paulo Veras uma frase do grande filósofo moderno Mike Tyson: nenhum plano de luta sobrevive a tomar o primeiro soco na cara. Quando chega a tormenta — nova demanda, mais um concorrente, muda o algoritmo, troca o presidente — o que salta na confusão da neblina é esse brilho no olho que contagia quem está em volta.

A diferença dos dois estágios de negócio gira em torno das estratégias possíveis para endereçar esse mesmo grande desafio: Como brilhar os olhos e manter esse brilho acesso? 42.

É preciso ampliar a conversa

Logo nas primeiras semanas me convidaram para participar de uma sprint para desenho do novo site e íamos dar dois passos atrás, começando desde a marca. Distribui alguns decks de arquétipos e cada uma das na sala deveria escolher os 2 que mais representavam a Tera. Resultado: com exceção de uma única carta (que oferecia um aromático twist, como diria o Julio Molina) todas as 10 pessoas na sala, antes de discutir em grupo, escolheram os mesmos.

Nesse momento, você como responsável por dar corpo à marca, respira aliviado — não será preciso inventar ilusões, a história que existe é séria o suficiente para ser reconhecida por quem faz parte dela.

O próximo passo é tentar contar os diferentes detalhes dessa história envolvendo mais vozes na conversa. Materializar o walk the talk trazendo simplicidade e consistência ao talk.

Aprendi muito sobre o potencial das histórias na finada Gruda (⭐2008 ✝️2014) e na Cingulado (vida longa!).

A Gruda foi uma agência de comunicação que pela primeira vez possibilitou que artistas, marcas e festivais extrapolassem sua arte e ideias para plataformas digitais, vencendo as barreiras geográficas que os separavam dos fãs e deixando na nuvem um legado para as próximas gerações.

Na Cingulado, contávamos com cuidado e humanidade os desdobramentos dos nossos projetos de impacto social, entendendo que as histórias permanecem além dos projetos e mobilizam novos públicos a partir de uma narrativa compartilhada.

Agora, aqui, segue o jogo, quero mais. Parafraseando Tim Maia: Mais histórias! Mais tecnologia! Mais humanidade! Mais brilho no olho! Mais verdade! Mais tudo!

Nesses 3 meses, já tive oportunidade de ouvir histórias incríveis e trabalhar com ótimos parceiros — como Scoop&Co, Zero 42, VOCS — entendendo a responsabilidade que temos na construção do fio que liga o passado ao futuro do trabalho, por meio da educação.

Nesta jornada, somos otimistas o bastante para imaginar e descrever um futuro melhor; e pragmáticos o suficiente para ouvir, testar, aprender e tentar de novo. Nesse encontro de pessoas complexas, que não se satisfazem desenhando sempre as mesmas colmeias, muitas histórias de transformação vêm mostrando que é possível reinventar a educação adulta — com novas experiências digitais e presenciais baseadas nos princípios da Andragogia. Bora espalhar essa notícia.

Vou ter que desaprender tudo isso

“Os analfabetos no século XXI não serão os que não souberem ler ou escrever, mas os que não souberem aprender, desaprender e reaprender”. Alvin Toffler

Faz parte do “mindset”. Tudo isso que eu aprendi talvez não valha muita coisa daqui a 3 meses. Entrego este texto com a confiança de que ele é o melhor que eu poderia fazer neste momento. E a certeza de que é só o começo de uma história: um chamado à aventura. Há muitos desafios, obstáculos, conselheiros, abismos e recompensas pela frente.

Se ficaremos grandes ou gigantes — e o que aprenderemos com isso — só a jornada vai nos dizer. Fico feliz de ver tantos caminhos e mestres pela frente.

Fica o convite

Se você de alguma maneira se sente parte da história que a Tera está tentado contar, sobre como a tecnologia e o conhecimento podem servir ao bem coletivo e sobre como podemos reinventar nossa relação com o trabalho a partir de novas habilidades e conexões, sinta-se convidada(o) para agregar seus depoimentos, visões e aprendizados.

Queremos mostrar para mais gente como as disciplinas de Liderança de Produto, UX Design, Growth Marketing, Análise e Ciência de Dados fazem parte dessa reinvenção e são excelentes caminhos para explorar o labirinto da Economia Digital. Outras virão. Quais são seus fundamentos? Que ferramentas existem para nos ajudar? Quais são as boas práticas? O que ler e ouvir? Que resultados foram alcançados? O que aprendemos, desaprendemos e reaprenderemos? Como entrar nessa dança? Qual será o impacto da tecnologia no destino dos humanos e das abelhas?

Se sentir-se chamada(o), estarei aqui para ouvir, entender e multiplicar.

#somostera

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