O que os brasileiros pensam sobre o futuro do trabalho?

ReTrabalho é uma investigação inédita no Brasil e mostra que apesar de otimistas, estamos longe de entender a dimensão do impacto da tecnologia no mercado atual.

Leandro Herrera
Somos Tera
5 min readNov 14, 2018

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Enquanto escrevo este texto, smartphones com alta capacidade de processamento, conectividade a qualquer hora, armazenamento de dados em nuvem e inúmeros produtos e serviços acessíveis digitalmente, se combinam para nos colocar no limiar de uma nova fase — a da inteligência artificial, automação e ascensão de sistemas inteligentes.

O resultado, na perspectiva do consumidor, será a massiva personalização de experiências; na perspectiva dos negócios, a possibilidade de atender a nichos e necessidades antes impensáveis, a um custo muito baixo e com altíssimo potencial de escala.

Quando se trata do impacto da tecnologia no trabalho, a questão fica mais delicada.

Afinal, seremos capazes de ter uma vida produtiva num mundo em que máquinas e sistemas inteligentes provavelmente terão melhor desempenho do que nós em muitas das tarefas que realizamos hoje?

Nos últimos meses, mergulhei no universo do futuro do trabalho, buscando entender como os brasileiros estão encarando este tema.

O resultado é a pesquisa ReTrabalho, uma parceria entre Tera, Scoop&Co e ÉPOCA Negócios, que busca descobrir como o avanço da tecnologia em todas as camadas da sociedade está transformando a relação das pessoas com o trabalho; quais são as competências mais valorizadas nos profissionais do futuro; e como as empresas estão mudando a forma de trabalhar para atrair e reter talentos

O estudo completo você pode acessar aqui, e vale muito a pena ver a matéria incrível que a ÉPOCA Negócios fez sobre o tema na edição de Novembro.

Separei alguns destaques da pesquisa para comentar aqui:

A transformação digital já é amplamente percebida no mundo do trabalho, mas os profissionais são mais otimistas do que as empresas — que lutam pela sobrevivência.

A maioria das empresas (86%) e dos profissionais (85%) consultados afirmaram que o impacto da inovação tecnológica já afetou total ou parcialmente seu trabalho nos últimos cinco anos. Mais da metade das empresas (56%) afirma que as mudanças já afetaram totalmente o negócio.

Mas a forma como profissionais e empresas enxergam o futuro é bastante diferente. Enquanto 88% dos profissionais são otimistas em relação ao trabalho no futuro, 37% das empresas disseram que estão inseguras e têm dificuldade de administrar o processo de transição para o mundo que já chegou.

Outro fator importante a ser considerado é que mais da metade das empresas (54%) entende que desenvolver uma área digital é necessário para a sobrevivência da empresa.

Ou seja, para a maioria das organizações primeiro é sobreviver, para depois começar a sonhar.

A educação formal não é suficiente — e o valor percebido, por empresas e pessoas, é muito baixo

Até este momento, minha opinião sobre este item era absolutamente parcial, já que fundei a Tera exatamente em cima da premissa de que os modelos atuais de ensino não acompanharam a evolução da tecnologia no mercado de trabalho — e neste dois anos de vida, vi que muitos dos nossos mais de 1.000 estudantes os abandonaram ou optaram por modelos alternativos de educação para avançar em suas carreiras.

Agora temos dados para dizer que poucos profissionais vêm optando pela educação formal (graduação e pós-graduação) na busca de desenvolver suas capacidades digitais.

Dentre todas as opções listadas, fazer uma pós-graduação ou uma segunda pós estão no final da lista: menos de 20% optam por este caminho.

Sobre este tema, conversei com o pessoal do The Brief (se não conhece, nunca é tarde) e eles falaram sobre a pesquisa na edição de hoje. Este foi meu comentário:

“Por muito tempo, falar que você está estudando significava que você está fazendo uma pós ou um curso tradicional. Com a nossa necessidade de capacitação, que se movimenta super rápido, os modelos tradicionais perdem espaço. Então, cada profissional começa a traçar a sua própria forma de se diferenciar, decidir qual curso fazer, em que momento de vida. Acho que é uma mudança bem grande de paradigma”.

O fato de termos muito mais opções e caminhos possíveis para capacitação também representa um grande desafio — não existirá mais uma solução única que sirva para todos. Por isso, muitos estudos apontam que "estratégias de aprendizagem" será a principal competência a ser desenvolvida na próxima décadas. Teremos que aprender a aprender.

Precisamos de humanos para ensinar máquinas a serem mais inteligentes

É difícil uma conversa sobre estratégia, tecnologia, negócios e tendências não ter o termo inteligência artificial citado algumas vezes. A pesquisa deixa claro que ter um negócio powered by AI é um sonho que precisará de muitos humanos para se tornar realidade.

A maioria das empresas demanda profissionais com conhecimentos em Machine Learning (44.3%), Big Data e Ciência de Dados (51.4%), as duas competências mais citadas entre os respondentes.

E, além de treinar seus próprios colaboradores, 27% das companhias pretendem contratar mais de 50 profissionais com digital skills nos próximos dois anos. Dentre essas, 55% projetam recrutar mais de 200 novos colaboradores.

Com investimentos bilionários em empresas de tecnologia chegando no Brasil, a disputa por talentos está prestes a ficar ainda mais acirrada.

Nada será como antes, amanhã

Como fica claro no estudo, todos nós já estamos sendo impactados.

Para mim e para a Tera, mapear os futuros possíveis do trabalho e das organizações é fundamental para criar modelos de educação que possam dar oportunidade para milhões de pessoas.

Acredito realmente que quanto mais pessoas tiverem papel ativo nesta revolução sem precedentes, maiores as chances de termos um futuro em que a tecnologia seja utilizada para o bem — e que todos possam aproveitar seus benefícios sem que ninguém fique para trás.

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