Parça — Projeto de UX Design

Tamara Pinheiro
Somos Tera
Published in
9 min readJan 13, 2020

Saiba como uma solução construída com base nos princípios da Experiência do Usuário (UX) busca melhorar a experiência e aumentar a qualidade de vida dos entregadores de aplicativos que usam bicicleta.

Projeto em collab com Juliana Mazzo e Lucas Constantino para o Bootcamp em User Experience design na Tera
Texto: Tamara Pinheiro

O Desafio

O desafio nos foi passado pela instituição de cursos Tera, logo no segundo dia de aula nos foi apresentados 3 temas e para nossa alegria conseguimos pegar o tema que mais tínhamos nos familiarizado desde o início.

O número de alunos era grande e tiveram que formar dois grupos por tema, no mínimo.

Nós três então ficamos com o stakeholder ciclista e o outro grupo com as empresas de entregas.

O desafio inicial era: como melhorar a experiência e aumentar a qualidade de vida dos entregadores de aplicativos que usam bicicleta

As Pesquisas

Após receber o desafio foi a hora de entender melhor a vida do nosso usuário. Começamos com as pesquisas nas mídias.

“Existem mais de 30 Mil ciclistas em SP”

“Eles trabalham em média 12h por dia. 7 dias por semana”

“Salário médio R$ 1.000,00 por mês, livre.”

“75% tem entre 18 e 27 anos”

“Moram na periferia e pedalam cerca de 25 Km até o local que mais tem chamados nos APPs, só para começar a trabalhar”

Após essas constatações foi a hora de ir conhecer esses guerreiros de pertinho, hora da Pesquisa de guerrilha. Nosso primeiro ponto de encontro com eles foi na praça que fica ao lado da estação Brigadeiro Faria Lima do metrô. Depois fomos para Av. Paulista.

Identificávamos nossos usuários primeiramente pela mochila de entrega. Então, nos certificávamos que eles usavam a Bike pra fazer as entregas, e daí, começávamos a conversar.

  • Entrevistamos 20 pessoas.
  • 41% eram menores de idade.
  • Região em que moravam: Cotia, Perus, Mauá e Santo André.
  • Região que vinham trabalhar: Brigadeiro Faria Lima e Av. Paulista.
  • 25% perderam seus empregos regulares e 75% deixaram seus empregos para trabalhar como entregadores.
  • 60% viravam as noites de sexta para sábado e sábado para domingo, assim conseguiam ganhar quase o dobro da média.
  • 100% dos entrevistados já ajudaram um colega cilista ou precisaram de ajuda como: trocar pneu, remendar um furo ou apertar um parafuso.

Durante as entrevistas nós ouvimos algumas frases que nos marcaram muito como:

“Não tenho nenhum apoio da empresa que eu trabalho”

“Um dia minha bike quebrou e um cara que eu nem conhecia tava passando e me emprestou a bicicleta dele pra eu terminar a entrega”

Conversando com eles conseguimos sentir a dor que eles tinham por não ter a quem recorrer quando acontecia algo errado.

Eles trabalham por muito tempo, pedalando sem descanso e não tem com quem contar em uma momento difícil. Isso sem falar no perigo que correm todos os dias pedalando entre os carros e precisando parar para consultar um pedido na calçada. Podendo ter seu celular roubado, celular esse que é um material de trabalho.

As Personas

Criamos nosso mapa de Stakeholders, matriz CSD e nossas personas. E agora eu tenho o maior prazer em apresentá-las a você.

Nossa primeira persona é o Wesley que diz: “Eu sou meu próprio patrão”

Pensa em um menino gente boa. A gente apelidou ele de “Correria” porque ele disse varias vezes que estava nessas vida porque precisava fazer seus corres. (Uma figura rs)

Ele mora em Itaquera com a mãe, que vive preocupada com ele, principalmente, quando resolve virar as noites de sexta pra sábado. O rapaz ainda é novo, tem só 18 aninhos e estuda no horário da manhã. Então, sai da escola, vai para casa, almoça, pega a bike e vai pedalando até a região da Av. Paulista. Trabalha a tarde toda e a noite até umas 22h. Ai volta pra casa pedalando, dorme e vai de manhã pra escola.

O “Correria” trabalhava em uma loja de concertos de celulares. Pediu demissão para ser entregador. Estava cansado de trabalhar lá. Agora ganha mais do que na loja e sente orgulho em dizer que é seu próprio patrão.

O Wesley odeia o fato de não ter onde usar o banheiro. Muitas vezes está super apertado e o pessoal dos restaurantes ou postos de gasolina se recusam a deixa-lo usar.

Nossa segunda persona é o Rafael que diz: “Tenho que sustentar minha família”

Sabe aquele cara que fala com o maior orgulho da família que tem? Que curte falar dos filhos, ama a esposa e não deixa de cuidar da mãe mesmo tendo saído de casa? Esse é o Rafael. Nosso “Pai de Família”

O Rafa tem 30 anos, é casado e pai de 3 filhas lindas. Ele mora em Diadema com a esposa, na mesma rua que a mãe. Além de prover o sustento da família, junto com a esposa, ele ainda ajuda financeiramente a mãe que ainda não conseguiu se aposentar mesmo não tendo condições de trabalhar.

Trabalha de quarta e quinta 12h por dia, de sexta para sábado e sábado para domingo fica na rua direto para faturar mais. De segunda e terça ele não trabalha para poder tem um tempo com as filhas. Nestes dias, para ele, são os com menos movimento, por isso a escolha.

Nos dias de trabalho,sai bem cedo e vai de Diadema para Av. Paulista. Fica no cartão postal de São Paulo por 12h e só depois de ter batido sua meta financeira volta pra casa. As vezes está muito cansado e vai uma parte do trajeto de trem e metro. Mas quando não está muito cansado ou ainda não conseguiu bater as metas ele vai pedalando, assim não gasta dinheiro.

Ele não gosta de:

  • Não ter um lugar seguro para ficar, principalmente, quando está virando as noites;
  • Ser difícil encontrar banheiro para usar;
  • Não achar um lugar onde consiga comer por um valor justo;
  • Não conseguir um local para tomar um banho;
  • Não haver ciclofaixas o suficiente. Acha que sua vida seria mais segura se tivesse mais ciclofaixas;

Gente fina demais esses meninos né? Foi para pessoas como eles que começamos a pensar ainda mais em como ajudar os ciclistas entregadores. Cada papo que tínhamos durante as entrevistas nos dava mais vontade de fazer algo, de ser um cidadão ativo nessa causa.

Jornada do Usuário

A nossa jornada do usuário é assim:

Mas, na cabeça dos nossos usuários ela é assim:

Nesse emaranhado de trajetos acontece o que mais ouvimos deles, os PERRENGUES.

Perrengue foi uma palavra muito ouvida durante as entrevistas. Nós constatamos que realmente o que eles enfrentam no dia-a-dia são perrengues, não conseguimos usar outra palavra que seja mais fidedigna aos nossos usuários que essa.

Foi nesse momento que redefinimos o nosso desafio. Porque, agora nós já conhecíamos intimamente os nosso usuários, os seus desafios diários, suas metas, desejos, sonhos…

Desafio Reformulado

Como podemos solucionar os “perrengues” do cotidiano dos entregadores de bicicleta e, assim, melhorar sua qualidade de vida e de trabalho?

Solução Proposta

Foi nesse momento que surgiu o Parça.

O Parça é um APP onde os ciclista conseguem encontrar facilmente onde ir ao banheiro, conectar em um wi-fi grátis, onde tem um hospital próximo, borracheiro ou bicicletaria, bicicletário para guardar a bike e onde carregar o celular. Isso tudo através de filtros acessíveis a um toque.

Fora isso, ainda conta com os principais telefones de emergência, já setado, bastando clicar no botão para que o telefone disque o número dos bombeiros, da polícia, ou do SAMU.

E ainda tem uma área muito legal chamada “Ciclista Perto” onde o biker consegue pedir ajuda para um colega que esteja por perto. Para que o mesmo possa terminar sua entrega ou ajudar com um remendo de pneu.

E agora eu vou contar para vocês como foi o passo-a-passo para esse APP parceiro tomar forma.

“RabiscoFrame”

Bom, quem nunca fez um projeto de APP, saiba que o primeiro passo é pegar uma folha e colocar as suas ideias, literalmente no papel, com o auxilio de um lápis grafite, lápis de cor, canetinha, caneta ou qualquer coisa que risque. E quem já fez sabe com é.

Chamo esse passo de rabisco frame porque é bem isso que fazemos. Desenhamos tela por tela (Frame). Claro depois ainda muda muita coisa. Mais a base já está ali para consultarmos sempre.

Fluxo, Árvore, ou como queira chamar o projeto de HLD.

É um fluxo de projeto. Colocado o passo-a-passo de tudo que tem na leta. Botão por botão, para onde vai , o que faz e por ai vai. Pode também ser incluído ações de busca e destinos.

Wireframe

Após montar o fluxo passamos para o protótipo de baixa fidelidade. Nós optamos por fazer o nosso Wireframe através do MarvelApp. Foi dessa forma que usamos os frames para realizar nosso teste de usabilidade.

Teste de Usabilidade

Com o protótipo de baixa pronto, partimos para as ruas em busca de ciclistas entregadores. E pedíamos para que usassem as funcionalidades de filtro, e ligações de emergência. A parte dos ciclistas próximos foi feita apenas para saber se estava intuitiva, sendo assim só tinha a opção de pedir um “help” com pneu furado.

Protótipo de Alta Fidelidade

Depois dos teste percebemos que tinham algumas coisas para serem alteradas. Então, o fizemos no protótipo de alta.

Ficamos muito felizes em ver que 90% do projeito estava do jeito que atendia as necessidades dos nossos usuários. E que era unânime o comentário de “isso me ajudaria demais”.

Para montar nosso projeto de alta usamo o programa Adobe XD, pois era a opção mais viável para grupo. Mas, o mesmo poderia ter sido feito no Figma ou no Sketch sem problemas nenhum.

Usamos os grids de Android, porque durante as pesquisas vimos que todos os ciclistas que entrevistamos tinha um celular android.

Considerações Futuras

  • Mais utilidades no filtro como: hostel que tenha promoção para bikers.
  • Contador de quilometragem atrelado a benefícios de descontos em bicicletarias por km pedalado.
  • Adicionar cada vez mais locais de serviços como Postos de gasolinas e bicicleteira.
  • Adicionar um sistema de avaliação de serviço prestado, para que os usuários possam dizer se conseguiram concluir o que precisavam. Se não conseguir o estabelecimento pode ser descredenciado.

Vídeos do APP Funcionando

Usando a função filtro para achar coisas como Bicicletárias, banheiros e pontos de wi-fi free.
Usando o sistemas de filtro com um estabelecimento que tem descontos para usuários do APP Parça.
Usando a função de emergência no APP Parça.
Usando a função ciclista perto para pedir ajuda.
Usando a função ciclista peto para ajudar um amigo.

O que aprendi?

  • A entregar um projeto em formato sprint. Porque cada pedacinho que eu mostrei para vocês aqui era entregue ao final de uma aula. Trabalhamos freneticamente, mas sem correria. Aprendemos a gerenciar o tempo e entregar com qualidade.
  • Nada melhor que ouvir o usuário. Nosso projeto só teve esse resultado porque paramos para ouvir atentamente cada dor que os ciclistas nos traziam.
  • Testar sempre. Chega de achismos. Testar é a melhor solução para atender as necessidades dos nossos usuários. Ninguém melhor do que eles para nos mostrar o caminho a seguir.
  • Não desista das ideias. Por mais que pareça difícil, nada é impossível. Só se precisa criar uma forma para viabilizar.

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Tamara Pinheiro
Somos Tera

UX, Jornalista e estudante Neurociência e Comportamento.