Empreender é metade coração, metade estômago: o que aprendi após a 1ª Temporada na Troublemakers.

Andre Foresti
TroubleMakers
Published in
7 min readMar 12, 2019

Um relato bem pessoal do meu último ano com tudo que aprendi ao sair do emprego em agência e empreender na Troublemakers, até chegar no reframe total da empresa para 2019, nossa 2ª Temporada.

Como na Netflix, uma temporada não é medida em tempo. E sim em algo marcante que faz você entender que uma tensão se resolve e o contexto pede um novo elemento para a história.
Nos games também é assim, quando você mata o chefão e passa de fase.

Acho que a Troublemakers passou de fase.
E não tem a ver com sucesso ou fracasso.

Aqui, passamos de fase porque percebemos que, mesmo com 10 meses de atuação, algumas das nossas crenças/escolhas estavam ficando obsoletas e comoditizadas rapidamente.

O tal “futuro do trabalho” já é o presente do trabalho.
Todo mundo quer sprintar tudo e acha que o segredo tá aí.
Métodos ágeis é o novo normal. (Thanks God!)
Esse é o meio, não o core business.
Pensar. Imaginar. Criar. Resolver. Se jogar. Provocar.
Isso não envelhece. Isso é muito Trouble. Isso é a minha cara.

Sempre é tempo de atualizar coisas, ainda mais quando você vende mudança. Ficamos de dezembro a fevereiro mexendo em tudo.
Tudinho mesmo. Quem é próximo, sabe.

Sabe quando você planeja uma viagem, com roteiro de tudo mas ao chegar no lugar acontece diferente?
Pois é. A vida tem dessas e uma empresa também.
A famosa frase do Tyson:
“Todo mundo tem um plano até tomar o primeiro soco na cara.”
Fiz muita coisa do que imaginei, mas a coisa é bem mais orgânica e líquida que isso. Não está 100% no nosso controle.

A grande lição é que não importa o que os livros e biografias de empreendedorismo digam, você vai sentir na pele o peso de empreender.

Quando me perguntam o que mais aprendi nessa nova atuação, repito sem dúvida que foi o fato de que empreender é metade coração, metade estômago.

Você precisa acreditar, se apaixonar, dar tudo pela empresa, pelo projeto. Mas mesmo assim, coisas ruins acontecem todos os dias, frustrações naturais. E aí não tem jeito, pois logo em seguida vem um novo dia, nova reunião, novas pessoas e você tem que estar lá ótimo, acreditando e dando seu máximo.
Pra ser sincero, talvez empreender seja isso: ir pra casa e voltar pilhado amanhã, independente do que aconteça.

É sobre começar de novo no dia seguinte.
Mas o mais importante: lembrar todos os dias PQ você tá fazendo aquilo.
No caso da Troublemakers, eu queria uma empresa que pudesse fazer uma das coisas que mais me move: a paixão de ajudar a mover as coisas. Sempre fiz isso naturalmente, com todas as pessoas e empresas que cruzaram meu caminho. Sempre uma provocação, um questionamento, um "e pq não?".
Então quando tudo parece difícil, lembro o nosso "why" (golden circle) que é existir para mudar realidades para melhor. Todos os dias.

Bom, como já coloquei nas minhas redes, em março completamos 10 meses na Troublemakers. Foi o tempo que eu reservei para entender o que tinha na mão. Sabe piloto? Isso.
Experimentar, não se cobrar, não ter metas de vendas, não prospectar.
Fazer, aprender, sentir, testar.

Nessa caminhada, participamos de eventos bem legais como o Share Talks, o HackTown e a Semana de Inovação do Bradesco/InovaBra.
Realizamos um projeto lindo de ativismo para a Ben & Jerry’s em parceria com a Revista Trip. Estivemos num projeto inspirador com os geniais empreendedores e artistas da La Baraque, tentando achar caminhos em como aproximar o mundo da arte do mundo das marcas. Ajudamos a Sodexo a pensar em como se atualizar no competitivo mercado de benefícios. Estamos também fazendo 3 jobs pro bono, pela causa.

Nem tudo foram flores, também perdemos muitas propostas.
Para todo tipo de empresa e escopo.
Surpreendentemente, você compete com pessoas que não fazem o que você faz. Chamam a gente pra processos inteiros de consultoria e contratam um freela de redação pra fazer uma campanha. Chamam a gente pra pensar o escopo que não fazem ideia, e mandam o escopo para empresas porque precisam 3 orçamentos. Aquelas coisas do jogo que um planner, como eu, nunca viu de perto. Real life.

Foram 10 meses coletando coisas e apertando os parafusos pra chegar no dia de hoje e começar a 2ª Temporada. Apertem os cintos.

Tive que mexer em coisas simples como a nossa proposta comercial, só pra dar um exemplo. A gente gastava umas 15 horas de trabalho para pensar em tudo (no problema, no cenário, endereçar provocações, método, custo de tudo) e os clientes muitas vezes gastavam 5 minutos para declinar. É do jogo. Mas precisei rever o meu investimento de tempo.

Mudei o jeito que contrato e plugo pessoas pra trabalhar com a gente.
Menos sobre skills e mais sobre cultura, pegada, identificação com nossa proposta de valor, de ser, de agir.

30% técnica, 70% espírito de quem se envolve, se importa e quer encarar o desafio.

Ah, também aprendi a entender e detectar patamar de investimentos que clientes querem/podem trabalhar, para não termos refação de formatação e também não gastarmos o tempo deles à toa.
Sabe o famoso: “se ficar legal a gente arruma a verba”. Entrei em alguns.
É fria. Rá! Mas aprendi.

Também tive que retomar a “velha” técnica de minutagem que minha coach me ensinou anos atrás e ajuda, em meio ao caos, a não deixar pra lá atividades que parecem secundárias mas que são o core da empresa: estudar, pesquisar métodos, se atualizar do futuro.

Soube atender todo mundo (adoro isso) e surtei que não consigo fazer tudo que precisamos (odeio). Pegar e desapegar.
Revi beliefs pra ser uma empresa legal pra caramba pra todos, pro mercado, pra dar exemplo desde o começo. Não abro mão disso, por mais tentador que seja (até perdemos um job por isso).

Mexemos em muitas coisas mesmo. Mas entre elas, três são bem significativas:

1. Definir bem o que somos: studio de desconforto

Se pensarmos bem, somos uma empresa de processamento estratégico-criativo que transforma dilemas em ideias concretas. Qualquer ideia, até de comunicação. Mas o mercado precisa colocar a gente em caixinhas. Vocês são uma agência? Você é um facilitador? Desde o final do ano passado definimos que somos um studio de desconforto (inovação).
Então somos tipo uma consultoria, mas adaptada aos novos tempos. Pegamos os principais códigos velhos delas e atualizamos para os novos tempos (mais ágil, humana, justa, coletiva, tangível). Chamamos isso de smart consulting.

2. Back to Basics: uma empresa de chacoalhão.

Muitas vezes, por verem a gente fazendo as dinâmicas de cocriação, nos rotulam de facilitadores de sprint ou métodos ágeis. Não somos.
Mas qual a diferença? A gente entra na briga e está comprometido com a resposta, solução, ideia e resolver o problema mesmo.
Trabalho há 18 anos com comportamento de consumidor, estratégia, criatividade, inovação para as maiores marcas do Brasil. Eu realmente não seria feliz simplesmente aplicando métodos dos livros por aí. Somos mais uma tropa de elite, que encara o problema do cliente, do que condutores de workshop (nada contra eles, aliás. Quando nego um trabalho até tento fazer pontes com pessoas incríveis que fazem isso). Só não é pra gente.

3. Um método exclusivo: Discomfort Journey

Apesar de amar os momentos de cocriação e sprints, fui sentindo com o tempo uma importância igual para o antes e o depois. O que me levou a resgatar várias coisas que fiz e aprendi na carreira de planner pra desenvolver um método mais completo de trabalho. Onde temos um momento de cocriação ágil sim, mas não é o segredo do sucesso.
O desconforto é uma jornada completa que vai oferecer mais inteligência, proximidade, curadoria, coragem, provocação, compromisso e até mesmo mais cocriação e agilidade.
Eu amo os métodos ágeis e eles serão sempre o jeito que fazemos. Mas não mais que isso: o jeito que fazemos. E não o que somos.

Tem muitas outras novidades: nova estratégia de conteúdo, novos produtos, mais pessoas disponíveis na nossa rede, projetos especiais para agências, programa de rebrand/ux para startups, 3 eventos mensais (2 gratuitos) na WeWork, onde fica a Troublemakers… etc.

Aliás, dia 28 de março vai rolar o primeiro Meetup, sessão aberta na WeWork onde vamos apresentar a Troublemakers pra quem está curioso e quer vir entender e perguntar coisas sobre a empresa. (fiquem ligados!)

Quando penso no que temos que fazer, dá desepero que estamos sempre atrasados e fazendo menos do que eu gostaria.
Quando olho o que fizemos, vejo que um ano atrás era tudo um papel.
Fizemos.

Pra fechar, obrigado a todos que incentivaram e suportaram a Trouble.
Suportem os projetos das pessoas que vocês gostam e respeitam.
Por menor que seja seu incentivo, ele faz toda diferença na vida de quem empreende. E você pode ajudar de muitos jeitos. ❤

Começou a 2ª Temporada.
Que a gente seja feliz e tenha que mudar tudo de novo.

@andreforesti @somostroublemakers

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