Protocolos dos Sábios do Sião: Símbolo do Antissemitismo e da Mistificação

Sonia Bloomfield
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3 min readAug 2, 2022

O livro apócrifo, Protocolos dos Sábios do Sião é uma fraude feita na Rússia pela Okhrana (polícia secreta do Czar Nicolau II), que culpa os judeus pelos males do país.

Protocolos dos Sábios de Sion, sob a forma como são conhecidos atualmente, é um panfleto baseado em um texto escrito pelo sátiro francês Maurice Joly, em 1864, intitulado Diálogos no inferno entre Maquiavel e Montesquieu. Seu objetivo era atacar Napoleão III e não fazia nenhuma referência aos judeus.
Trinta anos mais tarde, o texto de Joly foi plagiado e modificado por um oficial da polícia secreta russa, a Okhrana. Num esforço para desacreditar a luta pelos direitos civis e pela justiça social, compôs os famosos Protocolos dos Sábios de Sion, divulgando supostas minutas de um governo secreto judaico mundial.

Neste texto, os anciãos judeus faziam supostamente uma análise do seu domínio cada vez maior sobre a economia européia, seu controle e manipulação da imprensa, de todos os partidos políticos de oposição ao regime czarista e outros governos autocráticos.

O panfleto foi publicado pela primeira vez na Rússia czarista, em 1905, por um pastor ortodoxo, Sergius Nilus, e era parte de uma campanha anti-semita inspirada pela polícia secreta russa, que acompanhou os pogroms daquele ano.

Os Protocolos não foram aceitos em larga escala como autênticos antes da Primeira Guerra Mundial, quando começaram a ter um importante papel na propaganda anti-semita, dando consistência a uma contraditória colagem de acusações contra os judeus e transformando-se em uma potente arma ideológica.

Trazidos para a Alemanha por emigrantes russos a partir de 1917, ganharam considerável crédito. Apesar das provas conclusivas de que eram uma farsa grosseira, conseguiram sensacional popularidade nas décadas de 20 e 30. Foram traduzidos para vários idiomas na Europa e amplamente vendidos nos países árabes, Inglaterra e Estados Unidos, onde Henry Ford, o famoso fabricante de automóveis, divulgou seu conteúdo através do jornal anti-semita The Dear Born Independent.

Foi na Alemanha, no entanto, após 1918, que obtiveram maior sucesso, sendo usados para explicar todos os desastres que atingiram o país: a derrota na guerra, a fome e a inflação. Cerca de 120 mil cópias foram vendidas em todo o país, em 1920. Hitler leu os Protocolos e os citou em Mein Kampf, dizendo: “O que muitos judeus podem fazer inconscientemente está aqui conscientemente exposto”.

Em seu livro O Holocausto, a destruição do judaísmo europeu 1933–1945, Nora Levin afirma, no entanto, que, se Hitler insistia em dizer que a suposta teoria da conspiração judaica mundial era verdadeira, o líder nazista Erich von dem Bach-Zelewsky admitia que não havia nada de real na chamada “ameaça judaica”. Levin cita as próprias palavras de Bach-Zelewsky:
“Eu sou a única testemunha viva, mas devo dizer a verdade. Apesar da opinião contrária dos nacionais-socialistas, de que os judeus eram um grupo altamente organizado, o fato real era que eles não tinham nenhum tipo de organização. As massas judaicas foram pegas completamente de surpresa.

Elas não sabiam o que fazer; não possuíam nenhuma diretriz sobre como deveriam agir. Esta é a maior mentira do anti-semitismo porque originou a mentira do velho slogan de que eles estariam conspirando para dominar o mundo. Na verdade, não possuíam organização própria, nem serviço de informação. Se tivessem algum tipo de organização, essas pessoas poderiam ter salvo milhões de seres humanos, mas, ao invés disso, foram surpreendidas. Jamais um povo esteve tão desprevenido em relação ao seu próprio desastre. Nada fora preparado. Absolutamente nada”.

Apesar das provas de sua falsidade, cópias de Protocolos dos Sábios de Sion continuaram circulando através das décadas. Em 1937, foi lançada uma edição no Brasil, por Gustavo Barroso. Cinqüenta anos depois, em 1987, o Japão lançou o livro Técnicas efetivas para ler nas entrelinhas dos Protocolos Judaicos, alertando contra a iminente ameaça de um golpe mundial judaico.

Bibliografia:
Levin, Nora, O Holocausto: A destruição do judaísmo europeu 1933–1945
Teluskhin, Joseph, Jewish Literacy

Autor: SERGIO CAMPREGHER

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