Sexo casual também é relacionamento

Ana Paula Fernandes
3 min readDec 7, 2018

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Artes de Marie Boiseau

Se sexo fosse lidado como relacionamento e não como uma pulsão irracional, um instinto que não se controla e que deve ser hierarquizado, muitas coisas iriam melhorar drasticamente (principalmente para mulheres).

Quando eu falo de sexo + relacionamento, as pessoas entendem que estou querendo unir laços eternos só pra fazer sexo, ou que temos que esperar ter sentimentos profundos ou até mesmo amor. Mas nem de longe é isso. Pensar assim ainda é pensar monogamicamente, aonde uma relação é um laço de eternidade e amor eterno.

Não é!

A gente vive em uma sociedade onde a liberdade sexual de mulheres cis e pessoas trans é demonizada. A liberdade sexual do homem cis é protegida e hierarquizada, todas as outras pessoas não tem esse direito. Então, temos duas forças hierarquizando o sexo: a liberdade sexual dos homens cis que já existia, e a liberdade sexual das mulheres cis e pessoas trans, que foi e ainda é muito demonizada.

O feminismo veio com muita força para com esse tema, hierarquizando ele de tal forma que liberdade sexual das mulheres cis se tornou um contra mito da demonização sexual das mulheres cis. E isso é muito problemático porque é trocar 6 por meia dúzia. É querer lidar com o sexo da mesma forma escrota que o homens cis lidam. É largar a responsabilidade afetiva em prol da liberdade abusiva e opressora.

E responsabilidade afetiva nada mais é que a incrível arte de não ser babaca.

Como disse a Julia Maciel no texto sobre Responsabilidade afetiva.

Só que o problema é que sexo não é visto como um relacionamento, e sim como uma necessidade incontrolável do corpo como mijar e cagar, sendo que essas duas se fazem sozinhas e sexo se faz com duas ou mais pessoas.

Mas precisamos primeiro definir o que é uma relação

O relacionamento entre pessoas é a forma como eles se tratam e se comunicam.

Essa é a primeira definição da Wikipédia. E a palavra comunicação não está ali atoa. Se tem comunicação tem relação. E é nesse ponto que entra o desespero de muita gente, porque nisso aparece a pergunta:

- Ah, então eu tenho que ter responsabilidade afetiva com qualquer pessoa que eu me comunico?

Tem!

Hierarquizar quem pode ter o privilégio da sua responsabilidade afetiva é desumanizar quem você nega isso.

E vou repetir:

Responsabilidade afetiva nada mais é que a incrível arte de não ser babaca.

Só que é muito difícil não ser babaca. Todo dia a gente tem que desconstruir esse hábito de naturalizar babaquices, e diminuir cada vez mais as nossas toxidades, tanto com os outros quanto com nós mesmos.

Obs: Pessoas trans vivenciam o sexo de forma diferente das pessoas cis e não cabe a mim, pessoa cis, falar por essas pessoas. Busquem textos de pessoas trans. Elas vem falando cada vez mais sobre isso.

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