Sobre ser Demissexual e ter escolhido a Não Monogamia

Ana Paula Fernandes
3 min readJan 29, 2020

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Arte de Xaviera López

Eu quase não falo sobre sexo e sexualidade nos meus textos. Não diretamente. Falar sobre sexo para mim ainda não é totalmente confortável. Eu fui muito abusada e estuprada durante quase toda a vida. Depois que comecei a ler sobre machismo eu me bloqueei. Caiu a ficha das tantas vezes que fui abusada e estuprada e não sabia, porque naturalizei (até porque se eu não naturalizasse o machismo não existiria), e ainda não é confortável escrever e falar sobre isso de forma mais extensa.

Só que fiz um post no Facebook sobre ser demissexual e escolher a não monogamia, e tive um retorno positivo de algumas outras pessoas demi que se sentiam da mesma forma mas não viam quase ninguém falar sobre.

Então eu resolvi colocar o post que escrevi no Facebook, com algumas adições. Não vai ser um texto muito extenso, porque como já falei, ainda não é um assunto que me sinto confortável de falar, por enquanto.

Eu demorei muito para aceitar minha demissexualidade

A sociedade dita que e a gente tem que transar sem sentimentos, e quem não consegue fazer isso é moralista. Feminismo liberal está aí para não me deixar mentir. No texto que escrevi sobre sexo casual também ser relacionamento, eu falei:

O feminismo veio com muita força para com esse tema, hierarquizando ele de tal forma que liberdade sexual das mulheres se tornou um contra mito da demonização sexual feminina. E isso é muito problemático porque é trocar 6 por meia dúzia. É querer lidar com o sexo da mesma forma escrota que o homens lidam. É largar a responsabilidade afetiva em prol da liberdade abusiva e opressora.

Nos grupos de não monogamia e poliamor

se fala muito sobre a liberdade. Liberdade sexual obviamente. Ela é super hierarquizada no rolê não mono. Se você não faz muito sexo com muitas pessoas sem envolvimento, sua não monogamia é colocada em quarentena até você transar com 5 pessoas diferentes em 1 mês. Claro que estou exagerando um pouco, mas é assim que eu me sinto.

Aceitar minha demissexualidade foi um ato individual, mas também político.

O texto Sexo casual também é relacionamento

pode parecer que foi escrito só para pessoas demissexuais. Só que não foi não. Ele foi escrito pensando em como estamos lidando com relações em geral, e como isso afeta tudo, inclusive o sexo.

La eu falei:

Se tem comunicação tem relação. E é nesse ponto que entra o desespero de muita gente, porque nisso aparece a pergunta:

- Ah, então eu tenho que ter responsabilidade afetiva com qualquer pessoa que eu me comunico?

TEM!

Hierarquizar quem pode ter o privilégio da sua responsabilidade afetiva é desumanizar quem você nega isso.

Vou deixar aqui alguns textos e vídeos que abordam esse assunto:

Texto de Raíssa Grimm Cabral: (sobre demissexualidade — umas viagens)

https://www.facebook.com/lesbikaos/posts/806012686465463

Indicação de leitura sobre Não Monogamia:

Textos de Dandara Abreu, Geni Núñez, eu e o livro “O desafio poliamoroso: por uma nova política dos afetos” de Brigitte Vasallo.

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