Coisas estranhas acontecem sem explicação

Pier
Sou de Fora
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4 min readOct 30, 2017

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N o quarto escuro de uma criança, uma porta aberta no armário pode estimular a curiosidade e dar pano pra manga a muita imaginação. Um estranho movimento feito fora de hora estica um cobertor até a ponta dos pés e uma cama com espaço pra se esconder embaixo pode dar fim a uma noite de sono.

Quando você não está no seu país nativo, as coisas parecem até duas vezes mais estranhas, mesmo no Canadá, onde ser estranho é maneiro e ninguém te julga por isso. Respire fundo e não olhe pra trás.

De acordo com a sobrevivência de um estrangeiro, o sentimento de ainda não pertencer a uma cultura naturalmente desperta o meu senso de alerta. Algo comum que me vem a cabeça são os sustos que eu sempre tomo enquanto estou caminhando no meio da rua e sou pego de surpresa por um por um esquilo correndo em zigue-zague nos troncos das árvores. O susto aparece na hora em que estamos atentos a outras coisas. Inclusive os que falam sozinho no metrô e permanecem andando entre o início e o fim do vagão em movimento no até parar para sentar ao seu lado. Tão comum quanto flagrar animais domésticos em ambientes públicos é ver pessoas com algum tipo de transtorno mental como parte do dia a dia. O que nunca fez parte do nosso cotidiano parece uma mão cheia de balas e doces oferecidos por um estranho.

Coisas estranhas começaram a acontecer quando eu fui pela primeira vez no Tim Hortons e uma família na mesa ao lado estava bebendo café enquanto comia um sanduíche de almôndegas na hora do almoço (Percebeu? Café e sanduíche nanani-nanão).

Outra vez foi quando eu voltava pra casa com o cansaço acumulado da semana de provas e os holofotes laterais da casa onde moro estavam acesos. Foi aí que vi um grande Racoon surgir do meio das latas de lixo e acordei praticamente todo o subúrbio. Parecia uma boa hora para pesquisar sobre racoons no google com a lanterna acesa do celular e suor frio no pescoço.

Noutra vez entrei num ônibus parado em frente a um ponto de ônibus. Como estava vazio, sentei no banco de trás e coloquei os fones de ouvidos. Fiquei assustado depois de encostar a cabeça na janela e perceber que as casas ao arredor estavam com as luzes apagadas. Era madrugada e eu estava pegando um Night Bus (rota de ônibus 24h daqui). Não sabia se descia para pegar outro porque já tinha colocado as moedas na caixa. Eu fui até a porta da frente e vi um bolo de tíquetes presos por uma liga no banco do motorista. Quando finalmente saí do ônibus eu vi escrito em maiúsculas no painel “NOT IN SERVICE” (fora de serviço) com os faróis piscando numa parada de ônibus distante de qualquer cafeteria.

Coisas estranhas seguem a gente durante todo o percurso de volta pra casa até aparecer de surpresa. Nessa época do ano, com os dias contados para o Halloween, agente encontra abóboras assustadoras, túmulos no quintal da frente, membros corporais jogados na grama e aranhas monstruosas descendo pelas teias, mas uma coisa é mais estranha do que todas as coisas estranhas juntas: Stranger Things. Nem a casa pela metade compete no mesmo nível.

Imagina um grupo de 4 amigos, pré-adolescentes que se juntam num basement para jogar seus jogos favoritos de RPG, testar experiências fora do laboratório e mostrar afinidades por ficção científica até, numa reviravolta, serem obrigados a deixar a brincadeira de lado depois de surgir uma estranha garotinha que aparece na cozinha de um restaurante para comer com um cabelo raspado e origens desconhecidas, desacompanhada dos pais.

São duas temporadas para você não se sentir um estranho sozinho.

A série Strangers Things é basicamente isso: Esses momentos de criança que demoram pra chegar na fase adulta. O frio na barriga de um dia de prova não é nada comparado aos mistérios que estão fora do portão da escola e começam com os pedalos de uma bicicleta. Nessa estética de saudade e nostalgia pura, com músicas antigas e até o velho formato de se fazer um filme (parece filme), a série resgata o melhor da década de 80 registrada na eternidade das fitas de videoteipe (VHS), criadas para gravar, durar e nunca mais esquecer. Esse remake cai bem numa pipoca que molha os dedos de manteiga e suspense.

Lembre-se não gire o disco da Xuxa ao contrário ou Ilari lari lari ê ô ô ô.

Estranhamente,
Mateus

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Pier
Sou de Fora

Escrevo para correr nu no meu próprio mundo, fora da área de cobertura.