Hot Fuss — Vinte anos que fomos apresentados ao som do The Killers

Graci Paciência
souldorock
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4 min readJun 7, 2024

São vinte anos do lançamento de Hot Fuss, primeiro álbum de estúdio da
banda The Killers, e você poderia ouvi-lo hoje pela primeira vez que eu
tenho certeza de que se apaixonaria como se ele tivesse sido lançado
ontem. Não sem motivo, é claro, afinal, boa parte do rock que amamos e
conhecemos hoje, principalmente se estivermos falando de rock indie,
não seria do jeito que é se Hot Fuss não tivesse sido lançado 20 anos atrás.
Não, os The Killers não inventaram a roda; bebendo da fonte dos anos 80,
a formação inicial da banda (Brandon Flowers, Mark Stoermer, Dave
Keuning e Ronnie Vannucci) queria usar o melhor que o rock dessa época
tinha para oferecer para criar algo original e épico. Esse desejo pode soar
ambicioso, eu sei, mas o que esperar de uma banda que nasceu em Las
Vegas?
Dessa mistura, veio o lançamento de Hot Fuss e de dois dos seus maiores
hits, “Mr. Brightside” e “Somebody Told Me”, músicas que, se você não
ouviu por conta das inúmeras vezes em que elas tocaram na rádio ou
tiveram seus clipes transmitidos na MTV, era porque estava escondido em
uma caverna tirando um tempo para si mesmo. Essas são músicas tão
onipresentes que, em conversas sobre os The Killers, é comum que
pessoas que nem acompanham a banda afirmem que gostam de pelo
menos alguma delas. Ou das duas.
Hot Fuss trouxe sintetizadores à tradicional composição de guitarra, baixo
e bateria e acabou refrescando as coisas no início dos anos 2000, tudo
graças a uma das grandes inspirações da banda: o New Order, que
inclusive tem sua parcela de culpa no porquê de os The Killers se
chamarem assim (história para outra hora). Essa junção embala melodias
marcantes como as de “Mr. Brightside” e “Somebody Told Me”, mas
também acompanha letras que falam de amor, de rejeição, de melancolia,
de motivação e até de assassinato.
Não, você não leu errado. “Jenny Was a Friend of Mine” abre o álbum
contando uma crime story onde o acusado do assassinato de Jenny tenta
convencer um detetive incrédulo de que ele não poderia ter cometido o
crime, uma vez que Jenny era sua amiga. “Jenny Was a Friend of Mine” faz
parte da “Murder Trilogy” dos The Killers, história que é contada em três
composições, incluindo a dançante “Midnight Show”, que também faz
parte do álbum, e “Leave The Borboun on the Shelf”, que foi lançada
posteriormente no álbum Sawdust (2007) junto com várias outras b-sides (incluindo uma regravação muito classuda de “Glamorous Indie Rock & Roll”, que era originalmente parte da versão Deluxe do Hot Fuss e soava
como se tivesse sido gravada no fundo da garagem de um dos membros
da banda. Sim, o álbum também passa essa impressão. É lindo).
Hot Fuss é a síntese do como os The Killers queriam se apresentar para o
mundo e de como são reconhecidos até hoje. É claro que essa estética de
Las Vegas os acompanha aonde quer que eles vão, mas, quando pensamos
em The Killers, pensamos também em um rock melódico que toca fundo
na alma e/ou nos faz querer dançar. Pensamos na melancolia e na tristeza
de músicas mais lentas, que falam sobre as dores do amor ou da vida no
geral, mas, acima de tudo, pensamos em produções feitas para envolver e
marcar.
Basta ir a um de seus shows para constatar isso — e para a nossa sorte os
The Killers gostam muito de vir ao Brasil. Eu mesmo, apesar de ser um fã
de longa data da banda, demorei para ir a um show deles e, talvez por
isso, nunca cheguei a pensar nas suas músicas como épicos que pudessem
fazer um público gigantesco pular e gritar em puro êxtase — ou se unir em
um coro estrondoso de “I got soul, but I’m not a soldier” durante a
exibição de “All These Things That I’ve Done”. Eu me surpreendi. Não
bastasse os membros da banda terem uma ótima presença de palco, suas
músicas, quando cantadas para multidões, soam como se tivessem sido
criadas para isso desde o início. Será que era nisso que Brandon, Mark,
Dave e Ronnie pensavam quando se juntaram para compor o Hot Fuss?
Difícil saber.
Fato é que o Hot Fuss precisa ser celebrado. Vinte anos atrás, os The Killers
entraram na indústria fonográfica com o melhor pé direito que eles
poderiam oferecer e acabaram ditando regra: basta prestar atenção nas
bandas que fizeram sucesso na mesma época, como o Panic! At the Disco
ou o Kaiser Chiefs, que deliberadamente se valeram das qualidades dos
The Killers para criar algo próprio. Rock dançante? O Hot Fuss tem.
Nostalgia? Ele tem também. Hits atemporais? Bem, nem preciso voltar a
mencionar, né?
Mas, acima de tudo, o que o Hot Fuss tem são clássicos! Dê uma chance
ao álbum e você vai entender do que estou falando.

Quando não está ouvindo ou falando sobre música, Rennan Oliveira pode ser encontrado hiperventilando por conta de jogos e livros em seu perfil pessoal (@mr_reedies) ou por conta de drag queens em seu perfil dedicado (@untuck3d_). Em ambos os casos, talvez esteja ouvindo música também.

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Graci Paciência
souldorock

Gosto terror e rock. Autora de "Confissões de uma Adolescente Grávida" e host do podcast Soul do Rock. Twitter: @gratona_ https://medium.com/@cronicasdagraci