Cadê a notícia que estava aqui?

Bruno Viterbo
SP Norte

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O editorial do Jornal SP Norte, dedicado à opinião do jornal sobre temas de interesse da Zona Norte, de São Paulo e, eventualmente, do país, também gosta de destinar — e suscitar debates — a respeito do próprio jornalismo. Em várias oportunidades, o espaço destacou as mudanças que afetam a profissão e o modo como nos relacionamos com a notícia — e como elas chegam até o leitor.

As transformações, em quaisquer áreas, trazem consigo uma série de “poréns”. Carregam, também, rupturas. Transformações significam, por vezes, terremotos. A Revolução Industrial mudou as relações de trabalho: foram tempos tenebrosos, o homem dando lugar à máquina, o temor pelo futuro. Assim é com o jornalismo. Temos à mão — seja o papel impresso, seja o smartphone — “zilhares” de notícias. Elas estão à solta, a todo momento, nas conversas, nos feeds, nas telas. Nunca se leu tanto, ainda que possa parecer o contrário. (P.S.: o SP Norte, na web, teve um crescimento de 150%, quando comparado o período de janeiro a outubro de 2016 e 2017).

Mas, mesmo com resultados expressivos, as transformações do jornalismo digital se fazem sentir. Talvez, não tanto em uma redação enxuta como a de um jornal regional, mas as mudanças estão fazendo os grandes veículos ficarem com o cabelo em pé — e, em muitos casos, fazendo crescer o número de desempregados…

Nesse contexto, surgem alternativas mil para que o modelo de negócio jornalístico seja viável. Grandes jornais passaram a cobrar pela visualização de notícias, o chamado paywall. Enquanto fora do Brasil este modelo é relativamente bem-sucedido, por aqui as coisas mudam de figura: as pessoas não querem pagar pela notícia vista na web. Um contrassenso, já que o jornal impresso é pago. Ainda não temos desapego pelas coisas materiais…

Agora, o paywall também pode “invadir” o reduto de muitos acreditam ser um mar de informações: o Facebook. A rede social divulgou nesta semana que está realizando experiências com jornais europeus e americanos, seguindo a cartilha do modelo pago, mas utilizando o ecossistema do Facebook.

O recurso de assinatura terá 100% do valor da receita destinada aos veículos. A rede social afirma que quer “entender as necessidades e objetivos” dos jornais, “colaborando mais de perto no desenvolvimento de novos produtos”. O brasileiro, ávido por querer aparecer, comentar, compartilhar, aceitaria esse modelo? Ou, apenas, partiria para outra opção?

Ao mesmo tempo em que a rede social configura-se cada vez mais como empresa de mídia — ainda que “parceira” –, outras experiências são realizadas na contramão do digital: no Brasil, o jornal paranaense Gazeta do Povo acabou com sua versão impressa diária, focou investimentos no digital e manteve uma edição em papel semanal, com reportagens mais aprofundadas e material de melhor qualidade. Já o site jornalístico peruano Ojo Público, dedicado às reportagens investigativas, lançou a versão impressa El Tercer Ojo, com as matérias de investigação mais relevantes. O objetivo é “alcançar novas audiências”. Um caminho aparentemente contrário ao senso comum, de que o impresso vai acabar ou algo do tipo.

Em tempos de transformações, turbulências são comuns. E zigue-zagues, também.

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Bruno Viterbo
SP Norte

Redator, às vezes fotógrafo (como na foto ao lado) e às vezes jornalista. Mas sempre encontrando tempo para assistir alguma coisa (boa) na TV.