Editorial | Enfrentar a ignorância com informação
por Bruno Viterbo
Também publicado no site do SP Norte, em março de 2018
A frase que intitula nosso editorial é extraída de outro editorial, da revista Galileu, publicado na edição de outubro de 2017.
Nos últimos dias, o Facebook está enfrentando uma avalanche: um escândalo colocou em risco a credibilidade da rede de Mark Zuckerberg; as ações na bolsa de valores americana despencaram; usuários criaram a #deletefacebook.
Nos últimos meses, a mídia — inclusive nós, em menor grau — está em uma “cruzada” contra as notícias falsas (em nome do bom português, não usaremos o termo fake news). Em um dos casos mais chamativos, a Folha de S.Paulo parou de publicar notícias em sua página oficial na rede de Zuck.
O Facebook é acusado de não apagar dados de aproximadamente 50 milhões de usuários, os quais foram obtidos pela Cambridge Analytica, empresa de dados acionada para a campanha presidencial de Donald Trump. A empresa obteve esses dados, cruzou informações e, assim, conseguiu definir, de certa forma, a corrida eleitoral americana.
A questão é: qual é o tipo de controle que o Facebook tem de nossos dados? Alguns nós concedemos, afinal a rede muitas vezes pergunta se ela mesma ou outros aplicativos relacionados podem usar dados, como lista de amigos, contatos, fotos e postagens. Mas, e quando não sabemos que nossos milhares de bits e bytes estão rodando por aí sem que nós tenhamos autorizado?
Além disso, a rede do “f” azul também coleta dados de ligações e mensagens de texto de usuários de celulares Android. Ou seja, milhões (bilhões?) de pessoas. Até mesmo a duração das chamadas é contabilizada. A rede alega “encontrar mais facilmente as pessoas com quem você deseja se conectar”. Você provavelmente não sabia disso, mas concedeu acesso.
Em meio a tudo isso, os usuários foram expostos a todo tipo de material. Notícias falsas compartilhadas dão margem a toda sorte de arbitrariedades: da simples discussão, à separação, à polarização e, de maneira abominável, tentativas de assassinato.
Chega a ser curioso que a grande mídia brasileira, também afeita a inúmeros erros e disseminação de notícias falsas — uns por maldade, outros por mera obrigação de rapidez em publicar a notícia na web; os likes precisam chegar rápido — tem publicado igualmente inúmeras capas e reportagens sobre o tema. Antes tão dependentes do Face, hoje o renegam. O caldo entornou. Mais curioso: o posicionamento oficial do Facebook foi divulgado em jornais da grande mídia dos Estados Unidos e Inglaterra. Jornais impressos.
Em suma, é a batalha da e pela informação. De milhares, de bilhões de informações. Perdida? Perdida no sentido de confusa. Derrotada? Não. Ainda. Cabe a todas as partes envolvidas — os jornalistas, os veículos, os leitores — criarem um vínculo que estabeleça aquilo que é mais precioso a todas essas partes: a confiança. E esta só é obtida quando a ignorância — e, nesses nossos tempos sombrios, o ódio — é combatida com informação de qualidade.